Políticas ambientais são um dos fatores de alta na inflação global, diz pesquisa
Foco de grandes empresas e governos em medidas de combate às mudanças climáticas pode ser inflacionário no curto prazo


O presidente dos Estados Unidos Joe Biden e o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, estão empenhados em combater a inflação. Mas os dois podem enfrentar uma batalha difícil para reduzir os preços aos consumidores devido a um fator que muitos especialistas podem não estar avaliando no cenário econômico: o aumento dos investimentos ESG (Meio Ambiente, Social e Governança, em inglês).
Cada vez mais, os investidores procuram empresas que apoiem práticas ambientais, sociais e de governança sustentáveis.
Mas alguns podem estar ignorando o impacto que a chamada “ecologização” da economia global está tendo sobre a inflação, de acordo com um relatório recente de Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Global Investors, uma empresa de gestão de ativos. Ela chamou o fenômeno de “en-flation”.
Shah disse que o foco crescente das grandes empresas e governos em políticas ambientais mais limpas pode ser inflacionário no curto prazo.
“Não vejo razão para o Fed não reconhecer o ‘E’ [de ESG] em sua perspectiva de inflação por muito mais tempo”, disse Shah em entrevista ao CNN Business. “Veremos mais bancos centrais considerando a mudança climática e suspeito que o Fed também o fará. O movimento verde não está indo embora”.
Então, qual parte de “ser verde” pode ser um problema no front da inflação?
Por um lado, Shah observou que os custos mais elevados para os créditos de carbono, as licenças que as empresas podem comprar para compensar as emissões, poderiam potencialmente ser repassados aos consumidores.
Ela também destacou que mais empresas terão potencialmente de pagar penalidades se não cumprirem as metas climáticas da ONU, algo que também pode levar as companhias a aumentar os preços a fim de preservar as margens de lucro.
As empresas também podem enfrentar custos mais altos de mão de obra, gastos de capital e outras despesas associadas à transição para um modelo de negócios mais ecológico, disse Shah.
Política monetária verde pode resultar em perdas para o mercado no curto prazo
Claro, esse é um preço necessário que as empresas – e os consumidores – terão que pagar agora pelo bem do planeta a longo prazo.
Mas isso pode acontecer às custas de lucros e retornos para os acionistas no curto prazo, se as empresas tiverem que ficar com parte dos custos aumentados por não conseguem repassá-los aos clientes.
“Alguém vai ter que arcar com esses custos”, disse Shah. “Serão os consumidores ou as empresas”. A situação é um também um sinal de que a inflação não será “transitória”, como Powell, até recentemente, repetidamente afirmou.
“A perspectiva para a inflação é que ela deve permanecer elevada pelos próximos 10 anos devido à integração de custos ESG e um fornecimento restrito de petróleo e gás natural”, disse Sebastien Galy, estrategista macro sênior da Nordea Asset Management, em um relatório recente.
A revolução do ESG é apenas mais uma razão pela qual o Fed continuará tendo dificuldade em reduzir as pressões sobre os preços tão cedo – a menos que comece a apertar a política monetária aumentando as taxas de juros, disse Phil Orlando, estrategista-chefe do mercado de ações da Federated Hermes.
“O aperto do Fed é a coisa certa a se fazer, levando-se em conta o quão feia é a inflação”, disse Orlando. “Não é temporária ou transitória. Isso é sustentável”.
Orlando está prevendo que o Fed precisará aumentar as taxas de juros duas vezes no próximo ano e mais quatro vezes em 2023 para controlar a inflação. E, enquanto as empresas continuarem a gastar mais para serem boas administradoras ambientais, isso pode elevar ainda mais as pressões inflacionárias.
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*(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original, em inglês)
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