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    Mercado teme ameaças institucionais, mas ainda hesita sobre impeachment

    No primeiro dia de negócios após feriado de manifestações, o dólar subiu quase 3% e a bolsa de valores caiu quase 4%

    Juliana Eliasdo CNN Business , em São Paulo

    A mais nova subida de tom do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em seus discursos nas manifestações pró-governo deste 7 de Setembro tiveram impactos imediatos sobre o mercado financeiro brasileiro: o dólar subiu quase 3% e a Bolsa de Valores caiu quase 4%.

    Foi a maior queda desde 8 de março, dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as denúncias contra Luiz Inácio Lula da Silva, tornou o ex-presidente elegível novamente e reconfigurou o tabuleiro das próximas eleições presidenciais, em 2022.

    A fala mais simbólica de Bolsonaro durante os atos – “qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá” -, causou reação de juristas a lideranças políticas, e também não foi bem vista por investidores, gestores e analistas dos bancos e corretoras.

    “O impacto é muito negativo, porque cria uma espécie de suspeita sobre se o processo eleitoral será respeitado”, disse Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da gestora de fundos RPS Capital.

    “Ele [Bolsonaro] teve tempo de pensar o que ia falar, poderia ter feito um discurso apaziguador, e preferiu continuar apostando no confronto”, disse o economista-chefe da gestora Infinity Asset, Jason Vieira. “O que o mercado vê, então, é a continuidade da instabilidade”, completa.

    Presidente pressionado

    Essa instabilidade, na prática, aliada à aprovação cadente de Bolsonaro, significa uma agenda econômica cada vez mais escanteada em um momento de pandemia, crise energética, inflação, desemprego e crescimento baixo. Junto desse pacote, presidente e aliados precisam negociar com um Congresso que investiga o governo federal com uma CPI no Senado e tem mais de cem pedidos de impeachment guardados na Câmara.

    “O risco da instabilidade política significa um custo de manutenção mais alto para Bolsonaro no Congresso”, afirma Vieira. “As reformas não andam e o legislativo aproveita para colocar o que quiser”, completa.

    Isto se traduz em concessões de cargos e verbas, em emendas parlamentares que podem tomar ainda mais dinheiro do Orçamento, projetos que saem do Parlamento desconfigurados ou que, depois de chegar lá, sequer conseguem ser aprovados.

    É esse mesmo cenário que, ao mesmo tempo que preocupa, alivia a tensão de que os discursos inflamados de Bolsonaro se tornem realidade: “Ele não tem apoio suficiente para dar um golpe”, disse Barros, da RPS. “Os militares não estão com ele, o ‘PIB’ não está com ele”, completa.

    Ruim sem impeachment, pior com

    Mesmo assim, ainda não parece ser desta vez que o mercado financeiro – um dos principais fiadores das promessas liberais que subiram com Bolsonaro à Presidência – irá embarcar em massa no impeachment do presidente, como aconteceu, por exemplo, há quatro anos na campanha pela saída de Dilma Rousseff.

    Depois dos discursos inflamados da terça-feira (7), a proposta de barrar Bolsonaro começou a ser discutida a sério por partidos de várias frentes.

    Na Avenida Faria Lima, a “Wall Street” paulistana, o assunto ainda divide opiniões. Se, nos arroubos iniciais deste mandato, o impeachment do novo presidente eleito era para o mercado uma questão completamente fora de pauta, agora já há aqueles que consideram essa possibilidade.

    “O mercado está muito dividido”, conta Leal, da RPS. “Há os que acham que é melhor já acabar com essa palhaçada logo, e aqueles para quem ainda pesam os danos de médio e longo prazo”, completa, mencionando os dois outros impeachments desde a redemocratização brasileira — Collor, em 1992, e Dilma, em 2016 — e o risco de imagem para um país emergente tão instável.

    O tom predominante entre os donos do dinheiro, de toda maneira, ainda é de que a probabilidade de um impeachment continua baixa, tanto quanto sequer é desejável.

    Boa parte da piora da Bolsa e do dólar na sessão de quarta-feira, inclusive, foi pelo medo de que um novo processo de impedimento acabe de fato ganhando corpo, dizem analistas.

    A avaliação é que o afastamento do presidente pode ser uma solução mais instável do que a instabilidade que teria a pretensão de resolver.

    “Para a visão geral do mercado, o impeachment seria uma coisa muito ruim”, diz o economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito.

    “Gera muito ruído. Vai entrar o [vice-presidente] Mourão? Vai ficar tudo na mão do centrão? Seria um ambiente ainda mais incerto, e aí o preço dos ativos caem”, completa Perfeito.

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