Inflação tende a ceder em 2021 e BC deve manter juros baixos, dizem analistas
Comitê de Política Monetária do Banco Central anunciou nesta quarta-feira a decisão de manter a taxa Selic em 2% ao ano
Apesar de uma inflação salgada divulgada apenas um dia antes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (9) que decidiu manter a taxa Selic, piso dos juros no país, nos atuais 2% ao ano. Este é o menor nível já registrado.
Em seu comunicado, o Copom reafirmou que as pressões de preços atuais são passageiras, o que já vem dizendo há alguns meses, e reforçou um cenário em que os juros continuam nesta mínima histórica ainda por um bom tempo ao longo de 2021, pelo menos.
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A avaliação do colegiado é que, apesar das altas de preço agora, tidas como temporárias, o país ainda segue com uma economia deprimida que necessita do superestímulo que são juros tão baixos.
“A conjuntura econômica continua a prescrever estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”, escreveram os membros do Copom em seu comunicado.
O fato é que a inflação mudou muito nesse meio tempo. Se até o meio do ano ela estava girando próximo dos 2% e o medo era que ficasse baixa demais, uma disparada dos preços, principalmente dos alimentos, a fez subir rápido nos meses seguintes.
No mês passado, o IPCA, indicador oficial de preços, já acumulava alta de 4,3% em 12 meses, conforme divulgou na terça-feira (8) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já é mais, inclusive, do que o centro da meta que idealmente deve ser acertado pelo governo, de 4%.
BC usa juros para controlar inflação
Os juros são a principal ferramenta usada pela política econômica para domar as altas de preços. Aumentos de juros encarecem o crédito e financiamentos a investimentos produtivos, como em infraestrutura e novas fábricas, o que esfria o consumo e tende a fazer a inflação baixar. É o caminho usado quando a inflação foge do controle.
Por outro lado, se a atividade econômica está muito fraca, a inflação também tende a fixar baixa demais, e o Banco Central pode reduzir os juros para estimular a atividade.
Inflação deve ser menor em 2021
E não é só o Banco Central que aposta no caráter temporário das disparadas recentes de preços a que todos estão assistindo nas prateleiras de supermercados e em outros produtos.
Economistas e analistas também concordam que a inflação deve voltar a baixar em breve e ser mais tranquila em 2021 –e isso não necessariamente vai acontecer por uma boa causa.
“Retirados os estímulos à economia [como o auxílio emergencial], a renda deve cair no ano que vem”, disse o superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander Brasil, Maurício Oreng.
De acordo com ele, o repique de inflação a que assistimos nesta segunda metade de 2020 foi causado em parte por dólar alto e alta demanda de fora, que puxou as exportações de produtos básicos, como os alimentos, e em parte pela mudança nos hábitos de consumo dos brasileiros durante a pandemia.
Com a renda extra do auxílio e o maior tempo gasto em casa, houve uma corrida aos supermercados, que também levou a mais aumento de preços.
“São fatores temporários. Em 2021, a economia vai ter uma ociosidade maior, o mercado de trabalho seguirá bem fraco e isso deve ajudar os preços a ceder”, disse Oreng.
Segundo o economista, já em janeiro os consumidores podem esperar que os preços dos alimentos interrompam as altas fortes e voltem a se acalmar. A projeção do Santander é que a inflação caia da casa dos 4,2%, em que está hoje, para 3%, ao fim do ano que vem.
É também a visão da economista da LCA Consultores Thais Zara. “Houve uma combinação de fatores externos e internos que fez com que a inflação da alimentação acabasse pressionada, mas eles são passageiros”, disse. “Não significa que os preços vão cair, mas não devem mais ter muitos aumentos.”
A projeção da LCA é que, depois de encerrar este ano em alta de 18%, a inflação dos alimentos nos supermercados fique em 2% no ano que vem.
É essa janela de enfraquecimento que abre o caminho para que os juros continuem baixos ainda por um tempo em 2021, enquanto continua a incerteza de uma recuperação robusta da economia após o choque deste ano.
“Os juros devem continuar baixos [em 2%] ainda por um tempo. O que talvez possa acontecer é que o BC decida subi-los um pouco antes”, disse Zara.
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