‘Por amor’, mais de 80% dos funcionários da Azul tiraram licença não remunerada
Segundo o CEO da empresa, 11.716 colaboradores se voluntariaram para não receberem salário “por amor à empresa”
Não é novidade que o setor aéreo foi um dos mais prejudicados pela pandemia de Covid-19. Mas a Azul (AZUL4) contou com uma forcinha a mais para atravessar o momento difícil. Segundo o CEO da empresa, 11.716 colaboradores se voluntariaram para não receberem salário “por amor à empresa”.
A declaração foi feita durante uma live promovida pelo portal InfoMoney. Na ocasião, John Rodgerson, CEO da companhia aérea, disse, emocionado, que o movimento “ajudou a salvar a empresa”.
A Azul promoveu um programa que incentivava os funcionários a tirar licença não remunerada. Entre os mais de 11 mil que aderiram, alguns ficaram seis meses em casa, sem trabalhar.
Quando as medidas de isolamento social se tornaram mais rígidas, em março do ano passado, a Azul tinha 14 mil funcionários. Ou seja, a adesão ao programa de licença não remunerada foi superior a 80% do efetivo da companhia.
Foram demitidos cerca de 1.500 colaboradores. Hoje, a companhia aérea já conta com 13 mil pessoas.
Mesmo sem salário, teve gente que preferiu continuar trabalhando. É o caso de Fabio Abud, gerente de Comunicação Corporativa da Azul. Ele relatou ao CNN Brasil Business que tirou licença não remunerada de dois meses, mas, por escolha própria, seguiu cumprindo suas tarefas na empresa.
Outra parte da liderança fez o mesmo. Gerentes e diretores trabalharam sem remuneração por três meses. O presidente da Azul liderou esse movimento.
“A cultura da Azul é muito forte. As pessoas têm paixão pela empresa, o que contribuiu para que esse número fosse tão alto”, disse Abud.
O executivo garantiu que a companhia não congelou benefícios dos funcionários.
No ano passado, os gastos da Azul com os salários dos funcionários caíram 64% –passaram de R$ 133 milhões para R$ 40 milhões.
O que diz a lei
O movimento da Azul é amparado pela lei, explica Patrícia Alves, sócia da área trabalhista da Souto Correa Advogados. Com o acordo, o empregador não tem mais obrigação de pagamento de salário e recolhimento de encargos trabalhistas, como FGTS.
“Então, o empregado pode requerer uma licença não remunerada para se dedicar a projetos pessoais, sem necessidade de se desligar da empresa, assim como a empresa também pode propor essa alternativa como forma de evitar a dispensa de empregados”, explica Alves.
Essa liberdade de negociar as condições do contrato está prevista no art. 444 da CLT, que permite que empresa e empregado possam ajustar os termos do contrato de trabalho, desde que não sejam contrários às disposições legais e às previstas em normas coletivas.
Além disso, não há um limite para adesão à licença não remunerada. Por isso, a companhia aérea pôde colocar mais de 80% de seu efetivo em casa por um tempo.