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    Juro real negativo: por que no Brasil é diferente de outros países 

    Taxa que desconta a inflação futura fica abaixo de zero apenas no curto prazo; juro real fica próximo de 3,8% em taxas de longo prazo

    Banco Central traz os juros reais para o campo negativo, mas apenas os de curto prazo
    Banco Central traz os juros reais para o campo negativo, mas apenas os de curto prazo Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

    Thais Herédiada CNN

    Com a queda do juro básico para 2% ao ano, o Brasil passou a ter oficialmente uma taxa de juro real negativa. Isso significa que, descontada a inflação projetada em 12 meses da taxa nominal, o juro real está negativo em 0,71%. Assim, o país passa para a lista de cerca de 30 países que estão sob o mesmo regime. Mas há uma diferença importante entre nós e os mercados desenvolvidos e outros emergentes com juro negativo. 

    “O juro real negativo do Brasil é só no curto prazo, pelo efeito da Selic baixíssima e inflação próxima de 2%. No longo prazo, o juro real chega próximo de 3,8% ao ano. O juro no Brasil não pode ser tão baixo porque a economia não tem estrutura macroeconômica. Temos produtividade baixa e mercado de crédito pouco desenvolvido”, explicou à coluna o economista Victor Candido, da Journey Capital. 

    O economista diz ainda que a diferença entre a taxa de curto e longo prazo é em parte explicada pelo prêmio de risco do Brasil, um adicional de rentabilidade exigido pelos investidores que financiam a dívida pública. Essa taxa mais alta serve como alerta à manutenção do equilíbrio das contas públicas e da preservação do teto de gastos.

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     “Se o governo não arrumar o fiscal, mostrando que vai controlar o crescimento da dívida pública, essa diferença entre as taxas só vai aumentar. Até o final do ano é importante que fique claro que o teto de gastos será respeitado em 2021 e que as reformas vão avançar. E se a taxa de longo prazo subir, prejudica os efeitos que o juro mais baixo teria na economia”, disse. 

    Quando reduz os juros, o Banco Central tenta estimular a atividade econômica, facilitando o crédito e incentivando o consumo. Mas empresas e pessoas fazem financiamentos de prazos mais longos, entre 3 e 4 anos, exatamente no ponto em que a taxa de juros está bem mais alta, perto dos 4% ao ano. 

    Nesta quinta-feira (6), o mercado de juros futuros reagiu à decisão do Copom da véspera de baixar a Selic para 2% ao ano. Os contratos de curtíssimo prazo tiveram quedas e os de longo prazo ficaram praticamente estáveis, aumentando a diferença entre as taxas. 

    “Isso aconteceu por causa da Selic de ontem e da indicação do BC de que a taxa deve ficar baixa por um bom tempo. Mas o risco fiscal não mudou, então os contratos curtos caem e os de longo prazo ficam elevados ou caem muito pouco. A diferença absoluta entre o curto e o longo chega até a aumentar, o que é um sinal negativo”, analisa Candido. 

    Algumas aplicações financeiras já podem perder rentabilidade por causa da redução do juros. Os investidores se movimentam e buscam alternativas mais rentáveis ou com menor custo, como é o caso da poupança, que não tem taxa de administração nem paga imposto de renda. Parte deste movimento pode explicar a captação líquida de R$ 27 bilhões em julho na poupança.

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