Real lidera ganhos entre moedas emergentes com queda do dólar; futuro é incerto
Um levantamento da Infinox Capital apontou que a valorização do real frente ao dólar foi 10,30% entre outubro e novembro
A desvalorização do dólar desde o começo de novembro tem beneficiado as moedas de países emergentes. Entre elas, o real é a divisa que mais se beneficiou. Depois de bater R$ 5,99 no auge da pandemia, em maio, o dólar ostentou um patamar alto até outubro, quando bateu R$ 5,73. Ao fim de novembro caiu para R$ 5,20 e hoje está em R$ 5,11.
Um levantamento da Infinox Capital, formadora de mercado futuro atrelada à B3, apontou que a valorização do real frente ao dólar foi 10,30% entre outubro e novembro. Segundo o responsável por novos negócios na divisão de trading na Infinox, Victor Hugo Cotoski, existe um movimento favorável às moedas emergentes. “Os investidores utilizaram essas moedas nos ativos de riscos, o que confirma o aumento do apetite de risco por países emergentes, como o Brasil”, explica.
O enfraquecimento do dólar está relacionado à disposição dos investidores internacionais em assumir mais riscos diante da iminência da vacinação. Com isso, as commodities e moedas dos países emergentes relacionadas a elas ganham espaço na carteira de investimentos. O petróleo teve um aumento de 10% e atualmente é vendido por US$ 47. “Com a volta da demanda, países exportadores de petróleo como o Brasil tendem a ter o aumento significativo na entrada de dinheiro americano”, comenta Cotoski.
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Para 2021, porém, o cenário é incerto. A vacinação e a contenção da pandemia serão decisivas para criar um ambiente mais estável e aumentar o apetite dos investidores por risco. Cotoski afirma que a saúde fiscal do Brasil também deve pesar. “A gente pode ter uma surpresa de risco fiscal em janeiro e o mesmo volume ser tirado em dois ou três meses”, afirma. Ele relaciona o aumento do risco a eventuais mudanças na regra do teto de gastos para financiar a extensão do auxílio emergencial e outros gastos sociais.
Ainda que a política fiscal de contenção de gastos e o teto sejam mantidos, não há garantias em relação à manutenção da valorização da moeda brasileira, diz Cotoski. “Vai ter muita volatilidade em 2021 e pode, sim, o dólar voltar a níveis da máxima deste ano. Os ativos devem subir e descer com muita volatilidade, não só o real, mas as principais moedas emergentes.”
Efeitos da pandemia
O levantamento da Infinox aponta que, no auge da pandemia, a moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou com relação ao dólar entre as divisas dos países emergentes, com queda de 33,1%. Os R$ 4,50 necessários para comprar US$ 1 chegaram a R$ 5,99 em maio.
A segunda moeda emergente com o maior desvalorização foi a mexicana. Porém, o peso mexicano conseguiu reverter totalmente as perdas em dezembro. Antes da pandemia, o dólar comprava 19,86 pesos mexicanos. Depois de bater 25,75 pesos mexicanos, a moeda americana retornou para 19,76 pesos mexicanos, uma valorização de 0,55% em relação ao período pré-pandemia.
A moeda emergente que vai terminar o ano com a maior desvalorização em relação ao dólar é a da Argentina. O dólar estava no patamar de 64 pesos argentinos em março e chegou a 82 pesos argentinos em dezembro, uma desvalorização de 28%.