Mercado espera que Copom eleve Selic a 9,25%, mesmo patamar de julho de 2017
Persistência da alta da inflação é principal fator para as previsões


O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide nesta quarta-feira (8) se vai alterar, e em quanto, a taxa básica de juros do país, a taxa Selic. A expectativa do mercado é que ela suba 1,5 ponto percentual, chegando a 9,25% ao ano.
Com isso, a taxa terminará 2021 no mesmo patamar de julho de 2017, e logo após iniciou uma sequência de quedas que se intensificou em 2019. Por trás desse retorno a patamares elevados está a tentativa do Banco Central de conter a inflação.
O último dado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial de país, foi divulgado em outubro. Considerando o mesmo mês em outros anos, a alta foi a maior desde 2002, com 1,25%. Já no acumulado de 12 meses, o índice chegou a 10,67%, maior valor desde janeiro de 2016.
Para analistas, a alta que deve ocorrer nesta quarta é reflexo de uma continuidade da tendência de alta da inflação, que tem se mostrado persistente. Com isso, o movimento já afeta as expectativas para inflação e juros tanto para 2022 quanto para 2023.
Expectativas
A possibilidade de alta de 1,5 ponto percentual já havia sido levantada pelo próprio Copom, na ata da última reunião de política monetária, em outubro. Naquele mês, a Selic já tinha sido elevada em 1,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano, na maior alta desde 2003.
Segundo a ata, as duas altas seguidas seriam consequência de uma “deterioração no balanço de riscos e do aumento de suas projeções”.
A previsão de um novo ajuste, porém, não é garantia de que ele ocorrerá nesta reunião, mas os analistas apontam que isso é provável, já que as projeções do Copom foram superadas.
“Desde a última reunião do Copom, as expectativas de inflação reportadas pela pesquisa Focus subiram de 8,96% para 10,15% em 2021 e de 4,40% para 5% em 2022. Para 2023, as expectativas avançaram 0,15 p.p., atingindo 3,42%”, afirma relatório do banco Itaú.
A piora das projeções para inflação reportadas no Focus também refletiram em uma expectativa de Selic mais alta que o previsto anteriormente. O último relatório, divulgado na segunda-feira (6) aponta que a mediana das projeções é de uma Selic a 9,25% ao ano ao fim de 2021, e de 11,25% ao ano ao fim de 2022.
A visão do Itaú não é exceção. Consultados pelo CNN Brasil Business, a Genial Investimentos, a XP Investimentos e o Banco UBS BB afirmaram que estimam a Selic em 9,25% após a reunião. A Associação Brasileira de Bancos (ABBC) também espera uma alta nessa magnitude.
“Trabalhamos com o ciclo de alta da Selic se encerrando em 12% e permanecendo neste nível até o final de 2022 como forma de trazer a inflação em direção ao centro da meta”, afirma Yihao Lin, economista da Genial. Segundo ele, a expectativa é que a inflação em 2022 continue acima do teto da meta, em 5,3%.
Além do cenário-base de alta de 1,5 ponto percentual, que tem entre 85% e 87% de probabilidade, a XP trabalha ainda com um cenário alternativo, de alta de 1,75 ponto percentual. Ele tem entre 7% e 8% de chance de ocorrer, e destacaria os “esforços para o controle da inflação”.
“Caso o cenário-base se concretize, acreditamos que não deva haver reação significativa do mercado, uma vez que essa perspectiva já está bem precificada na curva de juros”, afirmou em relatório. Já o cenário alternativo, visto como mais duro, poderia resultar em perda da inclinação na curva dos juros futuros, que reflete as previsões dos investidores.
A expectativa da empresa é que a Selic encerre o ciclo de alta em 11,5%, o que ocorreria já no início de 2022. Já o Itaú estima a Selic em 11,75% ao fim do primeiro trimestre do próximo ano.
“Em sua comunicação, esperamos que o comitê sinalize um outro aumento de mesma magnitude para a reunião seguinte, em fevereiro, e que siga reforçando o alerta sobre a necessidade de reduzir a incerteza sobre as perspectivas fiscais”, diz o banco em relatório.
O UBS BB prevê a Selic a 11,5% ao fim de março de 2022, com uma nova alta de 1,5 ponto percentual em fevereiro e outra de 0,75 em março. Para ele, o “principal foco do Banco Central para a política monetária moverá de 2022 para 2023”.
