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    O que fala de Elon Musk sobre Asperger pode representar para o mundo corporativo

    A revelação de Musk abriu uma conversa mais ampla sobre liderança empresarial e o espectro do autismo

    Análise de Alexis Benveniste, do CNN Business

    Nova York (CNN) – Nem bem tinha começado seu monólogo de abertura do programa “Saturday Night Live” (SNL) no fim de semana passado, e Elon Musk, o CEO da Tesla e a segunda pessoa mais rica do mundo, falou que tem síndrome de Asperger.

    Foi uma jogada ousada, mesmo para alguém conhecido por ultrapassar os limites, nos negócios e na vida. O empreendedor e fundador da Tesla, SpaceX e Boring Co. vendeu sua primeira empresa para a Compaq por US$ 307 milhões quando tinha 28 anos, e depois ajudou a criar o precursor do que se tornaria o PayPal, antes de ser afastado por seus cofundadores. (Ele manteve suas ações até o IPO de 2002, e a empresa foi comprada pelo eBay no final daquele ano).

    A revelação sincera de Musk no SNL abriu uma conversa mais ampla sobre liderança empresarial e o espectro do autismo.

    Cristina M. Giannantonio e Amy E. Hurley-Hanson, acadêmicas e editoras de uma edição especial da revista “Journal of Business and Management” da Chapman University, intitulada “Autism in the Workplace” (autismo no ambiente de trabalho, em tradução livre), disseram que a revelação de Musk pode mudar a forma como as pessoas lidam com o autismo no trabalho, ajudando a mudar as percepções sobre pessoas com autismo e os tipos de emprego que desejam buscar.

    A saúde mental continua um estigma, especialmente no mundo corporativo

    Em 2013, a Associação Americana de Psiquiatria consolidou quatro categorias separadas de autismo —incluindo a síndrome de Asperger— em um único diagnóstico chamado “Transtorno do Espectro Autista” (TEA). Embora algumas celebridades, como o ex-membro do elenco do SNL Dan Aykroyd, o cineasta Tim Burton e a cantora Susan Boyle, tenham revelado fazer parte do espectro, poucos líderes empresariais fizeram revelações públicas semelhantes. 

    Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), os diagnósticos são caracterizados por diferentes graus de comprometimento nas habilidades linguísticas e de comunicação, bem como padrões repetitivos ou restritivos de pensamento e comportamento. De acordo com o NIH, o TEA é considerado um “transtorno do desenvolvimento” porque sintomas como evitar o contato visual ou um atraso no desenvolvimento da fala tendem a aparecer aos dois anos de idade. 

    Quando se trata do mundo corporativo, funcionários com síndrome de Asperger muitas vezes têm menos horas de trabalho do que gostariam, de acordo com o texto “Autism in the Workplace”. A revista também aponta para um estudo que descobriu que adultos com síndrome de Asperger eram mais propensos a trabalhar meio período, em comparação com a população em geral.

    “Todos nós revelamos um espectro de comportamentos e estilos de aprendizagem neurológica. Reconhecer e aceitar essa neurodiversidade ajuda a criar equipes fortes, criativas e solidárias”, disse a psicóloga empresarial Melanie Katzman ao CNN Business. “Em vez de ver o autismo, a dislexia, TDAH, TOC e outros como patologias, o foco precisa ser em como ver essas predisposições como superpoderes”, acrescentou.

    O cruzamento entre autismo e inovação

    Alguns pensam no autismo como uma circunstância desafiadora, pois quem tem TEA pode ter dificuldades com interações sociais. No entanto, durante anos tem-se falado sobre algumas das pessoas mais bem sucedidas no mundo da tecnologia que vivem e trabalham com a síndrome de Asperger, e se beneficiam dela.

    “No Vale do Silício, já destaquei que muitos dos empreendedores mais bem sucedidos parecem estar sofrendo de uma forma leve de Asperger”, disse o investidor de tecnologia Peter Thiel, em uma entrevista em 2015 com o economista Tyler Cowen. “Acontece que é uma vantagem para a inovação e a criação de grandes empresas”, acrescentou.

     

    Aceitando a diversidade de pensamento

    Em seu monólogo no SNL, Musk fez um aceno para um comportamento de comunicação comum das pessoas que têm síndrome de Asperger, dizendo: “Eu não vou fazer muito contato visual com o elenco hoje à noite.” Tais fatores são importantes para serem considerados no ambiente de trabalho. 

    Katzman enfatizou a importância de criar condições de trabalho onde as pessoas possam compartilhar esse tipo de informação pessoal com segurança e assumir responsabilidades individuais. Ao mencionar o contato visual, Musk “tirou a pressão de si mesmo e reduziu as chances de ser ridicularizado ao longo da noite”, explicou.

    Reduzir o estigma e permitir que as pessoas falem sobre suas diferenças abre espaço para mais diversidade de pensamento e diferentes abordagens no mercado de trabalho, disse a terapeuta e professora assistente da Chapman University Amy Jane Griffiths. “Eu diria que a saúde mental e a deficiência ainda são muito estigmatizadas no mundo corporativo”, comentou. 

    Mas Griffiths apontou que a síndrome de Asperger nem sempre deve ser agrupada com o termo “saúde mental”, uma vez que é geralmente considerada um distúrbio neurodesenvolvimentista. “Talvez o foco possa mudar de ‘o que está errado’ com pessoas com TEA e como podemos ‘corrigir’, para quais dons elas oferecem e como podemos acomodar suas abordagens únicas em nossos ambientes neurotípicos”, finalizou.

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês aqui.)

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