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    Minioperadoras devem lançar ofertas de ações em busca R$ 10 bilhões na B3

    Apontada como a maior nesse grupo de operadoras independentes, a Brisanet tem cerca de 700 mil clientes, espalhados por 96 cidades no Nordeste

    Fernanda Guimarães e Marina Aragão, , do Estadão Conteúdo

    A digitalização que caminhou a passos largos, ao longo de mais de um ano de pandemia, começou a tirar do papel os investimentos realizados por provedores independentes de internet, que ficaram cada vez maiores no interior do Brasil. Em um mercado muito pulverizado – são mais de 5 mil operadoras no País -, algumas dessas micro-operadoras tomaram a posição de consolidadoras, com planos agressivos de expandir suas redes de fibra óptica.

    Com esse planejamento embaixo do braço, um grupo de negócios deve buscar recursos na Bolsa de Valores, com ofertas de ações com potencial de girar cerca de R$ 10 bilhões. Distante das capitais onde Vivo, Tim, Oi e Claro dominam os serviços de internet, as pequenas e médias operadoras avançaram pelo Brasil. O ganho de participação de mercado foi rápido, visto que desde cedo elas começaram a investir em fibra óptica, tecnologia que garante mais velocidade e qualidade na conexão.

    Hoje, de acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e compilados pela consultoria Teleco, 41,5% dos acessos da banda larga no Brasil são feitos por meio de pequenas e médias operadoras. No recorte do acesso por fibra, a participação no mercado é ainda maior: chega a 60%.

    Dentre as empresas que já estão avançadas no processo para realizar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), estão as provedoras regionais Brisanet, Desktop, Unifique e Vero – do fundo Vinci Partners.

    A aposta do mercado é que ainda abram capital mais à frente a America Net e a Sumicity, do fundo EB Capital, que está trabalhando na consolidação desse mercado (mais informações nesta página). Abocanhando a fatia onde as grandes não tinham conseguido chegar, em um país de dimensões continentais, essas empresas querem levantar recursos para crescer com uma oferta em ações – o que há algum tempo era exclusividade de grandes companhias.

    Na Bolsa brasileira, por exemplo, todas as grandes são listadas, com exceção da mexicana América Móvil, dona da Claro, que já está inclusa na Bolsa mexicana e na de Nova York.

    “Essas operadoras têm registrado um crescimento muito forte nos últimos três a quatro anos. Elas começaram lá atrás usando acesso via rádio e depois optaram em investir por fibra. Começaram pequenas e agora passam por um movimento forte de consolidação”, explica o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude.

    Entre os 5.570 municípios brasileiros, essas empresas são líderes de mercado em 4.306 (77%). “Agora, elas estão buscando recursos para comprar as menores”, afirma Tude. Dentre as grandes operadoras, segundo ele, quem deveria ter presença grande no interior é a Oi. Mas, por causa da dificuldades financeiras, a empresa atrasou seus investimentos; hoje, em recuperação judicial e vendendo ativos, passou a investir em fibra.

    Nordeste

    Apontada como a maior nesse grupo de operadoras independentes, a Brisanet tem cerca de 700 mil clientes, espalhados por 96 cidades no Nordeste, conforme informações do prospecto da sua oferta inicial de ações. A operação está planejada para ocorrer ainda neste ano e pode movimentar cerca de R$ 2 bilhões.

    “A companhia vem crescendo sua base de assinantes, em termos compostos em mais de 60% nos últimos três anos, ganhando mercado tanto de empresas locais quanto das grandes operadoras e se consolidando como uma das principais empresas de banda larga fixa do País, alcançando também diversas cidades de maior porte, incluindo capitais”, diz, no documento. No ano passado, a companhia registrou um faturamento líquido de R$ 471,8 milhões, ante R$ 43,1 bilhões da Vivo, R$ 18,7 bilhões da Oi e R$ 17,2 bilhões da Tim.