Causas
A equipe da XP afirma que houve um “fluxo ambíguo de dados divulgados recentemente”, o que deve fazer com que o Copom não altere a estratégia de subir a Selic a 9,25%. O relatório cita os indicadores de inflação, que subiram desde a última reunião do comitê.
“Por outro lado, a atividade perdeu fôlego antes do esperado, e é consenso que a economia entrará em recessão em 2022. A demanda interna mais fraca indica que em 2022 será bem mais difícil o repasse da alta de custo aos preços ao consumidor”, diz o relatório.
Um recuo nos preços das commodities, em especial do petróleo, e um regime de chuvas melhor que o esperado são citados como fatores positivos contra a inflação. As altas na conta de luz e nos combustíveis estão entre os principais elementos por trás das pressões inflacionárias no Brasil.
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O pimentão lidera a lista de itens mais impactados pela inflação em 2021. O preço do alimento disparou 82% desde o início do ano. • Pixabay
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O etanol ocupa o segundo lugar do ranking, após subir cerca de 51,25% desde janeiro. • Reuters
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Fechando o pódio temos o açúcar refinado, que teve acréscimo de 41% no preço acumulado de 2021. • Pixabay
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A mandioca, ou aipim, é outro item que ficou bastante vulnerável com a inflação. O preço da mandioca subiu 39,75% em 2021.
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Um dos maiores vilões no início do ano, o opeino ficou 39% mais caro no acumulado de 2021. • Getty Images
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No meio da tabela encontra-se a gasolina. Não é surpresa que o combustível ficou mais caro ao longo de 2021. Até outubro, a gasolina registrou aumento de 38,29%. • Reuters
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O melão é outro vilão da inflação em 2021. O alimento ficou mais caro 36,34% desde janeiro. • Pexels
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O diesel é outro combustível afetado pela inflação. O óleo teve aumento de 36,32% somente este ano. • Marcello Casal jr/Agência Brasil
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O botijão de gás foi outro que sofreu com o aumento dos preços Desde janeiro, ele acumula alta de 33,34%. • Foto: Pedro Ventura/Agência Brasil
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Fechando a lista, o gás veícular teve aumento no preço de 32,11% desde o início do ano. • Foto pública
Já a equipe do Itaú afirma que “a pressão inflacionária segue intensa e disseminada, contaminando as expectativas de inflação e as próprias projeções do Banco Central. Acreditamos que a manutenção do ritmo de ajuste de 1,5 p.p. e a elevação da Selic para patamar significativamente contracionista ajudarão no processo de desinflação”.
O relatório do banco destaca o recuou do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, e a queda da produção industrial, que ficou abaixo das expectativas. Para os economistas do banco, o IPCA-15 de novembro, considerado a prévia da inflação, e o IPCA de outubro foram surpresas positivas.
A análise do UBS BB é que a inflação no Brasil “se provou mais persistente do que o previsto inicialmente, e as expectativas para 2022 e 2023 se deterioraram em meio às incertezas sobre o período eleitoral de 2022 e as contas fiscais”.
Uma apreensão do mercado é a possibilidade de o governo aumentar os gastos no período eleitoral, ameaçando o equilíbrio fiscal. O temor leva à alta do dólar, com retirada de investimentos, e encarece uma série de produtos e cadeias de produção.
Para Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, superintendente da ABBC, “o ritmo de expansão do IPCA corrente alcançou 10,67% ao ano, mostrando um grau de disseminação e persistência maior do que o antecipado por grande parte dos analistas”.
Segundo ele, o Banco Central terá um desafio em 2022 para tentar trazer a inflação de volta à meta, devido às defasagens na política monetária. Com a atividade já desacelerada, a autarquia precisará de equilíbrio para conter a inflação pelos juros sem piorar excessivamente a atividade.
Yihao Lin, economista da Genial, afirma que “o Copom deve adotar um discurso mais duro em relação ao processo inflacionário apontando que este é mais persistente do que se imaginava. Na nossa avaliação, os dados do IPCA-15 do mês de novembro apontam para esta direção com os núcleos apresentando fortes avanços, todos acima do teto da meta de inflação”.
O economista cita também uma “fragilização” do teto de gastos, o que gerou incertezas quanto ao quadro fiscal. “Um dos pilares do nosso cenário era exatamente a manutenção do teto, que era uma regra bastante efetiva de disciplina fiscal e bastante importante para o Brasil”. A consequência foi uma piora nas expectativas de inflação. Segundo Lin, “o atual cenário é de mais juros e menos crescimento”.