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    ‘Pilar da economia de livre mercado começa a ruir’, diz presidente do Brasil 200

    Segundo Gabriel Kanner, governo dá sinalizações preocupantes de que pode abandonar projeto liberal de Paulo Guedes e apelar para agenda desenvolvimentista

    Presidente do Instituto Brasil 200, Gabriel Kanner, critica risco de abandono de agenda liberal
    Presidente do Instituto Brasil 200, Gabriel Kanner, critica risco de abandono de agenda liberal Foto: Reprodução/Facebook

    Luís Lima do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O principal pilar do presidente Bolsonaro, da luta contra a corrupção, ruiu após o pedido de demissão Sérgio Moro, nesta sexta-feira (24) e o segundo alicerce, o da agenda liberal, está cambaleando. Essa é a opinião de Gabriel Kanner, presidente do Brasil 200, grupo que reúne mais de 300 empresários do país. Segundo Kanner, há “sinalizações preocupantes” do governo na economia, especialmente com a apresentação do plano Pró-Brasil, considerado por agentes do mercado como o “PAC de Bolsonaro”.

    “O conceito por trás desse projeto é desenvolvimentista, ou seja, traz o Estado como propulsor da retomada econômica. Lembra o PAC, do governos do PT, e representa um desarranjo com o que foi defendido na campanha, e que ajudou a eleger Bolsonaro”, criticou Kanner, em entrevista ao CNN Brasil Business

    A ausência de Guedes no lançamento do plano, que prevê R$ 30 bilhões para a infraestrutura, na última quarta-feira (22) gerou preocupações no mercado sobre uma possível ênfase “pró-gasto” do atual governo. O ato levantou especulações sobre uma eventual saída do atual ministro da Economia. Se isso acontecer nos próximos dias, Kanner afirma que não ficaria surpreso, já que vê um distanciamento “muito grande” dos valores que ajudaram a eleger Bolsonaro. 

    Uma eventual saída de Guedes, diz Kanner, seria um golpe para o empresariado, já que o ministro é o principal porta-voz da atualidade de uma estratégia de política econômica liberal. Com ou sem Guedes, pondera, o caminho a seguir é único: da implementação de uma agenda de reformas pelo Congresso Nacional, sobretudo administrativa e tributária.

    “A administrativa para redimensionar o tamanho do Estado — e o momento de crise é propício a isso. (…) E a tributária para simplificarmos o sistema e facilitar a vida de todos”, defende. 

    Segundo o presidente do Brasil 200, há “muita preocupação” no horizonte do setor produtivo, que enfrenta a maior crise da história, devido aos impactos da COVID-19, com demissões em massa e empresas quebrando.

    No Brasil, o mercado já prevê uma  queda de até 3% no PIB este ano, e o governo projeta um rombo recorde de R$ 500 bilhões. “As companhias terão de se resguardar para não quebrarem. É questão de sobrevivência. Não há como pensar em qualquer tipo de retomada econômica (no curto prazo). A prioridade é a de minimizar danos, em um cenário piorado pelas turbulências políticas”, avalia. 

    Discurso ‘frágil e superficial’

    Ainda que reconheça o abalo potencial de uma saída de Guedes do governo, Kanner considera que a representatividade de Moro era maior, pesando no conjunto da população, já que era o principal símbolo da luta contra a corrupção no país.

    Segundo Kanner, o discurso do presidente na tarde desta sexta-feira (24), em resposta a algumas das acusações de Moro, foi “frágil”, “superficial” e “um pouco confuso”. “Não conseguiu rebater às acusações do Moro”, como a de que tentou interferir no livre exercício da Polícia Federal (PF). 

    O presidente do Brasil 200 acredita que “ainda é cedo” para falar em estelionato eleitoral, mas reconhece que há evidências preocupantes. As mais recentes, segundo ele, seriam a própria saída de Moro do governo e a implementação de medidas econômicas de apelo desenvolvimentista.

    Neste cenário, diz que a possibilidade de um pedido de impeachment contra Bolsonaro avançar “é real”, não só pelas denúncias, mas também pela perda potencial de apoio político e popular. “Boa parte do apoio que o governo tinha vai se esvaziar”, prevê Kanner.