Mudança climática pode desencadear crise financeira, diz diretor do FMI
Tobias Adrian citou como as economias das Bahamas, Filipinas e outras nações foram arrasadas por furacões e tufões nos últimos anos
Nova York (CNN Business) – As mudanças climáticas representam sérios riscos para a estabilidade do sistema financeiro, segundo declarou um diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) ao CNN Business.
Tobias Adrian, diretor do Departamento de Mercados Monetário e de Capitais do FMI, afirmou que a crise climática poderia “totalmente” desencadear uma crise financeira.
“A crise climática está se formando de forma lenta, mas é potencialmente desastrosa”, disse Adrian em uma entrevista durante a Conferência Green Swan, um evento virtual focado em como o setor financeiro pode agir contra os riscos climáticos.
A crise climática é uma crise existencial.
Tobias Adrian, diretor do FMI
Ex-funcionário do Federal Reserve Bank de Nova York, Adrian citou como as economias das Bahamas, Filipinas e outras nações foram arrasadas por furacões e tufões nos últimos anos.
“Há muitos países nos quais a catástrofe climática é trágica para o sistema financeiro. Mesmo que não se acredite que ela seja o problema central, ainda há um risco de queda [na economia]. E o gerenciamento de risco trata de garantir que, mesmo nos piores casos, seja possível sobreviver”.
“Choques no sistema financeiro”
Os comentários ecoam um aviso lançado em setembro passado em um relatório do governo dos EUA que reconheceu que “a mudança climática representa um grande risco para a estabilidade do sistema financeiro dos EUA e para sua capacidade de sustentar a economia norte-americana”.
Publicado pelo subcomitê climático da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA, o relatório implorava aos reguladores que trabalhassem “de forma mais urgente e decisiva” para lidar com os iminentes danos econômicos da mudança climática.
Em março, pesquisadores do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) escreveram em outro documento que os riscos econômicos ou financeiros relacionados ao clima podem não impactar necessariamente a estabilidade financeira, embora reconheçam que isso é uma possibilidade em certos cenários.
Tempestades, inundações, incêndios florestais ou outros perigos agudos podem mudar de forma súbita ou revelar novas informações sobre as perspectivas econômicas ou o valor dos ativos financeiros, segundo o relatório do Fed.
“Os riscos climáticos podem se manifestar como choques no sistema financeiro”, escreveram os autores.
Os pesquisadores do Fed acrescentaram que os riscos econômicos e financeiros podem amplificar um ao outro, quando, por exemplo, a destruição de propriedades relacionadas ao clima gera perdas bancárias que levam a menos empréstimos e investimentos.
“Com o potencial de grandes e súbitas mudanças nas percepções de risco, os perigos crônicos podem produzir eventos de reprecificação abrupta caso as expectativas dos investidores ou o sentimento sobre os riscos físicos mudem subitamente”, afirmou o relatório, acrescentando que mais pesquisas são necessárias para entender melhor esses riscos.
Teste de estresse climático
Depois de viverem os anos do governo Trump sem se aprofundarem no tema, os reguladores financeiros dos EUA começaram só agora a examinar esses fatores de risco. Em dezembro, o Fed aderiu formalmente à Rede de Bancos Centrais e Supervisores para Tornar o Sistema Financeiro Verde, um dos copatrocinadores da Conferência Green Swan.
A secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse no mês passado que ela e o presidente Joe Biden estão “comprometidos em usar todo o poder do governo federal dos EUA para lidar com a mudança climática”.
Adrian, o diretor do FMI, destacou quatro áreas principais onde o clima deve ser incorporado à regulamentação financeira, incluindo a introdução de testes de estresse climático de riscos físicos e de como as economias estão expostas à transição energética.
“A crise climática é uma crise existencial”, disse o diretor do FMI. “Exigirá um certo grau de mudanças na forma como olhamos as exposições financeiras. Esse é o objetivo dos testes de estresse climático: conscientizar os investidores. Nos mercados de capitais, a mudança já está acontecendo”.
Embora o FMI já esteja realizando testes de estresse climático em alguns países, tal avaliação exigiria mudanças regulatórias ou mesmo legislativas nos Estados Unidos.
Na pauta do Fed?
Adrian também pediu padrões renovados para dados e divulgação sobre riscos climáticos para aumentar a transparência das empresas.
“Os dados climáticos estão fazendo muito barulho no momento. É muito difícil classificar em que grau uma determinada empresa é verde ou ‘marrom’”, comentou.
Gary Gensler, presidente da SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, recentemente disse ao Congresso dos EUA que planeja introduzir novas regras em torno das divulgações corporativas sobre o clima no final deste ano.
Enquanto isso, Adrian disse que os reguladores devem trabalhar mais para controlar as instituições financeiras de uma forma que torne o sistema mais favorável ao clima. “Isso ainda está no início”.
Por último, Adrian disse que os bancos centrais precisam avaliar como incorporar o clima à política monetária e às compras de ativos –medida que o funcionário do FMI reconheceu ser “bastante controversa”.
Na verdade, uma dúzia de senadores republicanos escreveu uma carta ao presidente do Fed, Jerome Powell, em março, questionando a jurisdição e a experiência do banco central em questões ambientais.
“O esforço não é baseado em ciência ou economia”, escreveram, “mas sim uma profecia que se autorrealiza: alegar que há riscos financeiros com a exploração de energia e outros investimentos desfavorecidos e então usar as alavancas do governo –por meio da burocracia não eleita– para banir ou limitar essas atividades”.
O presidente do Fed, Jerome Powell, recuou, apontando que o banco central dos EUA supervisiona os bancos.
“A razão pela qual estamos focados nas mudanças climáticas”, disse Powell durante um discurso em abril, “é que nosso trabalho é garantir que as instituições financeiras, os bancos, principalmente os maiores, entendam e sejam capazes de administrar os riscos significativos que assumem”.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês aqui.)