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    Próximas altas de juros dependerão de dados econômicos, aponta Fed em ata

    Inflação nos Estados Unidos segue no maior valor em 40 anos, enquanto banco central eleva juros para combatê-la

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business*

    em São Paulo

    Os dirigentes do Federal Reserve determinarão as próximas altas de juros nos Estados Unidos de acordo com os dados que ainda serão divulgados sobre a economia do país, informou a ata da última reunião de política monetária da autarquia.

    De acordo com o texto, parte dos dirigentes defendeu que os juros precisarão ficar em um patamar “suficientemente restritivo” por “algum tempo” de modo a controlar a inflação.

    Ainda segundo os dirigentes, será necessário mais tempo que o esperado para que as pressões inflacionárias aliviem, com a expectativa de intensificação a partir da desaceleração na demanda entre os norte-americanos.

    A ata não indicou qual será o valor da próxima elevação de juros, na reunião do Fed de setembro. O mercado se divide atualmente entre uma alta de 0,75 ponto percentual ou 0,5 p.p., com as apostas perdendo ou ganhando força conforme novos dados sobre a economia dos Estados Unidos são divulgados.

    Para que o Fed reduza o ritmo de aumentos, os números de inflação provavelmente precisariam confirmar que a velocidade dos aumentos de preços atingiu o pico e agora está em declínio.

    Ainda segundo a ata, o Fed deve desacelerar o ciclo de alta de juros em algum momento, dependendo dos dados.

    Os dirigentes concordaram que, até então, havia “pouca evidência” de que as pressões inflacionárias estavam moderando.

    Mesmo assim, a avaliação foi que dados recentes sobre a inflação indicaram uma ancoragem de expectativas para o longo prazo na meta de 2%.

    A expectativa do Fed é que, após dados fortes de mercado de trabalho, o PIB do segundo trimestre seja revisado para cima, indicando uma atividade econômica mais robusta

    O banco central norte-americano iniciou em março deste ano um ciclo de alta de juros para combater a inflação. Com quatro altas, os juros passaram do intervalo de 0% a 0,25% para 2,25% a 2,5% ao ano. A última elevação foi realizada em julho.

    A inflação nos Estados Unidos segue no maior valor em 40 anos, e tem sido puxada para cima tanto por um choque de oferta que eleva preços, principalmente de commodities, quanto por uma demanda aquecida, com um mercado de trabalho próximo do pleno emprego.

    Em julho, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI) não teve variação na comparação com junho, com o acumulado em 12 meses recuando para 8,5%.

    Reação do mercado

    Após a divulgação do ata, a maior parte dos investidores manteve a aposta em uma alta de 0,5 p.p. nos juros em setembro, segundo o CME Group.

    Na terça-feira (16), a aposta tinha 59% de chances de se concretizar, enquanto a alta de 0,75 p.p. estava em 41%. Após a ata, os valores passaram para 63,5% e 36,5%, respectivamente.

    A ata trouxe “algumas avaliações marginalmente dovish” do Fed, segundo o economista-chefe da Ativa Étore Sanchez. O termo dovish se refere a uma postura mais suave no combate à inflação.

    “No que toca a inflação, fizeram questão de ressaltar a perda de ímpeto do índice, a despeito do longo caminho de queda que os índices deverão ter até a convergência robusta indicada pelos membros no longo prazo”, ressalta.

    A Ativa mantém a previsão de alta de 0,5 p.p. em setembro, com os juros encerrando o ciclo no intervalo entre 3,75% e 4%. ” Os preços, ainda que tenham perdido ímpeto, permanecerão fortes e o mercado de trabalho, ainda que sensibilizado por uma atividade menos robusta, custará a romper para cima os 4% de taxa de desemprego”, justifica Sanchez.

    Marilia Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, afirma que a leitura do mercado foi de uma ata mais dovish, com o Fed sinalizando novas altas de juros à frente e terminando em valores acima dos juros neutros.

    “O ritmo dessa subida dependerá dos dados, e eles viram alguma melhora, então o mercado precifica agora uma alta de 0,5 p.p., não 0,75 p.p”, ressalta.

    Para ela, a novidade foi a sinalização de uma manutenção dos juros altos por mais tempo, o que pode estar ligado a uma “preocupação com a penalização da atividade, demonstrando essa preocupação de não subir mais os juros. Talvez a estratégia deles seja subir menos [os juros] mas manter por mais tempo nesse patamar”.

    Em relatório, a XP afirma que a ata “foi relativamente menos relevante para a sinalização das próximas decisões de política monetária, já que não incorpora as últimas surpresas nos dados de mercado de trabalho e preços ao consumidor referentes a julho”.

    “De um lado, os dados do mercado de trabalho mais fortes do que o esperado elevaram a probabilidade de outra alta de 0,75 p.p. na reunião de setembro. Por outro lado, a surpresa positiva com o último CPI aumentou a probabilidade de uma desaceleração no ritmo de aperto”, destaca o texto.

    Nesse sentido, a expectativa da XP é que “o relatório de emprego e o CPI de agosto serão bastante relevantes para a próxima decisão do Fed, pois darão mais clareza a respeito das perspectivas de desinflação e se o mercado de trabalho permanece apertado”.

    *Com informações da Reuters