    Para o professor e coordenador de Tecnologia da Informação e Inovação Digital da FGV EAESP, Alberto Luiz Albertin, o cenário demonstra aumento da competição, algo que será saudável para o mercado. Do lado das grandes operadoras, elas terão de decidir se continuarão focadas nos grandes centros ou sevão competir em outras regiões. “A fibra óptica tem melhor desempenho, lógico que não tem mobilidade, é preciso um investimento de infraestrutura inicial, o que explica porque as grandes não estão nos locais mais afastados. As pequenas e médias podem estar lá.”

    Com essa digitalização mais acelerada, o ritmo de crescimento das operadoras menores tem sido de 60%. “Estamos falando de um mercado bastante fragmentado, com quase 5 mil empresas, que está crescendo capitaneado pela fibra óptica”, diz o analista de Tech, Media e Telecom (TMT) da XP, Bernardo Guttmann.

    Para Albertin, o 5G deve aquecer ainda mais esse setor. “Os pequenos e médios já estão se posicionando para prestar esse serviço e atender as demandas.” Procuradas, Brisanet e Unifique não comentaram. Desktop e Vero não retornaram o contato.

    Fundos de investimentos

    O mercado de provedores menores de internet regionais já chamou a atenção dos fundos de private equity, como a EB Capital, que inclui nomes de peso como Luciana Ribeiro, Eduardo Sirotsky Melzer, o ex-presidente da Petrobrás Pedro Parente, egressos do Grupo RBS, e Fernando Iunes, ex-Itaú BBA. No ano passado, o fundo captou R$ 2 bilhões na corrida para consolidar o mercado de provedores de internet de fibra óptica.

    A tese por trás é exatamente partir para a consolidação desse mercado, ainda extremamente pulverizado, segundo Felipe Matsunaga, sócio e responsável pela área financeira EB Fibra. “As grandes tiveram um problema de capex (alocação de capital), e o Brasil é um país continental. Com isso, os provedores menores conseguiram prover tecnologia com melhor qualidade”, afirma.

    Capitalizado, o EB já investiu em oito provedoras de internet, conseguindo com isso já ter presença nacional. O fundo projeta encerrar este ano com 1,2 milhão de assinaturas, afirma Matsunaga. Neste momento, segundo ele, um outro investimento, em uma provedora de internet no Sul, está na mesa e pode ser anunciado em breve.

    Entusiasta desse mercado, o executivo diz que o número de provedoras de internet hoje no Brasil não é algo razoável. Nesse processo de consolidação, algumas empresas devem ser adquiridas por companhias em posição melhor e outras podem sumir do mercado, à medida que as concorrentes avançam com suas redes para mais regiões, levando internet mais rápida, de melhor qualidade e a um custo mais baixo.

    Quem são:

    Brisanet: Criada em 1998, a Brisanet foi fundada pelo empresário José Roberto Nogueira, em Pereiro (CE), e oferecia, inicialmente, conexão via rádio. Em 2010, a Brisanet começou a utilizar a fibra óptica e também ganhou espaço para trabalhar com sinal de telefonia fixa e TV a cabo no interior. Hoje, a empresa atende 96 municípios dos Estados do Ceará, Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.

    Desktop: Com quase 24 anos de atuação, a Desktop Internet Services já opera mais de 16,5 mil km de redes próprias de fibra óptica no Estado de São Paulo. A empresa, que tem sede no município de Sumaré, conta com mais de 321 mil usuários ativos, em 53 cidades paulistas, como Jundiaí e Piracicaba.

    Unifique: A Unifique foi fundada em novembro de 1997, com a marca TPA – Timbó Provedor de Acesso – e atendia somente a cidade de Timbó, em Santa Catarina. Com foco na região sul do Brasil, a companhia é a maior provedora de fibra óptica no Estado e já cobre mais de 1 milhão de residências.

    Vero: A Vero foi criada em 2019, a partir da compra e fusão de oito provedores de banda larga de Minas Gerais – BD OnLine, NWNet, Efibra, PowerLine, G4 Telecom, Viaceu, ViaReal e City10. Parte do portfólio pela Vinci Partners, a provedora mira um IPO que pode movimentar R$ 1,5 bilhão.