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    No day trade todo mundo ganha, menos o investidor, diz Luciana Seabra, da Spiti

    Ela destaca que os influenciadores conseguiram falar a mesma língua dos investidores iniciantes, algo que gestoras tradicionais não têm feito

    Foto: Divulgação/Spiti

    Matheus Prado, do CNN Brasil Business, em São Paulo

     A casa de análises Spiti, fundada e comandada por Luciana Seabra, lançou na segunda-feira (15) um documentário chamado Money Dopers. Com 34 minutos de duração, o média-metragem traz abordagem crítica sobre o tema que mais assusta gestores e empolga investidores novatos atualmente: o day trade.  

    O filme, gravado pela produtora Bicho+TILT, transita entre o real e o fictício para transmitir sua mensagem. Um ator encena o sonho dos ganhos rápidos e volumosos prometidos pela modalidade enquanto especialistas descrevem os seus riscos, e investidores que perderam dinheiro dessa forma dão o seu depoimento.

    Bruno Giovannetti, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) e pesquisador do tema, Henrique Bredda, gestor do fundo Alaska, Isabella Paschuini, consultora associada da InBehavior Lab, e Aline Tavares, analista de ações da Spiti, são alguns dos participantes da obra.

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, Seabra, especialista em fundos, comemora a entrada massiva de pessoas físicas na bolsa de valores nacional, mas afirma que a ideia do documentário surgiu por causa da abordagem que vem sendo muito ensinada e replicada por investidores de primeira viagem.

    O que me preocupa é quem investe na bolsa e só olha para o curto prazo. Alguns anúncios hoje em dia estão prometendo, através da prática do day trade, a conquista de bens, como carro e casa de luxo, em pouquíssimo tempo. Isso não existe e pode nos fazer perder uma janela importante.

    Luciana Seabra, fundadora e CEO da Spiti

     

    A gestora explica que essa é uma referência em relação à permanência do novo grupo de investidores na bolsa após o primeiro trauma, que inevitavelmente vai ocorrer. Ou seja, demoramos para ter pessoas físicas interessadas pela modalidade e podemos perdê-las rapidamente caso nada seja feito. 

    Uma pesquisa de Fernando Chague e Bruno Giovannetti, da FGV, analisou quase 100 mil pessoas que começaram a realizar operações de day trade em ações no Brasil entre 2013 e 2016, e operaram até 2018. Destes, apenas 127 conseguiram, em média, lucro bruto acima de R$ 100 por mais de 300 sessões. A esmagadora maioria, 99,43%, nem sequer persistiu na atividade.

    Todo mundo ganha dinheiro com o day trade, menos o investidor. Os vendedores dos cursos milagrosos ganham, as plataformas de marketing digital também e as corretoras, idem. Para combater isso precisamos continuar investindo em educação, mas utilizando as mesmas armas dos influenciadores.

    Luciana Seabra, fundadora e CEO da Spiti

     

    Linguagem

    Luciana entende que, para mudar o cenário que vem se impondo atualmente, também é preciso um esforço por parte do mercado tradicional. Ela destaca que os influenciadores conseguiram falar a mesma língua dos investidores iniciantes, algo que gestoras tradicionais não têm feito.

    Já passou da hora de o mercado respeitar esse trabalho realizado na internet. Foram estes influenciadores que conseguiram fazer com que as pessoas físicas olhassem para o mercado financeiro, através de conversas simples e diretas. Podemos aprender algo com este modelo.

    Luciana Seabra, fundadora e CEO da Spiti

     

    A CEO da Spiti argumenta que, no momento de prospecção de clientes, as grandes casas têm sim que utilizar figuras que conversem com linguagem simples e introduzam conceitos de mercado ao público. Depois, passada essa barreira inicial e confirmado o interesse do potencial cliente, é que os profissionais certificados devem entrar em cena.

    Regulador

    Nessa linha, ela entende que a CVM está sensível ao tema, mas entende que o desafio para o regulador é parecido: corrigir distorções no mercado sem perder investidores e tentando interferir o mínimo possível na interação entre os investidores, algo que se tornou extremamente relevante atualmente.

    Temos um problema claro de pessoas não reguladas que estão se aproveitando de investidores iniciantes. Mas considero que a mudança vai passar muito mais pela educação do investidor do que pelo controle do que os agentes do mercado falam na internet.

    Luciana Seabra, fundadora e CEO da Spiti

     

    Mercado

    Questionada sobre o atual momento do mercado financeiro, Seabra diz que um possível excesso de liquidez nos mercados, promovido pelos Bancos Centrais, merece atenção. “A preocupação é que a economia de países como os EUA volte a crescer por recuperação da demanda e, mesmo assim, continue entrando dinheiro por estímulos”, diz. 

    “Isso pode voltar a acender a faísca da inflação.” Especificamente no Brasil, ela entende que o cenário micro, cheio de instabilidades, tem feito com que boas empresas, com bons planos de negócio, estejam descontadas. “Estamos vendo oportunidades muito boas para o longo prazo.”