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    No mundo do ‘copia e cola’, tecnologia atesta original e fatura milhões

    As cópias podem até existir, mas haverá apenas uma versão com NFT e token digital, ou seja, apenas uma é a original

    Rodrigo Maia, da CNN

    Copiar e colar diversos tipos de conteúdo para ter uma versão idêntica à original em seu computador é uma das ações mais “antigas” no mundo digital. Em poucos segundos, textos, áudios, fotos e vídeos circulam livremente pelas redes com um simples “Ctrl+C e Ctrl+V”. Depois disso, ninguém mais sabe quem é o autor de fato e qual é a versão original.

    Essa possibilidade de duplicação associada ao que se chama de “produto insubstituível” fez surgir a tecnologia NFT –Non-Fungible Token. Em português, “token não fungível”. Na prática, é algo que não pode ser trocado, que representa algo único e insubstituível.

    O cientista cognitivo e professor de Inteligência Artificial da PUC-SP Diogo Cortiz cita alguns exemplos interessantes para entender a lógica dessa tecnologia. Uma nota de R$ 10 pode ser trocada por outra nota de R$ 10 ou duas notas de R$ 5. E a pessoa que fez a troca não perde o valor que tinha. Isso é um produto substituível. Já o quadro original da Monalisa só tem um. É uma arte exclusiva de Leonardo da Vinci. Algumas cópias podem até ser feitas, tanto no físico como no digital, mas o original tem um valor único e insubstituível.

    A tecnologia NFT traz essa lógica de algo original, único e insubstituível. Por ela, é gerado um token sobre a produção digital específica que vai ficar armazenada em um blockchain –protocolo de segurança– para existir apenas o original.

    Por meio desse armazenamento, que é uma espécie de impressão digital, todos têm acesso à procedência do arquivo com total segurança. As cópias podem até existir, mas haverá apenas uma versão com NFT e token digital, ou seja, apenas uma é a original.

    Recentemente, um quadro original do artista inglês Banksy foi queimado, ao vivo, em uma transmissão pela internet. A versão foi digitalizada com NFT. A pintura original física era avaliada em US$ 95 mil, mas, graças ao NFT, foi vendida por mais de US$ 380 mil, um valor quatro vezes maior.

    Esse cenário pode acelerar um processo de artistas digitais. Já existem alguns portais de arte digital com NFT, como o site Open Sea. Essa é uma tendência importante no mundo digital, mas, assim como acontece no mundo físico, poucos artistas devem concentrar uma capacidade forte de venda, afirma Cortiz.

    Como o blockchain é a base da tecnologia NFT, o processo é muito custoso. Além de questões operacionais, há um enorme consumo de energia. E isso gera um impacto ambiental considerável. Por essa razão, estudos para melhorar a operação do blockchain, principalmente quando associado ao NFT, estão em curso.

    A expansão dessa tecnologia pode chegar a outros mercados. Para Diogo Cortiz, o setor de games deve ser atingido: jogos podem armazenar cartas e personagens exclusivos com habilidades e recursos únicos. E isso pode ter um valor interessante para os gamers. Além disso, diversas marcas digitais podem ser registradas de forma mais segura. O NFT vai ter muita expansão ainda.

    Nessa história de originalidade e criatividade, a entrada da Inteligência Artificial (IA) para competir ou substituir seres humanos causa dúvidas, polêmica e gera insegurança. Neste sentido, Cortiz vai direto ao ponto. Há muita pesquisa em IA sobre criatividade. Quadros criados por essas inteligências já foram vendidos por altos valores. Este cenário dos NFTs e de outras tecnologias pode, sim, trazer um novo significado para as artes digitais e para a entrada da IA num universo que era essencialmente humano.

    Resta saber, por enquanto, o que o consumidor humano vai valorizar mais. A sociedade estará disposta a pagar caro por obras de arte, músicas e jogos criados por inteligências artificiais? Ainda não dá pra saber. 

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