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    Por que as maiores empresas do Vale do Silício estão investindo bilhões na Índia

    A Amazon prometeu US$ 1 bilhão em janeiro, o Facebook investiu quase US$ 6 bilhões no final de abril e o Google prometeu US$ 10 bilhões

    Rishi Iyengar, , do CNN Business, em São Francisco

    Desde o início de 2020, os maiores nomes da tecnologia dos EUA investiram cerca de US$ 17 bilhões na Índia.

    A Amazon prometeu US$ 1 bilhão em janeiro, o Facebook investiu quase US$ 6 bilhões no final de abril e o Google superou todos eles na semana passada com um compromisso de US$ 10 bilhões. Eles fazem parte de uma onda de investimentos no setor de tecnologia da Índia neste ano, que agora supera os US$ 20 bilhões, com a maior parte vinda dos Estados Unidos.

    O volume e as fontes desses investimentos teriam soado altamente improváveis, se não totalmente impensáveis, apenas alguns meses atrás, quando todas essas empresas de tecnologia estavam em rota de colisão com reguladores indianos, e os CEOs de tecnologia estavam sendo ignorados nas visitas a Nova Délhi.

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    Muita coisa mudou desde então. O coronavírus devastou a economia global, atingindo particularmente a Índia. A briga diplomática da Índia com a China respingou na tecnologia, alinhando-se à desconfiança do governo Trump em relação às empresas chinesas. E, embora a Índia tenha sempre sido um grande atrativo para as empresas de tecnologia dos EUA, o escopo cada vez menor da cooperação tecnológica com a China e as novas ameaças à sua presença em lugares como Hong Kong estão dando nova importância ao mercado indiano.

    Mas a enxurrada de investimentos também destaca algo que é verdade há anos: a economia digital da Índia, com mais de 700 milhões de usuários da internet e cerca de meio bilhão ainda offline, é uma oportunidade muito grande para os gigantes da tecnologia ignorarem por muito tempo.

    “As pessoas acreditam que, no longo prazo, a Índia será um bom mercado, e que suas regulamentações serão justas e transparentes o suficiente”, disse Jay Gullish, que coordena as políticas de tecnologia do Conselho Empresarial EUA-Índia. “Acho que elas estão apenas aprofundando raízes que já existem”.

    O fator China

    O Vale do Silício está praticamente fora da China há anos, em parte devido ao enorme mecanismo de censura do país, apelidado de Grande Firewall. Além disso, uma nova e controversa lei de segurança nacional imposta em Hong Kong, onde os serviços do Google e do Facebook ainda estão acessíveis devido à internet relativamente livre, pode afastá-lo ainda mais.

    A lei concede às autoridades de Hong Kong o poder de regular plataformas tecnológicas, incluindo exigir que retirem posts que ameacem a segurança nacional da China ou restringir o acesso a seus serviços. Facebook, Google e Twitter disseram que vão parar de compartilhar dados com o governo de Hong Kong, e o TikTok saiu da cidade.

    “É cada vez mais difícil fazer negócios com a China”, afirmou Mark Lemley, diretor do curso de direito, ciência e tecnologia da Universidade de Stanford. “Existe também uma sensação crescente de que fazer negócios com a China envolve compromissos morais preocupantes”.

    A desconfiança dos EUA com a tecnologia chinesa continua a crescer. O presidente Donald Trump reivindicou na semana passada o crédito por frustrar os planos de expansão da empresa chinesa de tecnologia Huawei, e seu governo disse que está “considerando” a proibição do famoso aplicativo de vídeos TikTok, de propriedade da ByteDance, da China.

    É um passo que alinharia ainda mais os EUA com a Índia. O governo indiano proibiu o TikTok e dezenas de aplicativos chineses no mês passado, depois de um confronto na fronteira entre os dois países que deixou 20 soldados indianos mortos, levando a pedidos de boicote aos produtos chineses. Apesar do relacionamento tecnológico da Índia com a China ainda ser forte – os smartphones chineses dominam o mercado indiano, e boa parte das maiores startups da Índia tem um considerável investimento chinês – as recentes tensões podem reforçar os laços tecnológicos de longa data da Índia com os EUA.

