Investimentos em startups podem movimentar US$ 29 bilhões no Brasil em 2022
Fintechs, biotechs e companhias que operam em blockchain serão os destaques do ano, dizem analistas
Apesar dos impactos da pandemia, as startups tiveram um último ano eufórico, marcado por 10 companhias alcançando avaliação de US$ 1 bilhão — os novos unicórnios –, e quebra de recordes em investimentos de risco. O Brasil registrou cerca de US$ 10 bilhões em aportes.
E 2022 está caminhando para se consagrar no mesmo ritmo, segundo especialistas ouvidos pelo CNN Brasil Business.
A Sling Hub projetou que se as startups brasileiras repetirem o mesmo crescimento apresentado no ano passado, é possível que fechem este ano com um volume investido de US$ 29,4 bilhões.
“Sendo menos otimista, podemos imaginar que o mercado cresça apenas metade do que cresceu no período anterior, ainda assim terminaríamos o ano com um total captado maior que 2021, de US$ 19,7 bilhões”, afirma João Ventura, CEO da Sling Hub.
Companhias que operam em blockchain e biotech, modelo de negócio que visa a utilização de seres vivos (células e moléculas, por exemplo) para desenvolver produtos para o setor agrícola, farmacêutico e alimentício, estão entre as favoritas dos especialistas.
Beatriz de Orleans e Bragança, analista de investimentos da Fuse Capital, diz que o Brasil experimentou um “crescimento inigualável” no setor de biotech, “muito devido à maturidade científica”.
Para ela, ajuda o fato de o Brasil ter uma das maiores populações do mundo. Além disso, a previsão é que, em 2028, o país deve gastar em saúde cerca de US$ 333,1 bilhões, ficando entre os 10 maiores do mercado, e deve ocupar a sexta posição no mercado farmacêutico mundial, movimentando em torno de US$ 39 bilhões, em 2023.
Já Camila Nasser, CEO do Kria, acredita que esta é a vez dos blockchains, NFTs e criptomoedas. “Cada vez mais os nichos tradicionais vão dar espaço para segmentos diferentes”.
Ela afirma que falar de cripto não é falar de bitcoin, mas de blockchain, da descentralização e desintermediação das infraestruturas, “de toda uma evolução nas tecnologias e ferramentas que temos hoje”.
“Então, a gama de soluções para esse novo ecossistema é gigantesca. Estamos falando de uma nova forma de interagir e consumir a tecnologia. NFT pode ser moda ou pode ter chegado para ficar, o tempo que vai dizer. Mas a tecnologia por trás dela, não”.
Julian Tonioli, investidor-anjo e sócio da Auddas, também concorda com Camila. Ele diz que novas tecnologias vão acelerar as oportunidades de investimentos, “principalmente com o advento do 5G, que impulsionará as tecnologias de realidade aumentada, virtualização, e metaverso”.
“Também acredito em um aumento no investimento relacionado ao que se conhece como ‘DeFi’, que é a digitalização e a decentralização do sistema financeiro, apoiando-se em tecnologias como criptomoedas e tokens”.
Por outro lado, Gustavo Gierun, CEO e cofundador do Distrito, diz que “historicamente, o setor de fintechs lidera tanto em número de transações quanto em volume investido. A distância para os demais setores ainda é muito relevante e é improvável que algum outro mercado possa assumir esta posição”.
De acordo com a Sling Hub, o setor de fintechs é o mais financiado desde 2019. No ano passado, arrecadaram US$ 3,8 bilhões, quase 40% do montante total do ano, e 153% mais alto que 2020.
Gierun diz ainda que os recursos que serão investidos nos próximos 12 a 18 meses já foram captados pelos fundos em 2020 e 2021, “assim, os investidores de venture capital buscam capturar tendências e movimentos de mercado de longo prazo. Por isso são menos sensíveis à conjuntura político-econômica”.
Um apressão negativa para o setor pode vir do atual ciclo de alta dos juros, alerta a analista de investimentos da Fuse Capital. “Em um ambiente macroeconômico menos favorável – aumento de juros e possível recessão – o cenário de venture capital pode ficar mais desafiador. Mas não no curto prazo”.
2021
Beatriz afirma também que a pandemia impulsionou muitos negócios e muitas pessoas a ingressarem no mundo digital, o que ajudou o mercado de startups. “Seja usando serviços de entrega a domicílio, telemedicina, ou o próprio Pix”.
“Esse efeito combinado a um cenário favorável de juros e grande interesse em tecnologia, atraiu muita liquidez a um mercado [brasileiro] que era anteriormente travado, se comparado a outras regiões do mundo”.
Um levantamento da Sling Hub apontou ainda que, contra 2020, o ano anterior teve um crescimento de quase 200% no volume de investimentos direcionados às startups brasileiras. O tamanho médio das rodadas foi de US$ 13,7 milhões, alta de 150% no comparativo ano a ano.
Ao todo, foram 760 rodadas de investimentos, sendo que 393 startups brasileiras foram financiadas pela primeira vez em 2021. As empresas que viraram unicórnios foram: MadeiraMadeira, Mercado Bitcoin, Unico, Facily, C6 Bank, Olist, cloudwalk, hotmart, merama, frete.com.
Segundo o Distrito, no Brasil, o total de investimento recebido em 2021 pelas startups foi de US$ 9,4 bilhões.