Restrição na Indonésia pode encarecer cosméticos e muitos itens da despensa; entenda
País do sudeste asiático começará a restringir exportações de óleo de palma para garantir abastecimento interno


A Indonésia começará a restringir as exportações de óleo de palma nesta semana, uma medida que pode piorar a crise global de alimentos e elevar os preços de centenas de produtos de consumo.
O presidente Joko Widodo anunciou na última sexta-feira (22) que a Indonésia suspenderia as exportações de óleo de cozinha e as matérias-primas usadas para produzi-lo, “até novo aviso”, em uma tentativa de garantir o abastecimento local.
A proibição entra em vigor na próxima quinta-feira (28).
O país do sudeste asiático é o maior produtor de óleo de palma do mundo, e o anúncio de sexta-feira deixou os preços da commodity “furiosos”, disse James Fry, presidente da consultoria LMC International. Os futuros de óleo de palma bruto na Malásia, uma referência global, saltaram quase 7%.
O choque – e os preços – diminuíram um pouco nesta semana depois que a Reuters e a Bloomberg informaram que o governo isentaria o óleo de palma bruto das restrições. O Ministério da Agricultura da Indonésia não respondeu imediatamente a um pedido de comentários da CNN Business internacional.
Mas as restrições ainda devem incluir a oleína de palma, um produto mais processado que é usado para óleo de cozinha e representa cerca de 40% a 50% das exportações indonésias, segundo analistas. Isso aumentaria a inflação, em um momento em que os preços globais dos alimentos atingem altas históricas.
O que é óleo de palma?
O óleo de palma é um ingrediente comum encontrado em muitos alimentos, cosméticos e utensílios domésticos do mundo. O WWF estima que seja usado em quase 50% de todos os produtos embalados nos supermercados.
A commodity também é usada para cozinhar em muitos países, incluindo a Índia, o maior importador do mundo.
Fry disse que o preço de muitos itens da despensa, como óleo de cozinha, macarrão instantâneo, salgadinhos, assados e margarina, pode subir quando as restrições da Indonésia entrarem em vigor.
Os preços do óleo de palma já estavam sob pressão após a invasão da Ucrânia pela Rússia, enquanto os mercados lutavam para encontrar alternativas aos embarques de óleo de girassol presos nos portos do Mar Negro.
A Ucrânia é tipicamente um grande produtor de óleo de girassol, mas isso foi “completamente atrapalhado pela Rússia”, disse Fry.
“Temos a tempestade perfeita”, acrescentou, observando que outros fatores, como secas na América do Sul e Canadá, também restringiram a oferta de óleo de soja e óleo de canola, respectivamente.
Por que a Indonésia está dando esse passo?
O líder da Indonésia, também conhecido como “Jokowi”, disse em comunicado na sexta-feira que a decisão de proibir as exportações foi “garantir a disponibilidade nacional de óleo de cozinha” e ajudar a mantê-lo acessível.
Os indonésios tiveram problemas para ter acesso ao alimento básico da cozinha com o aumento dos preços globais do óleo de palma, levando o governo a lançar subsídios em dinheiro, segundo a Antara, agência de notícias estatal da Indonésia.
O país já havia tomado outras medidas para proteger o abastecimento local. Em janeiro, introduziu uma política que exigia que os exportadores de produtos de óleo de palma vendessem 20% de suas exportações totais no mercado interno, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
O preço de varejo do óleo de cozinha também foi posteriormente “limitado” a 14.000 rupias indonésias (US$ 0,90) por litro, escreveu a agência em uma atualização de fevereiro.
Mas o problema persistiu, levando o governo a tomar a medida drástica na semana passada para bloquear as exportações.
Analistas dizem que as autoridades querem garantir que haja suprimento suficiente de óleo de cozinha antes do festival muçulmano do Eid, que marca o fim do Ramadã e acontecerá na próxima semana. A Indonésia abriga a maior população muçulmana do mundo.
Quem ganha mais?
A Indonésia é de longe o maior produtor mundial de óleo de palma, respondendo por 59% da produção global no ano passado, segundo o USDA.
Malásia e Tailândia seguem com 25% e 4% da produção mundial, respectivamente. Colômbia, Nigéria e Guatemala também são produtores-chave.
Alguns analistas dizem que a Malásia pode ajudar a compensar o déficit, mas está enfrentando seus próprios problemas de abastecimento.
Sathia Varqa, cofundadora da Palm Oil Analytics, uma editora independente de dados de mercado, disse que a Malásia sofre com a escassez de mão de obra desde a pandemia.
“Os estoques também estão historicamente baixos” na Malásia, escreveram analistas do JPMorgan em nota na sexta-feira.
Outros países estão sentindo o aperto.
A Índia, que depende fortemente das importações de óleos vegetais, já sentiu o impacto da recente escassez, segundo B. V. Mehta, diretor executivo da Associação de Extratores de Solventes da Índia.
Ele disse à CNN Business internacional que as pessoas estavam se voltando para outros ingredientes, como óleo de colza e óleo de amendoim, em resposta ao aumento dos preços dos óleos de girassol e palma.
Mehta está pressionando o governo indiano para aumentar sua própria produção de tais commodities por causa da “crise” na segurança alimentar.
“Os preços altos já nos ensinaram nos últimos dois anos a aumentar nossos próprios produtos e produtividade, e com a questão da Ucrânia e agora a Indonésia… Isso nos ensinou uma boa lição”, acrescentou.
Por que isso é especialmente ruim agora?
A proibição da Indonésia chega em um momento ruim para os consumidores globais.
Os preços mundiais dos alimentos atingiram seus níveis mais altos em março, disse a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no início deste mês. De acordo com seu relatório, “a guerra na região do Mar Negro espalhou choques pelos mercados de grãos básicos e óleos vegetais”.
O mais recente Índice de Preços de Alimentos da FAO – que mede a variação mensal dos preços internacionais de uma cesta de commodities alimentares – foi 33,6% maior do que em março de 2021.
Em seu relatório de sexta-feira, os analistas do JPMorgan disseram que a proibição de exportação da Indonésia estava “adicionando lenha à fogueira”.
“Este é mais um lembrete da vulnerabilidade presente nas cadeias de suprimentos agrícolas em um ambiente de estoques historicamente apertados, agravado pela perda indefinida de volumes de exportação ucranianos e custos de produção historicamente altos”, escreveram.
De certa forma, o mundo estava confiando no óleo de palma da Indonésia “para preencher a lacuna” deixada por outras interrupções – “e a Indonésia de repente bloqueou esse fluxo”, disse Fry.
— Anna Cooban, Claudia Dominguez, Livvy Doherty, Chris Liakos, Julia Horowitz e Jorge Engels contribuíram para esta reportagem.