Flamengo, Corinthians, Palmeiras: quanto valem os clubes do futebol brasileiro?
Os 30 clubes analisados valem muito pouco e valerão menos em 2021, quando os impactos da pandemia de Covid-19 estarão mais claros”, avalia Amir Somoggi
Você já pensou em comprar um clube de futebol? Não é algo tão simples – ou barato –, mas um projeto de lei que tramita no Congresso autoriza a transformação das agremiações em clubes-empresas. Depois da aprovação e sanção do texto, será possível que uma empresa compre o seu time do coração.
Pensando nisso, a Sports Value, empresa especializada em marketing e finanças esportivas, mostrou quanto valem os times brasileiros em um estudo divulgado com exclusividade pelo CNN Brasil Business. E o resultado não traz notícia boa para o nosso futebol.
“O estudo mostra que os clubes valem muito pouco e valerão menos em 2021, quando os impactos da pandemia de Covid-19 estarão mais claros”, avalia Amir Somoggi, sócio diretor da Sports Value e responsável pelo levantamento.
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Somados, os 30 clubes mais valiosos do futebol brasileiro têm valor de mercado de R$ 25,1 bilhões.
Aqui, vale uma comparação: a lista mais recente da Forbes com os times (de qualquer modalidade) mais valiosos do mundo mostra o Dallas Cowboys (NFL) com valor de mercado de aproximadamente R$ 28,18 bilhões (com valores convertidos pela cotação do dólar do dia 07 de dezembro – R$ 5,1249).
O primeiro time de futebol da lista é o Real Madrid, da Espanha, que vale aproximadamente R$ 21,7 bilhões.
Se você achou que seu time vale pouco, o estudo do ano que vem – se feito – deve mostrar cifras ainda menores. “Esta é uma fotografia do melhor momento. A tendência é observamos uma redução nos próximos anos”, afirma Somoggi.
Entenda a metodologia
Para chegar a esses números, a Sports Value levou em consideração quatro itens:
Direitos esportivos
Receitas referentes a participações dos clubes em competições estaduais, nacionais (Brasileirão e Copa do Brasil) e internacionais (Libertadores, Sul-Americana e Mundial Interclubes). Aqui, é levado em consideração o dinheiro que os clubes ganham com as transmissões dos jogos.
Ativos
Dinheiro em caixa, aplicações financeiras, estádios, centros de treinamentos e qualquer outro tipo de instalação.
Jogadores
Valor do plantel do time profissional atual e o registro contábil dos gastos de formação de jogadores das categorias de base.
Valor de marca
Nesta conta entram o potencial de mercado consumidor de cada clube, tamanho da torcida, distribuição geográfica, engajamento, potencial esportivo e aproveitamento das receitas oriundas da marca.
Top 5
O clube mais popular do Brasil poderia valer bem mais que R$ 2,9 bilhões. Isso porque o rubro-negro já arrecadou mais dinheiro do que gastou nos últimos seis anos, algo raro no futebol brasileiro. E as contas mais organizadas vêm apesar de gastos enormes com atletas, que representam um terço do valor do clube.
Porém, a falta de um estádio para chamar de seu e receitas abaixo do potencial fazem o time não superar os R$ 3 bilhões em valor de mercado.
Este, por outro lado, tem estádio. Sim, é verdade que o Corinthians deve mais de R$ 450 milhões para a Caixa Econômica Federal por causa da Neo Química Arena, mas o Timão consegue gerar receita com o seu estádio.
Ao contrário do Flamengo, o time de Itaquera não consegue fechar um ano no azul há muito tempo. Em 2019, o déficit foi de R$ 177 milhões em um ano que o Itaú BBA classificou como “desastroso” em seu relatório anual sobre as finanças dos clubes brasileiros.
O futuro do atual campeão paulista parece mais promissor que o de seus rivais. Os R$ 2,2 bilhões de valor de mercado estimados pela Sports Value podem disparar por causa do estádio do Verdão, um dos mais modernos do país.
Até 2044, os direitos de exploração do estádio são da WTorre, construtora que bancou todos os custos da arena. Mas, em dias de jogos, a receita é toda do Palmeiras, que ainda tem direito a uma participação progressiva nas receitas de aluguel para eventos (como shows). A participação do Palmeiras começa em 20% e aumenta 5% a cada cinco anos.