    “A Índia e seus vizinhos do sudeste asiático tentaram equilibrar as duas potências, criando mais laços econômicos com a China e mantendo o guarda-chuva de segurança fornecido pelos Estados Unidos”, explicou Ravi Shankar Chaturvedi, diretor de pesquisa no Tufts University’s Institute for Business in the Global Context. “A China, por meio de ações recentes, efetivamente entregou os EUA para a Índia por uma geração.”

    Chaturvedi e outros especialistas salientam que a Índia e os EUA têm um relacionamento tecnológico de longa data, com milhares de engenheiros indianos trabalhando no Vale do Silício, e com indianos atualmente no comando do Google, da Microsoft e várias outras empresas norte-americanas.

    “Existe uma sinergia natural entre a Índia e os Estados Unidos no mundo digital”, disse Gullish, acrescentando que o aumento do uso da Internet por famílias indianas, que estão socializando e trabalhando mais em suas casas durante a pandemia do coronavírus, pode melhorar ainda mais o apelo da Índia como mercado. “É fácil para as empresas americanas procurarem oportunidades na Índia”, completou.

    Os ricos ficam mais ricos

    Ao mesmo tempo que empresas de tecnologia dos EUA observavam o mercado da Índia, o homem mais rico da Ásia parecia se colocar como um anfitrião dando as boas-vindas.

    A maior parte dos investimentos em tecnologia na Índia neste ano – incluindo todo o do Facebook e quase metade do investido pelo Google – foi para os cofres de empresas controladas pelo bilionário indiano Mukesh Ambani. A Jio Platforms, subsidiária digital do conglomerado Reliance, de propriedade de Ambani, arrecadou desde o final de abril mais de US$ 20 bilhões de empresas, investidores de capital de risco e fundos soberanos, que buscam usá-lo como um canal para a enorme economia digital da Índia.

    A Jio foi lançada como uma rede de internet móvel em 2016 e rapidamente atraiu quase 400 milhões de assinantes. Com recentes incursões em e-commerce, pagamentos digitais, serviços de streaming e até uma plataforma de videoconferência semelhante ao Zoom chamada JioMeet, Ambani parece estar tentando transformar a empresa em um abrangente ecossistema indiano.

    E o Vale do Silício, claro, quer participar.

    “A tecnologia dos EUA não conseguiu penetrar no ‘Grande Firewall da China’, mas entrou com facilidade no ‘Grande Paywall da Índia’ criado pela Jio. Tudo que teve de fazer foi pagar o pedágio à Reliance para entrar”, comentou Chaturvedi, da Tufts University.

    Uma das maiores empresas da Índia e dirigida pelo homem mais rico do país, a Reliance tem uma enorme influência local e não é prejudicada por muitas das regulamentações sobre armazenamento de dados e e-commerce que foram obstáculos para o Facebook, Google e Amazon.

    “Nenhum estreante no mundo teria conseguido isso por conta própria com tanto sucesso e rapidez quanto a Reliance”, disse Chaturvedi. “Grande parte da regulamentação de e-commerce e das leis de localização de dados foram influenciadas pela Reliance”.

    À medida que o governo Trump fecha cada vez mais a economia norte-americana para resto do mundo, o Vale do Silício procurará expandir seu alcance, de acordo com Lemley. E a Índia está pronta.

    “Por mais que me doa dizer, os EUA não são mais um local atraente para a inovação como eram há cinco anos”, disse Lemley. “Como o governo Trump torna cada vez mais difícil trazer as pessoas mais brilhantes do mundo para o Vale do Silício, acho que as empresas de tecnologia podem estar de olho em um mundo em que não somos mais o centro da inovação”.

    (Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).

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