O que querem os profissionais de tecnologia, tão disputados pelo mercado
Pesquisa da Fundação Estudar mostra que 75% dos trabalhadores da área estão insatisfeitos com o que aprenderam na graduação e em treinamentos até agora
As empresas que quiserem ter sucesso na difícil missão de atrair (e reter) profissionais de tecnologia precisam investir na formação de seus funcionários e oferecer um bom plano de carreira. É o que constatou uma pesquisa da Fundação Estudar com cerca de 670 jovens trabalhadores da área e pouco mais de 40 companhias –que, assim como quase todo o mercado, sofrem com esse gap.
Um problema já conhecido do mercado de trabalho, a falta de profissionais de tecnologia frente ao número de vagas que são abertas em todos os anos, foi novamente constatado na pesquisa. No levantamento, 55% dos líderes das empresas afirmaram que a competição com grandes organizações que são referência na área é um dos maiores desafios no recrutamento desse tipo de mão de obra.
Além da lacuna entre procura e oferta desse tipo de profissional, existem alguns desencontros dificultando as contratações. Para começar, empresas e candidatos não estão nem sequer nos mesmos canais: enquanto 59% dos jovens buscam oportunidades no LinkedIn, apenas 18% das companhias anunciam suas posições na rede social.
Entre os canais apontados pelas empresas como os principais meios de recrutamento estão as parcerias com universidades, network em eventos, interação com empresas júnior e promoção de eventos. Também foram citadas as indicações de colegas da área como fator relevante.
Experiência ou graduação?
Em segundo lugar, existe também um desajuste da expectativa das empresas, que exigem experiência, enquanto a maioria dos profissionais de tecnologia ainda é jovem e procura aprender. Na pesquisa, 93% dos representantes de companhias responderam que têm necessidade de talentos que já tenham alguma experiência na área.
“No estudo, vimos que os anos de experiência com programação são três vezes mais valorizados que uma graduação na área. Só que a gente ainda não tem esse volume de trabalhadores com esse tempo de atuação no Brasil”, afirma Nathalia Bustamente, coordenadora da Fundação Estudar, em entrevista ao CNN Brasil Business.
Dentro das áreas específicas, também há divergências: enquanto 59% dos profissionais quer trabalhar com programação e 26% apontam linguagens como principal área de interesse entre as hard skills, as companhias procuram mais por desenvolvedores —especialmente os de back-end, full stack e front-end, nessa ordem.
“Algumas empresas entenderam que vão ter que trazer programadores e direcionar eles para os problemas que elas têm, especializar o profissional. Mas, no geral, as companhias querem profissionais multidisciplinares nessa frente”, conta a coordenadora da Estudar.
Seja qual for a necessidade da empresa, ou mesmo satisfeita com a equipe de tecnologia, é necessário entender que os profissionais chegam ao mercado ainda em busca de formação (ou especialização). “As empresas que vão se diferenciar são as que mais investirem em educação e preparação. Mas ainda existe uma mentalidade de pensar que não há tempo para isso”, diz Bustamente.
Formar a mão de obra
Uma solução para as empresas pode ser a busca de parceiros para fornecer esse contingente de profissionais com alguma formação e experiência. Cada vez mais comuns no Brasil, os treinamentos intensivos, como bootcamps e hackatons, prometem acelerar a entrada dessa mão de obra no mercado.
Em dezembro do ano passado, a Fundação Estudar promoveu a primeira edição do Conexão Tech, programa de treinamento financiado por instituições financeiras como Itaú, BTG Pactual, XP e Stone. Ainda existem uma série de iniciativas para o financiamento dos estudos para profissionais que desejam seguir essa área.
“Mas, ainda assim, as empresas vão precisar investir em treinamento ao longo da carreira desse profissional”, diz a coordenadora da fundação.
Na pesquisa, 45% dos jovens mostrou insatisfação com a formação a que teve acesso até agora —mesmo os graduados. Dentre esses, 75% sente necessidade de reciclar o conhecimento que adquiriu e/ou se especializar em alguma área específica.
Remuneração é chave
Adotados pelo discurso das empresas para atrair a geração Z, ou os chamados “nativos digitais”, alguns conceitos como “salário emocional” e remuneração flexível não surtem muito efeito com esse contingente de profissionais.
“Acho que as empresas estão cientes de que esse é um gap e que vão ter que desembolsar mais com profissionais de tecnologia, não existe muito essa ilusão de que o salário pode ser menor se tiver fruta na geladeira. Isso pode se aplicar a outras áreas, mas é difícil contratar um pleno de tech por menos de R$ 8.000”, diz Bustamente.
No levantamento, as categorias apontadas pelas empresas como as mais procuradas foram “pleno”, “sênior” e “coordenador”, com salários que vão de R$ 8.000 a R$ 20.000.