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    Governo da China tenta conter efeitos de inadimplência da Evergrande

    Autoridades ainda não dão sinais de apoio financeiro para a incorporadora, mas estão guiando reestruturação de negócios

    Investidores estrangeiros devem ser os grandes prejudicados por calote
    Investidores estrangeiros devem ser os grandes prejudicados por calote Tyrone Siu/Reuters

    Laura Hedo CNN Business*

    A Evergrande está inadimplente em sua dívida. Agora, Pequim está intervindo para evitar um colapso desordenado do grupo imobiliário endividado, que pode causar estragos na segunda maior economia do mundo.

    A Fitch Ratings declarou na quinta-feira (9) que a incorporadora imobiliária em apuros entrou em “inadimplência restrita”, refletindo a incapacidade da empresa de pagar os juros vencidos no início desta semana sobre dois títulos em dólar. Os pagamentos venceram há um mês e os períodos de carência expiraram na segunda-feira (6).

    O aparente fracasso da Evergrande em pagar os juros reavivou os temores sobre o futuro da empresa, que está sofrendo com mais de US$ 300 bilhões em passivos totais de dívidas.

    A empresa é enorme – tem cerca de 200.000 funcionários, arrecadou mais de US$ 110 bilhões em vendas no ano passado e possui mais de 1.300 empreendimentos em mais de 280 cidades, de acordo com a companhia.

    Os analistas há muito temem que um colapso possa desencadear riscos mais amplos para o mercado imobiliário da China, prejudicando os proprietários e o sistema financeiro em geral. O mercado imobiliário e os setores relacionados representam até 30% do PIB (Produto Interno Bruto) chinês.

    As autoridades chinesas até agora minimizaram a perspectiva de riscos de contágio.

    “A liderança da China está tentando jogar com calma, mas as circunstâncias que cercam a espiral descendente de Evergrande levantam sérias questões sobre a administração [do presidente chinês] Xi Jinping sobre o rápido esfriamento da economia da China”, disse Craig Singleton, um membro adjunto do Programa da China na Fundação para Defence of Democracies, um instituto de pesquisa com sede em Washington, DC, nos Estados Unidos.

    Já existem muitas evidências de que Pequim está assumindo um papel de liderança na orientação da Evergrande por meio de uma reestruturação de sua dívida e expansão das operações comerciais.

    O governo local da província de Guangdong, onde a Evergrande está baseada, disse no final da semana passada que enviaria funcionários à empresa para supervisionar a gestão de risco, fortalecer os controles internos e manter as operações normais.

    E no início desta semana, a Evergrande anunciou que iria criar um comitê de gestão de risco, incluindo representantes do governo, para se concentrar em “mitigar e eliminar” riscos futuros.

    Entre seus membros estão altos funcionários de grandes empresas estatais em Guangdong, bem como um executivo de um grande administrador de dívidas de inadimplentes de propriedade do governo central.

    As autoridades chinesas também tomaram outras medidas. O banco central anunciou na segunda-feira que injetaria US$ 188 bilhões na economia, aparentemente para conter a queda no mercado imobiliário.

    “Essas últimas intervenções, tanto do governo central quanto de autoridades em Guangdong, sugerem que as autoridades chinesas agora aceitam relutantemente que a Evergrande é, de fato, ‘grande demais para falir'”, disse Singleton.

    Investidores globais podem “cortar o cabelo”

    A reestruturação massiva virá com alguma dor, pelo menos para os detentores de títulos globais.

    Pequim deixou claro que sua prioridade é proteger os milhares de chineses que compraram apartamentos inacabados, junto com trabalhadores da construção, fornecedores e pequenos investidores. O governo também quer limitar o risco de falência de outras imobiliárias.

    Os temores dos investidores quanto ao calote de Evergrande aumentaram os custos de financiamento para outras incorporadoras, à medida que aumentam os rendimentos da dívida corporativa chinesa offshore.

    Ao mesmo tempo, o governo vem tentando há mais de um ano conter o endividamento excessivo por parte das incorporadoras – e por isso não quer diluir essa mensagem.

    Isso significa que o governo pode estar “feliz em ver a própria empresa afundar e os investidores cortar o cabelo”, disse Louis Kuijs, chefe de economia da Ásia da Oxford Economics, em nota de pesquisa nesta sexta-feira (10). O termo “cortar o cabelo” se refere aos investidores sofrerem os efeitos de um calote da empresa.

    Os reguladores chineses culparam os líderes da empresa pela crise de Evergrande. Seus problemas foram resultado de “má gestão e expansão cega”, disse o banco central e o regulador de valores mobiliários do país na segunda-feira (6) em declarações públicas, reiterando as críticas anteriores.

    Os comentários de Yi na quinta-feira, durante um discurso em vídeo em um fórum em Hong Kong, destacam as prioridades do governo. Ele observou que os problemas de Evergrande seriam tratados “de maneira orientada para o mercado”.

    Isso “reforça a posição contínua das autoridades de não recorrer a nenhum resgate”, disse Yeap Jun Rong, estrategista de mercado do IG Group.

    Repercussão no crescimento econômico

    É um “ato de equilíbrio delicado” permitir que Evergrande falhe ao mesmo tempo em que minimiza qualquer impacto econômico ou financeiro, disse Kujis, especialmente devido à desaceleração mais ampla no mercado imobiliário, que já viu vários outros incorporadores entrarem em calote, incluindo o Kaisa Group nesta semana.

    Os preços das novas casas na China caíram em outubro pelo segundo mês consecutivo, de acordo com dados do National Bureau of Statistics. A queda em setembro foi a primeira em seis anos em uma base mensal.

    Uma grande desaceleração no setor imobiliário, junto com outros fatores, pode arrastar o crescimento do PIB da China no próximo ano para 4,3%, de acordo com Ting Lu, economista-chefe da Nomura para a China. Isso é muito menor do que o crescimento estimado pela empresa para 2021, de 7,8%.

    Durante uma conferência online na sexta-feira, Lu também alertou que o governo não deve reverter repentinamente suas restrições ao financiamento imobiliário.

    Tal reviravolta prejudicaria as metas de longo prazo de Pequim, acrescentou ele, apontando para o desejo de reduzir a dependência da economia do setor imobiliário e de desviar recursos dele para outros setores, como tecnologia.

    Kuijs, da Oxford Economics, espera que Pequim tome medidas políticas direcionadas a proprietários de casas, incorporadoras com problemas ou bancos expostos a riscos de dívidas.

    Ele sugeriu que tais movimentos poderiam incluir tornar mais fácil para as incorporadoras levantar fundos no mercado de capitais, ajustar as políticas de terras e aumentar a construção de unidades de aluguel.

    “Também esperamos uma flexibilização mais ampla da política fiscal e monetária”, disse ele. “E é provável que o governo tome medidas para conter os efeitos em cascata do sistema financeiro, incluindo a possibilidade de bancos circunscritos, particularmente expostos a incorporadores em apuros”.

    Singleton alertou, porém, que a crise imobiliária continua sendo uma ameaça iminente para a China.

    “A possibilidade de contágio em outras partes da vasta economia da China continua muito real”, disse ele. “E é nesta questão que o banco central da China enfrenta sua maior restrição – embora possa conter as implicações financeiras de um calote no setor imobiliário, ele não pode compensar o impacto do mercado imobiliário na economia real da China”.

    *(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original, em inglês)