Investimento em renda variável: do sobe e desce da bolsa, entenda como funciona
Diferentemente da renda fixa, que tem uma remuneração pré-definida em juros, a renda variável oscila conforme a procura, mas pode oferecer ganhos maiores
Conforme a educação financeira cresce e os juros caem no Brasil, cresce também o interesse por formas mais diversificadas de investimentos. Isso aparece no número de participantes da bolsa de valores brasileira: o total de pessoas físicas passou de 1 milhão pela primeira vez em 2019 e, em 2020, seguiu batendo recordes e chegou aos 2,4 milhões, ou mais que o dobro em menos de um ano.
Para a bolsa é uma explosão de novos usuários, mas, para um país de 210 milhões de pessoas, é ainda uma parcela muito pequena. Para uma parcela enorme, investir em ações e em renda variável continua sendo um universo desconhecido.
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O que é renda variável?
As ações são a porta de entrada e a parte mais conhecida de um universo mais amplo que abarca toda a renda variável, a irmã ousada da renda fixa.
A renda fixa é composta por todas aquelas aplicações que têm uma remuneração em juros definida desde o início da aplicação, como a poupança, o Tesouro Direto ou títulos de bancos como CDBs, LCAs e LCIs. Esses juros podem até variar ao longo do tempo (se forem pós-fixados), mas darão sempre uma remuneração positiva e constante para o dinheiro aplicado.
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A grande diferença da renda variável está no fato de que o retorno dela não é previsível. Ele não é dado em juros, como nos títulos de renda fixa, mas pela variação do preço nos ativos, que muda conforme a maior ou menor procura dos investidores e empresas por eles – e, claro, essa variação pode ser tanto para baixo como para cima.
Fundos imobiliários, ETFs, moedas, commodities (como café, açúcar ou petróleo), metais (como ouro) e derivativos (que são espécies de contratos relacionados a outros ativos, como as opções) são outros tipos de investimentos, além das ações, que fazem parte do mundo da renda variável.
Risco de perdas, possibilidade de maiores ganhos
“Há uma série de benefícios de investir na renda variável, mas a grande desvantagem dela é que você pode perder dinheiro; o patrimônio pode cair”, diz Estevão Garcia, coordenador da pós-graduação da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
Se você não sabe como o seu patrimônio vai flutuar, e se pode perder dinheiro, qual é a vantagem então de trazer renda variável para a carteira? A resposta está no fato de que os ganhos também podem ser muito maiores.
Em 2019, por exemplo, o Ibovespa, índice que reúne as ações das maiores empresas da bolsa de valores, teve valorização de 32%, enquanto o CDI, principal referência de juros da renda fixa, acumulou 5,9%. Já em 2020, atingido pelo choque da pandemia de coronavírus, o índice chegou a cair 30% só em março, em uma das piores quedas em décadas.
Muitos desses títulos oferecem também remunerações recorrentes. As ações podem pagar dividendos e juros sobre capital próprio, que são pedaços dos lucros da empresa distribuídos entre todos os sócios. Os fundos imobiliários, que investem em títulos do setor e também em imóveis reais, distribuem remunerações mensais equivalentes aos alugueis que recebem.
No fundo, possuir esses papéis é um caminho bem mais curto e acessível para ser um pequeno dono de uma grande empresa ou de imóveis, por exemplo.
Diversificação e paciência
É de oscilações bruscas como as vistas no choque do coronavírus, em 2020, que vem um dos principais mantras para o investidor da renda variável: não se desfazer do que tem nos momentos de pânico.
No médio e longo prazo, o valor geral das ações tende a se recuperar – a não ser que a empresa em si tenha entrado em algum problema estrutural, como uma falência ou recuperação judicial (casos como o da Oi e das empresas do grupo X de Eike Batista, por exemplo).
Para evitar isso, a diversificação é fundamental – quer dizer, não ter papéis de só uma empresa ou só um setor. Fundos de investimento, como os fundos de ações e os multimercados, são uma maneira de agilizar essa pulverização, já que são formados por diversos ativos ao mesmo tempo. “Para quem não tem muito conhecimento do mercado, e não quer ter trabalho, os fundos são uma maneira de fazer esses investimentos, delegando a gestão da carteira para profissionais”, disse Garcia, da Fipecafi.
Outra atitude importante é pensar nos investimentos em renda variável como aplicações de longo prazo, justamente para contornar as oscilações do dia a dia – um dia as ações da empresa podem estar valendo mais, no outro pode estar valendo menos, mas, no longo prazo, elas tendem a acompanhar a evolução dos negócios e do crescimento daquela companhia.
A exceção são aqueles investidores profissionais e de perfil muito arrojado que entram nesse universo para fazer operações como as de day trade, que lidam com produtos financeiros complexos como derivativos e minicontratos e fazem operações rápidas de compra e venda para ganhar não com as altas, mas com as oscilações – nesses caso, tanto os ganhos quanto as perdas podem ser exponencialmente maiores. https://preprod.cnnbrasil.com.br/business/day-trade-o-que-e-como-fazer-e-vale-a-pena/
“Renda variável não é para colocar o dinheiro de reserva de emergência, que a pessoa pode precisar a qualquer momento; este tem que ficar em um ativo seguro”, disse Garcia. Isto porque, se acontecer algum imprevisto e seu dinheiro estiver preso em ações, você terá que aceitar se desfazer delas por qualquer que seja o preço do momento.
“O ideal é ser um dinheiro além da reserva, e pensar em prazos de pelo menos um ano e meio ou dois”, de acordo com o professor da Fipecafi.
Conheça e respeite seu perfil
Em investimentos, não há certo e errado – há saber quais são seus objetivos, os limites da sua tolerância e investir de acordo com eles.
Em um cenário de juros muito baixos, cresce o coro de especialistas que defendem que todas as pessoas, mesmo as mais conservadoras, devem ter alguma coisinha de seu dinheiro na bolsa de valores, nem que seja 5% ou menos do total. Ainda assim, compreender e respeitar o perfil de risco é fundamental.
“O investidor conservador vai ter pouco ou quase nada de renda variável, enquanto o agressivo pode chegar até a 100% se ele quiser”, disse Garcia.
Todos os bancos e corretoras são obrigados, por regulação, a averiguar o perfil de risco dos clientes – conservador, moderador ou arrojado – antes de eles começarem a investir. A escolha das aplicações é livre, mas a referência do perfil serve como baliza para as decisões da pessoa.
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