Insegurança alimentar atinge 36% do Brasil, revela pesquisa
Índice no país está acima da média global no ano passado, que ficou em 35%; mulheres são mais afetadas
Dados preparados pela da FGV Social com base em dados do instituto Gallup revelam que, no ano passado, a insegurança alimentar atingiu 36% da população brasileira. Os dados do país são superiores à média global, que ficou em 35%. Por ser de 2021, a estatística não mede a influência da guerra na Ucrânia.
O percentual de pessoas que não tiveram dinheiro para comer ou para alimentar suas famílias vem subindo nos últimos anos. A fome começou a crescer no Brasil em 2014, por causa da recessão econômica dos anos do governo Dilma Rousseff (PT). Chegou a 30% no início do governo Jair Bolsonaro (PL) e, com a pandemia da Covid-19, atingiu o patamar atual de 36%, ficando pela primeira vez, acima da média mundial.
Entre as mulheres, a fome deu um salto: quase metade das mulheres brasileiras (47%) não tiveram condições de dar comida aos seus filhos no ano passado. Em 2019, o percentual era de 33%. A média global em 2021 estava em 37%. O fechamento das escolas agravou a fome das crianças, já que elas ficaram sem merenda e suas mães tiveram de parar de trabalhar.
Já entre os homens, o percentual caiu de 27% para 26% de 2019 a 2021. A média global é de 33%.
Ao contrário do que acontece, por exemplo, em um desastre climático, a epidemia de fome provocada pela Covid-19 atingiu a população de forma muito desigual. Entre os 20% mais pobres a quantidade de pessoas com fome aumentou 22 pontos percentuais no Brasil (de 53% para 75%), muito acima da média do mundo, de 48%. O índice de 75% chega perto ao do Zimbábue, de 80%.
Já entre os mais ricos, a insegurança alimentar diminuiu entre 2019 e 2021, caindo de 10% para 7%, percentual igual ao da Suécia. A média global é 21%.
O economista Marcelo Neri, professor da FGV e diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV, avalia que as mudanças no Auxílio Emergencial desde o início da pandemia podem ter relação com o cenário.
“Em 2020, o Auxílio Emergencial foi bastante generoso, mas ele flutuou. No começo de 2021 foi interrompido e depois retomado. Isso pode ajudar a explicar os números tão altos, com a interrupção do auxílio em 2021”, comenta.
Neri citou também que, do ponto de vista macroeconômico, a alta da inflação também costuma prejudicar mais a população de baixa renda. “A inflação dos pobres, desde 2014, já estava 6 pontos mais elevada do que a de renda mais alta. E nesses últimos 12 meses está em 1,9”, acrescentou.