Dólar salta 2% com tensão na política brasileira e exterior mais cauteloso
No fim da sessão, a moeda norte-americana subiu 2,10%, a R$ 5,3715, maior nível desde 1º de junho (R$ 5,3843) e o sétimo pregão consecutivo de alta
O dólar terminou em forte alta ante o real nesta quinta-feira (18), no maior patamar desde 1º de junho, puxado pela combinação de exterior arisco e de noticiário local ainda inspirando cautela.
No fim da sessão, a moeda norte-americana subiu 2,10%, a R$ 5,3715, maior nível desde 1º de junho (R$ 5,3843) e o sétimo pregão consecutivo de alta. Com isso, não apenas reverteu a queda acumulada no mês, de 1,49%, como passou a subir, 0,58%.
A volatilidade seguiu presente e intensa. Na máxima, a cotação saltou 2,44%, a R$ 5,3893, depois de chegar a cair 0,62%, a R$ 5,2285.
O dia foi tenso para o mercado financeiro. Além da decisão do Copom de baixar a taxa de juros para 2,25% pesaram o temor da segunda leva de infecçã por coronavírus, assim como a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de longa data do presidente Jair Bolsonaro.
O primeiro fator, que afeta diretamente a economia, deixa o país ainda menos atrativo para o capital estrangeiro. Com a taxa de juros baixa por aqui, o investidor prefere procurar países mais seguros economicamente para colocar seu dinheiro.
“Se o mercado de ações tem uma grande vulnerabilidade no momento é a temida segunda onda do vírus, que ameaça fechar as economias mais uma vez. Se a economia global deteriorar novamente, investidores ficarão muito nervosos”, disse Craig Erlam, analista sênior de mercado da Oanda.
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A valorização do dólar no Brasil decorreu em boa parte da força da moeda no exterior, onde receios sobre uma segunda onda de Covid-19 em economias centrais conduziram investidores a ativos considerados seguros, como dólar, iene e títulos do Tesouro norte-americano. Pares emergentes do real também mostraram firmes quedas. O peso mexicano cedia 2,1% no fim da tarde.
Mas, de novo, a taxa de câmbio brasileira liderou as perdas globais, em meio a um fluxo de notícias do lado político que ainda dita cautela, um dia depois de o Banco Central sinalizar chance de novo corte da taxa básica de juros da economia, a Selic — que caiu na véspera a nova mínima recorde de 2,25% ao ano.
A queda dos juros é citada como elemento que pressionou o câmbio nos últimos tempos, já que reduziu a taxa paga por títulos de renda fixa e colocou o Brasil em desvantagem em relação a outros emergentes com juros básicos mais elevados.
Pesa sobre o real o fato de os retornos da renda fixa estarem em queda livre enquanto a percepção de risco segue elevada –contrariando a lei do mercado de quanto menor o retorno, menor o risco.
O risco-país medido pelo CDS de cinco anos subiu nesta sessão, enquanto a inclinação da curva de juros –outra medida de risco– também mostrou alta, com expressivo ganho de prêmio nos contratos longos, estes mais associados ao cenário estrutural para a economia.
Instabilidade política
No noticiário político, Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, foi preso na manhã desta quinta-feira em Atibaia, interior de São Paulo, pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado.
O ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou uma série de recados indiretos ao governo Jair Bolsonaro nesta quinta-feira, ao dar o nono voto a favor da legalidade do inquérito das fake news.
Abraham Weintraub anunciou nesta quinta-feira, em vídeo ao lado do presidente Jair Bolsonaro, que está deixando o Ministério da Educação e que irá assumir uma diretoria do Banco Mundial. A demissão de Weintraub vinha sendo negociada há algumas semanas, mas Bolsonaro não queria deixar o ministro, um de seus maiores defensores, sair sem ter um novo cargo.
“Nossa avaliação (sobre mercado) sempre contempla a questão do risco político”, disse Adriano Cantreva, sócio e responsável pela gestão de portfólios da Portofino Investimentos. “Pela falta de conhecimento total dos fatos, sempre existe uma nuvem que vai acabar afetando preços e deixando gestores mais desconfortáveis”, acrescentou.
Para ele, o patamar atual do real não parece fora do que seria um nível condizente com o atual combo de riscos. “Mas quando se pensa em crescimento (econômico), por exemplo, se houver frustração, o real poderá desvalorizar ainda mais.”
O banco Crédit Agricole recomenda compra de dólar e mira a taxa de R$ 5,650, citando enfraquecimento do apetite por risco, consequências da pandemia, sinalização de mais afrouxamento monetário pelo Banco Central, maior tensão política em Brasília e incerteza sobre agenda de reformas.
“O real já havia perdido status de moeda de carry, mas o BC continuar cortando o juro obviamente não ajuda”, disse o estrategista sênior para mercados emergentes Italo Lombardi. “É tanta incerteza no radar, incluindo fiscal, que você pode ver de novo o dólar sofrer um ‘overshooting’ para perto das máximas históricas”, disse.
O recorde de fechamento nominal para o dólar foi alcançado no último dia 13 de maio (5,9012 reais). Ante essa cotação, a moeda acumulou queda de 17,73% ao bater a mínima recente de 8 de junho (4,855 reais), mas desde essa data disparou 10,64%, reduzindo as perdas frente ao pico histórico para 8,98%.
Na semana, a moeda ganha 6,46%. No ano, o dólar dispara 33,86%, o que mantém com folga o real na lanterna entre as principais divisas globais.
*Com Reuters
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