Real é a quarta moeda que mais se desvalorizou no ano, segundo Austin Rating
Moeda brasileira só perde para desvalorização das divisas do Sudão, Líbia e Venezuela
Economistas costumam dizer que acertar o câmbio é a tarefa mais difícil da profissão. De fato, não faltam variáveis que puxam a moeda para cima ou para baixo. Nesse estica e puxa, o real ocupa o quarto lugar de um ranking de desvalorização de divisas ante o dólar em 2021, perdendo apenas para a moeda do Sudão, da Líbia e da Venezuela, de acordo com levantamento feito pela Austin Rating, a pedido do CNN Brasil Business. Pelas condições político-econômicas desses países, já dá para perceber que a colocação do Brasil não é algo que deva ser comemorado.
A desvalorização do real é reflexo do cenário externo e do quadro doméstico. Lá fora, o dólar vem ganhando força à medida que investidores passaram a comprar títulos do Tesouro americano (treasuries) com o aumento dos juros pagos pelos papéis. Já no âmbito local, as incertezas com as questões fiscais — que, enfim, pareciam ter dado uma trégua com o avanço da PEC Emergencial no Congresso e com a definição do auxílio emergencial — acabaram dando lugar ao medo da volta do Lula ao cenário eleitoral em 2022.
É que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin anulou em decisão monocrática, as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definidas pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato, e determinou a remessa dos respectivos autos à Seção Judiciária do Distrito Federal. Com a decisão, o ex-presidente recupera os direitos políticos e volta a se tornar elegível.
O mercado financeiro reagiu imediatamente, e o dólar passou a ser negociado ao redor de R$ 5,80. Ao fim do pregão, a moeda americana fechou em R$ 5,7787, no maior preço desde 15 de maio do ano passado. Com isso, o real acumula uma desvalorização de 10,2%, ficando atrás apenas da perda de valor da nova libra sudanesa (-85,3%), dinar da Líbia (-70,1%) e do bolivar soberano venezuelano (-42,4%).
Risco político
Segundo analistas e economistas consultados pelo CNN Brasil Business, o principal risco é o Brasil adotar políticas populistas, antecipando uma possível disputa eleitoral entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Nesse sentido, o temor é aumento do auxílio emergencial e intervenção na política de preços dos combustíveis, por exemplo.
Como bem escreveu Fernando Nakagawa, diretor do CNN Brasil Business, essa polarização nas urnas reduz a chance de vitória de um candidato de centro com agenda reformista.
O que esperar do dólar
Analistas consultados pelo Banco Central esperam que o câmbio termine 2021 na casa de R$ 5,15, de acordo com o boletim Focus divulgado na segunda-feira (8). Nas duas últimas semanas, as estimativas eram de R$ 5,01 e R$ 5,10.
Essa projeção de R$ 5,15 não leva em conta o fator Lula, já que as respostas dos especialistas foram coletadas até a sexta-feira passada (5). Logo, é de se esperar que os economistas voltem a se debruçar sobre as suas tabelas para tentar acertar a nova taxa de câmbio — agora, com a variável Lula.