JPMorgan apostou R$ 23 bilhões na Superliga. Como o banco conseguiu errar tanto?
Ao financiar competição, banco não se antecipou às reações negativas que arranhariam sua imagem na Europa


Quando o JPMorgan concordou em financiar a Superliga Europeia, uma competição exclusiva dos clubes de futebol mais ricos do mundo, o banco já esperava discussões acaloradas.
Mas o que a instituição não contava era com as reações que de fato aconteceram: revolta dos fãs, de dirigentes esportivos, do primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson, do presidente francês Emmanuel Macron, além da família real britânica. Assim, os esforços para formar a competição ruíram em questão de dias.
Na última terça-feira (20), seis clubes da Premier Liga inglesa anunciaram sua retirada do projeto (Arsenal, Chelsea, Liverpool, Manchester City, Manchester United e Tottenham Hotspur). No dia seguinte, a baixa veio da Itália (Inter Milan e AC Milan) e da Espanha (Atlético de Madrid). “Não acho que o projeto ainda esteja funcionando” foram as palavras de um dos arquitetos do plano, o presidente do italiano Juventus, Andrea Agnelli.
Os 12 times que tentaram formar a competição foram acusados de tentar orquestrar uma grande tomada de dinheiro se valendo do esporte, o que vai contra as próprias tradições do futebol europeu.
E veio do JPMorgan, maior banco da América Latina, um empréstimo de 3,5 bilhões de euros (cerca de R$ 23 bi) para dar início aos trabalhos da Superliga. Agora, a instituição está sendo pintada como cúmplice dos bilionários donos dos clubes por alinhar sua marca à tentativa de acabar com um dos ativos culturais mais importantes da Europa, que tem suas raízes na classe trabalhadora.
Nesse contexto, o banco tem sofrido repetidas críticas e sido alvo de postagens irônicas nas redes sociais. Uma delas expõe uma carta recente da corporação aos acionistas, na qual o CEO Jamie Dimon afirma que “as empresas devem agir de forma ética e moral para ganhar a confiança de seus clientes”. Também houve quem criticasse os esforços americanos para dominar o esporte europeu.
Mas como o banco errou tanto?
Nesta sexta-feira (23), o JPMorgan quebrou o silêncio e se pronunciou sobre o assunto. “Está claro que avaliamos mal como este acordo seria visto pela comunidade do futebol como um todo e como poderia impactá-la no futuro. Aprenderemos com isso”, disse um porta-voz do banco.
Fontes internas afirmam que o envolvimento do banco nesta trama foi examinado por um comitê de negócios que avaliou potenciais problemas para a reputação ou riscos de crédito. Na avaliação, previu-se que poderia haver alguma controvérsia, mas que, no final, seria algo “para o futebol decidir”.
“Há sempre um grande componente emocional [nos esportes]”, disse a fonte à CNN americana. “Quando você está tomando uma decisão financeira sobre um empréstimo, você tem que tentar colocar a emoção de lado”.
Ao que tudo indica, as discussões sobre a formação desta nova liga já estavam em andamento há alguns anos, mas o banco não estava envolvido nas negociações dos clubes. A relação do JP com os clubes é algo antigo, exemplificada pelo financiamento do estádio do Real Madrid, cujo presidente Florentino Perez também estava definido para liderar a Super Liga.
O contrato dos bilhões de euros foi uma aposta de longo prazo, com financiamento previsto para ser pago ao longo de 23 anos. A garantia ainda incluía os futuros direitos de transmissão, que, como previam os clubes, seriam extremamente lucrativos.
Ao aceitar participar do projeto, o banco subestimou a magnitude das reações, que foram classificadas internamente como “extraordinárias”. Embora o banco não sofra perdas financeiras com a interrupção da liga, teve sua imagem arranhada entre os fãs do esporte.
Nos tabloides britânicos, essa participação teve grande repercussão. “O risco para a reputação em ser o principal financiador é enorme. Os golpistas de bancos verão isso como um presente”, escreveu o comentarista Ben Marlow no The Telegraph.
Já o The Guardian observou que é uma sorte do JP ainda não ter lançado seu banco digital no Reino Unido. “Se tivesse, provavelmente já seriam ouvidos os pedidos de boicote”, escreveu o editor financeiro Nils Pratley.
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original)