Endividamento das famílias bate recorde em 2021, aponta CNC
Apesar do crescimento das dívidas, a inadimplência dos consumidores teve queda
O endividamento das famílias brasileiras bateu recorde no ano de 2021, com uma média de 70,9%. Na comparação com 2020, o crescimento foi de 4,4 pontos percentuais, o maior aumento registrado nos últimos 11 anos, quando começou a série histórica.
Os números são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Apesar do aumento do endividamento, os indicadores de inadimplência das famílias apresentaram uma queda na média anual. Segundo o levantamento, 25,2% das famílias afirmaram estar com contas em atraso, 0,28 pontos percentuais a menos que no ano anterior, quando 25,5% dos entrevistados faziam parte desse grupo.
Já o número de famílias sem condições de pagar as dívidas que estão em atraso é de 10,5%, redução de 0,56 pontos percentuais, frente aos 11% registrados em 2020.
Os pesquisadores explicam que a renegociação de dívidas e a contratação de prazos mais longos, assim como o maior controle dos gastos, possibilitaram às famílias condições de ampliar o endividamento e o consumo, porém mantendo a capacidade de pagamento.
A economista e pesquisadora da CNC, Izis Ferreira, explica que o endividamento é todo e qualquer compromisso financeiro do futuro, como cartão de crédito, empréstimos, contas de luz, prestações, etc. Já a inadimplência é quando o consumidor possui alguma dessas dívidas em atraso.
Para a pesquisadora, 2021 foi um ano marcado pelo retorno do consumo e um crescimento da inflação. Esses dois fatores influenciaram diretamente os indicadores de endividamento, mas com motivações distintas para famílias com renda até 10 salários-mínimos, e famílias com renda acima de 10 salários-mínimos.
“Nas famílias mais pobres, o endividamento aumentou para complementar a renda, já que a inflação de itens básicos, como alimentação, medicamentos e habitação foi maior. Para os mais ricos, durante o primeiro ano de pandemia, eles pouparam, pois não estavam consumindo os serviços, por conta das restrições. Depois da segunda onda, com a vacinação, as flexibilizações geraram um aumento no consumo, e consequentemente no endividamento, já que essa faixa de renda mais alta usa muito o cartão de crédito como meio de pagamento.”, explica a pesquisadora.
Ainda segundo o levantamento, dentro das categorias de dívidas, o uso do cartão de crédito chegou a 82,6%, sendo o principal tipo de endividamento, e também o maior número na média histórica. Em segundo lugar, vêm os carnês, sendo usado por 18,1% dos entrevistados, seguido por financiamento de carro, com 11,6% e financiamento de casa, com 9,1% dos entrevistados.
Segundo a pesquisa, a composição das dívidas das famílias brasileiras apresentou algumas disparidades entre as faixas de renda. O cartão de crédito é o primeiro nas duas faixas de renda, no entanto, na faixa de menor poder aquisitivo, os carnês de estabelecimentos foram o segundo mais citados entre os tipos de dívidas.
Já para a faixa de renda acima de 10 salários, as modalidades de longo prazo, ou seja, os financiamentos de carro e de casa, ocuparam o segundo e o terceiro lugares, respectivamente.
A economista avalia que o ano de 2022 não deve seguir o mesmo ritmo do ano passado, e o endividamento deve se manter estável, enquanto a expectativa é de que a inadimplência das famílias cresça, seguindo o ritmo do último trimestre de 2021.
“O ano passado teve um contexto benigno, porque o endividamento teve recorde e tivemos a inadimplência em queda. O último trimestre do ano passado foi ruim em termos de inadimplência, principalmente o indicador de contas em atraso, que em dezembro atingiu 26% das famílias. Isso mostra que no início desse ano pode haver um crescimento na margem da proporção de famílias com dívidas atrasadas e sem condições de pagar, mas não a ponto de ficar fora de controle.”, explica.