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    Renda fixa: por que corretoras estão recomendando títulos com vencimento curto

    Incertezas sobre o que pode acontecer com inflação, juros e gastos do governo atrapalham o planejamento para prazos mais longos e, em alguns casos, pode levar à perda de dinheiro

    Juliana Eliasdo CNN Brasil Business , em São Paulo

    Mesmo com juros generosos nos títulos públicos e privados de renda fixa, não é sem ressalvas que os analistas e gestores têm recomendado aproveitar alguns deles. Boa parte dos especialistas tem sugerido resistir à tentação dos títulos de vencimento mais longos, superiores a cinco anos, mesmo que geralmente paguem mais.

    Para boa parte dos casos, a indicação é se ater aos papéis de prazos curtos, de no máximo três anos, devido às incertezas do que pode acontecer com a política, a economia, a inflação e os juros brasileiros ao longo desse período.

    A regra é especialmente válida para os papéis prefixados, que “travam” a remuneração em uma taxa fixa que não mudará até o dia do resgate. Se os juros acabarem ficando maiores do que a taxa contratada, o investidor sairá ganhando menos do que poderia ter ganhado se comprasse aquele título mais para frente, ou pode, até, perder dinheiro, por conta da chamada “marcação a mercado” (veja mais abaixo como funciona).

    Hoje já é possível encontrar vários prefixados pagando mais de 11% ou 12% ao ano, remuneração alta em comparação ao que se viu nos últimos quatro anos, quando a Selic, os juros básicos do país, tinha mergulhado em uma trajetória consistente de queda até chegar à mínima de 2% no ano passado.

    Atualmente, ela, que serve de piso para as remunerações de renda fixa, está em 10,75%, e as projeções é que chegue perto dos 12% ainda nos próximos meses.

    “Prefixado é bom se depois as taxas de juros caem, mas, se a taxa não cair e tiver que subir mais, é ruim”, diz a sócia e analista de renda fixa da Nord Research Marília Fontes.

    “A gente não sabe até onde a Selic pode ir e, por isso, não é hora agora de travar os juros.”

    Entre essas incertezas, estão as dúvidas sobre a capacidade de controle da inflação no curto prazo, e também até onde podem subir os juros dos Estados Unidos, país que, como o Brasil e o resto do mundo, também está tendo que combater uma alta de preços forte e persistente.

    Juntam-se a isso as mudanças das principais regras fiscais do país, que deveriam controlar os níveis de gastos do governo, e o polarizado ano de eleições à frente, que deixa em aberto qual será o novo governo e as novas políticas econômicas a partir de 2023.

    Todos esses fatores têm influência direta nos juros do país e, por isso, especialistas têm preferido a cautela à certeza.

    “Hoje o consenso de mercado vê a Selic caindo a 8% ao final do ano que vem, mas isso pode não acontecer”, diz Sérgio Evangelista, gestor de fundos da Western Asset, lembrando dos riscos, inclusive globais, de que a inflação continue alta.

    “O Banco Central pode ter que manter os juros altos por um tempo muito maior do que se está imaginando, e é esse o grande risco na mesa hoje.”

    A recomendação dos especialistas têm sido comprar títulos curtos, em especial os prefixados, com vencimentos entre um e três anos, para então, quando chegar o momento do resgate, pode fazer novos reinvestimentos em meio a um cenário já mais claro.

    A regra vale tanto para títulos do Tesouro Direto quanto para os de bancos, como CDBs, LCAs e LCIs.

    Rodrigo Caetano, especialista em investimentos da Toro Investimentos, acrescenta que, apesar de os títulos prefixados serem de fato os que mais sofrem nos cenários incertos, a regra vale para outras categorias da renda fixa também.

    “O ideal é comprar títulos pós-fixados mais curtos também”, diz. “Se você compra um papel de 117% do CDI hoje com vencimento daqui a cinco anos, a rentabilidade dele vai cair conforme a Selic caia também.”

    Para o longo prazo, proteção contra a inflação

    A exceção são os títulos que têm a remuneração atrelada à inflação, como o Tesouro IPCA+, no Tesouro Direto.

    Esses títulos pagam a inflação acumulada até a data de vencimento (parcela pós-fixada), acrescida de uma taxa de juros fixa anual (parcela prefixada), que também está em níveis polpudos hoje. Esse formato híbrido dá uma proteção dupla aos investidores.

    “Esses títulos garantem o ganho real [acima da inflação] e são os ideais para o longo prazo”, de acordo com Caetano.

    “Essa conversa [de comprar títulos curtos] vale para o investidor que tem objetivos de curto e médio prazo, e que vislumbram uma oportunidade agora”, diz Evangelista, da Western, mencionando as boas ofertas de títulos prefixados oferecendo remunerações hoje de 11% ou 12% ao ano.

    “O investidor que tem uma visão de mais longo prazo, que está fazendo o planejamento para a aposentadoria e que tem uma probabilidade baixíssima de precisar daquele dinheiro antes, pode, sim, aproveitar os títulos mais longos, e aí o ideal é ter uma parte disso atrelada à inflação”, acrescenta o gestor.

    Risco de perder dinheiro

    O grande risco dos títulos prefixados está no que é chamado de “marcação a mercado”: os juros e preços desses títulos, na prática, variam diariamente, quase como ações, conforme a maior ou menor procura por eles dos grandes investidores nacionais e estrangeiros.

    Os investidores que mantiverem seus títulos até o vencimento receberão sempre exatamente a remuneração que contrataram. Aqueles, porém, que precisarem fazer um resgate antecipado, terão que aceitar o preço do dia pago por aquele papel.

    Esse preço pode ser tanto maior quanto menor do que o valor originalmente aplicado – o que significa que, sim, o investidor pode inclusive sair com menos dinheiro do que entrou.

    As perdas ocorrem quando os juros de mercado ficam maiores do que os juros que o investidor contratou inicialmente em seu título.

    É esse sobe e desce dos juros e preços dos títulos públicos que ficou especialmente volátil e imprevisível do ano passado para cá, o que aumentou bastante os riscos de perda do investidor que quiser ou precisar resgatar seu título antes do vencimento.

    Os prefixados são os que mais sofrem com essas oscilações – e quanto mais longo o prazo, maior a montanha-russa de preços e maior, também, a incerteza, já que, quando mais longo o horizonte do investimento, menos clareza se tem do que pode acontecer com os juros e a economia do país ao longo de todo o período.

    No Tesouro Direto, a exceção a essa volatilidade é o Tesouro Selic, que é a única opção de título pós-fixado e que pode ser resgatado a qualquer momento sem perdas.

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