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    Greve no BC atrasa divulgações e atrapalha análises econômicas, dizem especialistas

    Representantes sindicais devem se reunir com representante do Ministério da Economia nesta terça-feira (5) para discutir reivindicações da categoria

    Sede do Banco Central em Brasília
    Sede do Banco Central em Brasília Marcello Casal Jr./Agência Brasil

    Juliana Eliasdo CNN Brasil Business*

    em São Paulo

    A greve dos funcionários do Banco Central, iniciada oficialmente na sexta-feira (1), aumentou os atrasos que já vinham acontecendo em divulgações coordenadas pela autarquia e já começa a ser sentida pelas mesas de análises de bancos, corretoras e consultorias, segundo fontes ouvidas pela CNN Brasil.

    Serviços intermediados pelo BC, como a distribuição de cédulas e moedas e as operações do Pix, são outros que também estão sob equipes reduzidas e que correm riscos de sofrer interrupções, de acordo com o sindicato da categoria.

    Em nota, o BC afirma que o Pix é um serviço automatizado e continuará funcionando normalmente mesmo sob a greve. Também afirma que tem equipes de contingência para garantir a continuidade de seus principais serviços.

    Os servidores do BC, que estão em seu quarto ano sem reajuste salarial, pedem a reposição da inflação do período, de 27%, em seus contracheques, e reclamam que não vinham sendo ouvidos.

    “Ninguém queria greve, preferíamos negociar, mas estamos tentando negociar desde novembro do ano passado e não éramos ouvidos”, disse o presidente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), Fabio Faiad.

    Um primeiro encontro com o governo, para discutir as reivindicações, ficou agendado para esta terça-feira (5) com Leonardo Sultani, secretário do ministro Paulo Guedes para Gestão de Pessoas do Ministério da Economia.

    A adesão à greve, de acordo com o Sinal, está em 60%. Antes da paralisação total iniciada na última sexta, os técnicos já vinham desde janeiro fazendo pequenas paradas de duas a quatro horas.

    Dados atrasados

    Entre os principais atrasos nos dados centralizados pelo BC, está o relatório Boletim Focus, um compilado divulgado semanalmente, todas as segundas-feiras pela manhã, com as projeções de uma centena de bancos, corretoras e casas de análises para os principais indicadores econômicos do país, como PIB, juros e inflação.

    Depois de passar as últimas semanas atrasando em algumas horas, o Focus deixou de ser divulgado pela primeira vez nesta segunda-feira (4).

    “O Focus é uma coisa que olhamos todos os dias, não só às segundas, para saber a tendências das expectativas de mercado, e em especial em um momento tão cheio de incertezas e de mudanças importantes como o de agora”, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves.

    Nesta semana, o BC informou em comunicado que, além do Focus, também irá atrasar a divulgação dos indicadores selecionados (Indeco), que incluem o movimento de câmbio no Brasil, as operações cambiais do BC e o índice de commodities (IC-Br), e o Relatório de Poupança, publicação mensal que informa o volume total de dinheiro aplicado e retirado das cadernetas.

    Ambos eram previstos para esta semana e estão sem data prevista. “Oportunamente, informaremos as datas de suas respectivas publicações. O aviso sobre as novas datas será dado com pelo menos 24 horas de antecedência”, disse o BC.

    As estatísticas de setor externo, crédito e fiscais referentes a fevereiro, que deveriam ter sido conhecidas na semana passada, também estão atrasadas.

    Da mesma forma, a divulgação semanal do fluxo cambial, que mensura a entrada e saída de dólares em aplicações financeiras e investimentos diretos, por exemplo, não ocorreu na semana passada e segue em aberto.

    “Isso sem dúvida traz problemas para o nosso trabalho [de análise], que precisa de dados para poder ser feito; ficamos meio no escuro”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

    “Sem contar as questões operacionais do banco, que devem sofrer o maior impacto. Fica difícil fechar uma operação se, com a greve, não tem como saber se alguma taxa que é utilizada com oparâmetro vai estar disponível no dia”, acrescentou.

    Pix e emissão de dinheiro

    De acordo com o presidente do sindicato, Pix e emissão de moedas são alguns dos serviços que estão com as equipes reduzidas por conta da greve. “Pode começar a faltar troco, faltar dinheiro nos bancos”, disse Faiad.

    O Pix, segundo ele, tem todas as operações de pagamento automatizadas, o que segue acontecendo normalmente sem a presença de funcionários, mas é nas equipes de monitoramento e manutenção que fica o grosso do trabalho manual.

    “Há uma megaequipe que monitora várias questões sobre o Pix, para tentar antecipar ataque hacker, problemas no sistema, erros de operação, e que faz uma manutenção rapidíssima se algo for detectado”, conta Faiad. “Com as duas equipes em greve e só uma equipe de contingência [menor], essa resposta fica reduzida.”

    Procurado pelo CNN Brasil Business, o BC afastou qualquer possibilidade de falhas no Pix.

    “Não procede a informação de que o Pix será interrompido parcialmente ou em alguns momentos, o sistema continua a operar 24 horas e todos os dias”, informou o Banco Central, por meio de sua assessoria.

    “O cadastramento e outras funcionalidades envolvendo chaves do Pix são realizadas por meio dos aplicativos das instituições participantes, e registradas automaticamente nos sistemas do BC (…). A liquidação das operações, 24 horas por dia, 7 dias por semana, de forma instantânea, também é automatizada e não depende de intervenção manual.”

    O BC também afirma que “tem planos de contingência para manter o funcionamento dos sistemas críticos para a população, os mercados e as operações das instituições reguladas, tais como STR, Pix, Selic, entre outros”.

    *Com informações do Estadão Conteúdo