Não foi apenas dentro de campo que o tricolor perdeu competitividade nos últimos anos. O time que na década de 2000 era considerado modelo de gestão agora é apenas o quarto mais valioso do Brasil.
Ativos como o Estádio do Morumbi, o Centro de Treinamento da Barra Funda e o Centro de Treinamento de Cotia – de onde saem as revelações das categorias de base – são os itens que mais contribuem para o valor de mercado de aproximadamente R$ 1,78 bilhão.
O Inter é mais um exemplo de clube que tem concentrado em seus ativos a maior parte de seu valor de mercado. Depois da reforma para receber jogos da Copa do Mundo de 2014, o Beira-Rio virou uma grande uma fonte de receita.
A receita com bilheteria dos jogos vai toda para o caixa do Colorado. Pode não parecer, mas há um grande vantagem aí. Seu rival, o Grêmio, por exemplo, não recebe o dinheiro dos ingressos para pagar a reforma da arena. Os shows e outros eventos são explorados pela Andrade Gutierrez e pelo BTG Pactual.
Clube-empresa?
Dirigentes de alguns clubes e parlamentares veem no projeto de clube-empresa a esperança de construir um mercado mais competitivo no futebol brasileiro. Já aprovado na Câmara dos Deputados, o texto define os modelos empresariais para os clubes, impostos que deverão ser cobrados das entidades que escolherem esses modelos e trata das dívidas dos agremiações.
Atualmente, os clubes não têm um dono, são entidades sem fins lucrativos e têm presidentes eleitos por sócios ou conselheiros. Se o projeto de lei passar pelo Senado e pela sanção do presidente Jair Bolsonaro, os clubes poderão migrar para o modelo de empresa. Podem ser sociedades anônimas – com ações listadas na bolsa de valores – ou limitadas.
Ao se transformarem em empresas, os clubes deverão recolher 5% da sua receita bruta como um imposto único, que substitui Imposto de Renda, CSLL Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e Cofins – a maioria desses impostos não incide sobre os clubes atualmente.
Pedro Daniel, diretor-executivo da consultoria EY, afirma que a transformação de clube para empresa pode ser a saída para muitos clubes, especialmente os pequenos. “Os clubes pequenos e médios não conseguem competir com os grandes por causa da receita. Nesse modelo eles teriam investimento e poderiam se tornar grandes”, afirma.
Pedro Daniel e Amir Somoggi acreditam que, se o projeto for aprovado pelo Congresso, a transformação deve começar justamente pelos menores clubes. A lógica, segundo eles, é que os clubes da elite querem manter as coisas como estão. Quem vem das divisões menores deve pressionar os grandes.
O Botafogo (RJ) tem um projeto para profissionalizar o departamento de futebol, com investidores colocando R$ 180 milhões para cobrir dívidas do clube, montante que ainda não é suficiente para dar início ao projeto, segundo as contas que a agremiação faz. A aprovação do projeto no Senado mudaria tudo e traria mais clareza a processos como esse.
Os clubes podem virar alvos fáceis para o investidor estrangeiro. Se dentro de casa eles já valem pouco, as cifras ficam ainda mais atraentes para quem vem com dólares na carteira.
Para especialistas, ainda falta estrutura jurídica para que investidores se sintam seguros em colocar dinheiro nos clubes brasileiros. “É preciso melhorar o marco regulatório do setor para os clubes se profissionalizarem”, avalia Somoggi.
Um exemplo de insegurança é o fair play financeiro. Clubes que escolherem a transformação em firmas terão um teto de gastos enquanto as entidades sem fins lucrativos podem gastar centenas de milhões em jogadores? “Temos muitas lacunas e insegurança para um investidor comprar um clube”,diz Pedro Daniel.
Na Europa, times que eram considerados pequenos ganharam expressão depois de serem comprados. Manchester City, Paris Saint-Germain e Chelsea nos dão bons exemplos do movimento.
Enquanto isso não acontece no Brasil, a tendência é que a má gestão dos clubes derrube o já baixo valor de mercado dos times.
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