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    Renda Brasil: impacto no PIB e volta do liberalismo? O que pensam os economistas

    É bem provável que a recuperação econômica em 2021 seja mais complicada – afinal, serão bilhões de reais a menos injetados na economia

    O ministro da Economia, Paulo Guedes: ministro diz que não recebeu nenhum cartão vermelho
    O ministro da Economia, Paulo Guedes: ministro diz que não recebeu nenhum cartão vermelho Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

    Paula Bezerra, Natália Flach, Matheus Prado e André Jankavski, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    É hora de esperar para ver. O anúncio do presidente Jair Bolsonaro de que não quer mais saber de Renda Brasil ainda deixa economistas incertos com o futuro. Porém, caso a notícia se confirme, é bem provável que a recuperação econômica em 2021 seja mais complicada – afinal, serão bilhões de reais a menos injetados na economia através do consumo dos mais pobres.

    Há os mais pessimistas, como o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, que espera um crescimento do PIB menor em 2021 (2,2% de alta, ante 3,5% da média do Boletim Focus) e Gesner Oliveira, sócio da GO Associados, que acredita que esse fator não afetará tanto as expectativas dos especialistas.

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    “As pessoas que projetam a economia têm consciência de que medidas como essa não podem ser perpetuadas sem olhar a questão orçamentária”, diz Gesner.

    Porém, para Vale, a notícia pode até ter um viés positivo: pelo menos, o teto de gastos não deve ser tão pressionado em 2021. Quer dizer, isso se o governo não quiser aumentar os seus gastos de outra forma. “O fim do Renda Brasil não significa que a regra do teto não terá problemas lá na frente”

    Para Marcelo Neri, economista e diretor da FGV Social, a medida também não significa que o governo vai embarcar novamente no viés liberal sempre defendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Ao contrário. Para ele, a decisão mais intempestiva do presidente foi muito mais uma questão política, do que uma volta ao liberalismo.

    “Acredito que a equipe econômica, que é liberal, mas que está tentando bancar programas sociais, vai sair um pouco chamuscada disso”, afirma Neri. “Apesar do presidente estar mais calmo nos últimos dias, dialogando com o Congresso, hoje foi o dia da mordida.”

    Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da bolsa, anda de lado nesta terça-feira (15). A ordem dos investidores, agora, é realmente aguardar o que está acontecendo.

    “O mercado está esperando uma sinalização mais clara sobre o Renda Brasil. Está em compasso de espera para saber se o programa foi cancelado mesmo”, diz Lucas Feitosa, especialista em renda variável da XP Investimentos.

    É claro que, se o ministro da Economia, Paulo Guedes, realmente tomar um cartão vermelho (mesmo ele negando), as coisas devem piorar. Porém, já se especula que quem poderá ser “expulso” do jogo, será o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues. 

    Confira a opinião de diversos especialistas:

    Gesner Oliveira, sócio da GO Associados

    Não acredito que a decisão impactará diretamente no PIB ou na expectativa. As pessoas que projetam a economia têm consciência de que medidas como essa não podem ser perpetuadas sem olhar a questão orçamentária. E o governo está dando um sinal de quem tem um limite orçamentário. Muita gente ganhava menos que o auxílio, mas não dava para permanecer com ele para sempre.

    O que aprendemos ao longo dos anos é que programas de transferência de renda são muito positivos e é algo que deveria ser estimulado em todos os países, olhando também para a empregabilidade, incentivos para estudo. Foi assim que nasceu antes do Bolsa Família, com os famosos vales, como o vale educação.

    Mas não é uma coisa simples estruturar o programa. Uma coisa é quando é emergencial, outra é um programa social sólido, pensado para outras décadas.

    Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados

    O fim do Renda Brasil vai ter um impacto no PIB, sim. Já temos uma expectativa nova de crescimento de 2,2% em 2021, então não vamos conseguir recuperar integralmente. Não enxergamos um crescimento de 4% como em outros lugares. E antes considerávamos um Renda Brasil ainda menor, com queda de 65 milhões de beneficiários do auxílio emergencial para 25 milhões de pessoas ajudadas.

    A decisão também tem dois lados. O positivo é do lado fiscal, pois você preserva, de certa forma, o teto. Mas isso não significa que a regra do teto não terá problemas lá na frente, mas tira a pressão de 2021. Mas, por conta disso, provavelmente teremos uma rodada de previsão de crescimento baixo para o ano que vem. E o varejo que depende desses recursos, provavelmente, vai sofrer mais.

    João Rosal, economista-chefe da corretora Guide

    Ainda é prematuro fazer uma análise pois precisamos de uma sinalização clara da política fiscal no curto e médio prazo. Continuamos no escuro. O fato de você cortar um programa não impossibilita que o governo consiga usar eventuais sobras orçamentárias para fazer gastos. E há uma batalha dentro do governo para realocar gastos e ajudar na recuperação da economia.

    Também ficamos mais pessimistas com a recuperação. Ainda não revisamos a nossa alta de 2,5% para 2021. Precisamos de uma cristalização do cenário fiscal e de como o governo vai encarar isso, seja no curto ou no longo prazo. E a agenda política em Brasília, com as reformas, precisa acontecer.

    Marcelo Neri, economista e diretor do FGV Social 

    O anúncio do cancelamento do Renda Brasil é uma questão essencialmente política, e não um movimento liberal. Tecnicamente, em termos de combate à pobreza, transferir recursos para o Bolsa Família faz sentido. Através do Bolsa Família, cada real gasto tem um impacto 673% maior sobre a pobreza do que através do BPC (benefício de prestação continuada), mas no imaginário popular o salário mínimo é a grande política de combate à pobreza.

    O público que o BPC atinge é o de idosos, seja pelo critério de idade, seja indiretamente pelo critério de deficiência. A taxa de pobreza dos idosos é hoje quase um décimo da de crianças, estas o público alvo maior do Bolsa Família. Atualmente, aproximadamente 40% dos beneficiários do PBF são crianças de 15 anos ou menos.  

    Mas o fim do BPC seria difícil de implementar porque requer mudança constitucional. Nunca, em tempo algum, e muito menos agora, isso seria aprovado. Acredito que a equipe econômica, que é liberal mas está tentando bancar programas sociais, vai sair um pouco chamuscada disso. Apesar do presidente estar mais calmo nos últimos dias, dialogando com o Congresso, hoje foi o dia da mordida.

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