Ethereum surfa onda de valorização do bitcoin – e quer conquistar mais espaço
Segunda criptomoeda mais conhecida e negociada saltou mais de 600% em dólar nos últimos 12 meses e já tem outros 120% de valorização somente este ano
O bitcoin encontrou no ambiente caótico de 2020 o momento perfeito para se consolidar entre os investidores e bater recordes de valorização. Prova disso é que a criptomoeda avançou mais de 300% em dólar no ano passado e segue avançando em 2021.
Ao mesmo tempo, há outro ativo desenvolvido em blockchain performando de forma ainda mais contundente. O ethereum (a moeda em si se chama ether) –segunda criptomoeda mais conhecida e negociada– saltou mais de 600% em dólar nos últimos 12 meses e já tem outros 120% de valorização somente este ano.
A moeda até atingiu um recorde nesta quarta-feira (3), superando os US$ 1.500, na expectativa pelo lançamento de futuros da criptomoeda na bolsa de valores de Chicago (CME), o que deve ocorrer na próxima semana.
É claro que, em certa medida, o ethereum surfa na onda de popularização dos criptoativos alavancada pelo bitcoin, servindo até como forma de diversificação. Mas a plataforma tem muito mais para oferecer, e isso vem chamando a atenção do mercado.
Plataforma para contratos inteligentes
Fundado em 2014 pelo programador Vitalik Buterin, o ethereum é um espaço descentralizado capaz de executar contratos e aplicações inteligentes utilizando a tecnologia blockchain.
Isso quer dizer que, além da sua reserva de valor, o ativo pode (e deve) ser utilizado para programar e criar tokens digitais, que funcionam sem qualquer possibilidade de censura, fraude ou interferência de terceiros.
“O bitcoin, como reserva de valor, é um ouro digital”, disse Bernardo Quintão, diplomata no Mercado Bitcoin. “Não tem controle governamental, tem emissão controlada e conhecida. Possui tanta solidez que é utilizado como proteção contra processos inflacionários e medidas de emissão monetária.”
“Já o ethereum não tem como objetivo final ser reserva de valor. A ideia é que as pessoas utilizem, cada vez mais, a plataforma para transacionar contratos inteligentes. Dessa forma, tudo que era feito offline será reproduzido online, com mecanismos mais seguros.”
Em termos práticos, estes contratos podem representar qualquer coisa. No mercado financeiro, por exemplo, a tecnologia pode servir para captar e dividir recursos entre vários investidores ou criar registro digital para algo concreto.
Digamos que uma fintech quer realizar um crowdfunding para investir em painéis solares. Seria possível criar tokens para cada investidor, que serviriam como contrato e lastro do investimento. Facilitaria, inclusive, o desenvolvimento de um mercado secundário no segmento, mas a norma 588 da CVM ainda não permite o processo.
Aqui no CNN Brasil Business, também já falamos de outra utilização prática da tecnologia: os cards digitais da Sorare. A companhia faz parceria com clubes de futebol e licencia cartas digitais dos jogadores daquela equipe diretamente em ethereum.
Essas cartas podem se tornar itens de colecionador, já que são únicas, e utilizadas em jogos, como o SO5, da própria marca. “O diferencial das cartas é que, apesar de digitais, elas são limitadas, licenciadas e portáteis”, disse Nicolas Julia, CEO da marca.
Agora, o grande objetivo da Sorare é fazer parcerias com outras desenvolvedoras de jogos para que as cartas passem a ter um ecossistema próprio. Para se ter uma ideia, uma carta do jogador francês Kylian Mbappé foi vendida por cerca de R$ 360 mil em dezembro.
Crescimento e consolidação
João Canhada, CEO da Foxbit, explica que o ethereum teve o seu primeiro boom em 2017, quando ocorreram diversos ICOs (IPOs de criptomoedas) e os investidores começaram a olhar mais atentamente para o segmento. 2020, também importantíssimo, foi o ano de consolidação do ativo.
“Agora tivemos o boom da DeFi (finanças descentralizadas) e a indústria financeira está começando a replicar tudo o que existia no sistema tradicional de forma transparente, pública e digital. Nesse sentido, o ethereum tem tudo para continuar avançando.”
A ideia do movimento é que todos os serviços financeiros que utilizamos hoje, como investimentos, empréstimos e seguros, estejam acessíveis de forma aberta e descentralizada a todos, sem a necessidade de um banco por trás e sem regulações de nenhum país.
Diversos BCs do mundo estudam, inclusive, a criação de criptomoedas próprias, que terão que contar com um referencial parecido, se o próprio ethereum não for o escolhido. Canhada entende, inclusive, que isso pode fazer com que o ethereum e se descole do bitcoin e avance ainda mais.
Por causa desse crescimento, a plataforma passa por problemas “de espaço”. Com uma limitação no número de contratos que o sistema pode realizar por segundo e, do outro lado, uma demanda que não para de crescer, foi preciso atualizar os protocolos básicos da estrutura.
“A plataforma estava ficando mais cheia e mais cara”, diz Quintão. “Agora, estão desenvolvendo o ethereum 2.0, que terá várias etapas de desenvolvimento. Vão ampliar a capacidade de transações por segundo, mudar a forma de minerar o ativo.”
(*Com informações da Reuters)