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    Dólar, arroz, R$ 200 e auxílio emergencial: os destaques da economia em 2020

    A imensa maioria dos temas de maior repercussão no mercado financeiro, claro, foi influenciada pela pandemia de Covid-19, que derrubou as bolsas mundo afora

    Leonardo Guimarães, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Pandemia, novo sistema de pagamentos instantâneos e nota de R$ 200 foram alguns dos assuntos mais importantes da economia brasileira em 2020. A imensa maioria dos temas de maior repercussão no mercado financeiro, claro, foi influenciada pela pandemia de Covid-19, que derrubou as bolsas e atividades econômicas no mundo todo. 

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    Em 2020, o dólar chegou a R$ 5,90, o Ibovespa teve um tombo histórico e uma recuperação rápida. Além disso, teve debandada na equipe econômica e juros negativos. Veja abaixo os destaques deste ano na economia.

    Auxílio emergencial –e sua extensão

    Em meio ao aumento de casos de Covid-19 no Brasil e no mundo, o governo federal decidiu criar um programa de transferência de renda sem precedentes. O benefício já injetou mais de R$ 250 bilhões na economia com o pagamento de cinco parcelas de R$ 600. 

    Em setembro, o governo anunciou a extensão do programa, com o pagamento de mais quatro parcelas de R$ 300. Serão distribuídos mais R$ 67,6 bilhões. O programa acaba em dezembro e não deve haver outra extensão. 

    Enquanto o auxílio emergencial vai distribuir mais de R$ 310 bilhões em nove meses, o Bolsa Família distribuiu R$ 117,2 bilhões de 2016 a 2019. O número dá uma dimensão do tamanho do programa criado para movimentar a economia durante a pandemia. 

    O monstro do ‘temor fiscal’

    O Teto de Gastos não é coisa de 2020, mas teve participação relevante na pauta econômica neste ano. O termo “Temor fiscal”, que reflete o medo de investidores de que o governo gaste mais do que pode e aumente ainda mais sua dívida, esteve presente no noticiário econômico.

    A Emenda Constitucional que entrou em vigor em 2017 limita o aumento dos gastos públicos à inflação do ano anterior até 2037. 

    A PEC (Proposta de Emenda Constitucional) do Orçamento de Guerra já permitiu que o governo federal excluísse desse teto todos os gastos motivados pela pandemia de Covid-19. Mas, segundo o próprio presidente Jair Bolsonaro, houve conversas para gastar além do teto em obras de infraestrutura e saneamento. 

    Esse tipo de debate irritou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que se desentendeu com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Essas conversas ajudaram a manter o dólar acima dos R$ 5.

    Nota de R$ 200 

    O lobo-guará, quem diria, foi um dos assuntos mais comentados na economia em 2020. Pouco mais de sete anos depois do lançamento das cédulas de R$ 5 e R$ 2, o Banco Central lançou em setembro a nova nota da segunda família do Real, de R$ 200, que começou a circular no segundo dia daquele mês. 

    “O momento singular que estamos vivendo trouxe os mais diversos desafios, e um deles foi um aumento expressivo na demanda da sociedade brasileira por dinheiro em espécie”, justificou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. 

    Pix

    Este ano foi marcado por um lançamento muito importante para o sistema financeiro do Brasil. O Pix, plataforma de pagamentos instantâneos do Banco Central, foi lançado oficialmente no dia 16 de outubro. 

    Com ele, é possível fazer transferências em até dez segundos a custo zero para consumidores. Para empresas, o custo nem chega perto das antigas TED e DOC.

    Andamento das reformas 

    As reformas tributária e administrativa ficaram para o ano que vem. Muita discussão sobre essas pautas aconteceu em 2020. As conversas envolveram, principalmente, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e Paulo Guedes, que tiveram alguns desentendimentos ao longo do ano. 

    A reforma administrativa já está no Congresso, mas apenas parte do projeto. O governo federal diz que ainda vai enviar outros textos, mas não deu prazo para que isto aconteça. 

    No caso da reforma tributária, a proposta da equipe econômica é a unificação do PIS e da Cofins e a criação de um novo tributo sobre valor agregado, chamado de Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS). 

    Quando o assunto são novos impostos é impossível não se lembrar da insistência de Guedes na criação de um tributo nos moldes da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), um dos impostos de pior reputação no Brasil. A ideia do ministro da Economia é criar uma cobrança sobre operações digitais. 

    Recorde do dólar 

    O real teve um péssimo desempenho em 2020 por causa da desconfiança dos investidores na agenda de reformas e capacidade de controlar os gastos públicos. Esses fatores se somaram ao pânico nos mercados com a pandemia e levaram o dólar ao maior patamar da história: R$ 5,90 no fechamento do dia 13 de maio.

    A moeda norte-americana chegou a perder preço e cair a R$ 4,82 no mês seguinte, mas o temor fiscal fez a divisa voltar o patamar dos R$ 5,70 em novembro.

    Circuit breakers e recuperação da Bolsa

    Seis paralisações (circuit breakers) em oito pregões e Ibovespa fechando o dia com queda de mais de 10%. Esta foi a reação do mercado financeiro ao se dar conta dos efeitos da Covid-19 na economia. 

    No dia 18 de março, o Ibovespa fechou o pregão com queda de 10,35%. O fundo do poço veio um pouco mais tarde, no dia 23, quando a Bolsa fechou em queda de 5,22%, a 63.569 pontos

    Ao longo do ano, porém, o principal índice acionário do Brasil se recuperou e retomou o patamar de fechamento do ano passado, conforme os investidores ficaram otimistas com a recuperação da economia no Brasil e no mundo. 

    BDRs liberados 

    A partir de 1º de setembro, qualquer investidor pôde comprar BDRs. Antes, eles estavam disponíveis somente para investidores qualificados (que possuem mais de R$ 1 milhão em aplicações).

    Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) funcionam como certificados que representam ações de empresas listadas em bolsas de outros países. Por meio deles, é possível investir em empresas como Apple, Netflix e Amazon, listadas na Nasdaq (EUA), por exemplo. 

    Inflação do arroz

    Comprar e comer arroz se tornou uma tarefa bem cara nos últimos meses. Um pacote de cinco quilos do grão chegou a custar R$ 25, sendo que em outros tempos era facilmente encontrado por R$ 15.

    Segundo dados da Esalq, ligada à Universidade de São Paulo, o preço da saca de arroz de 50 quilos teve um aumento de 116% do início do ano até setembro.

    Um dos motivos para a alta foi a mudança de comportamento do consumidor, que deixou de comer fora para cozinhar em casa, o que fez a procura por produtos da cesta básica crescer.

    A procura internacional por alimentos também causou alta dos preços. A China, principalmente, decidiu aumentar o nível de estoque de alimentos. Isso fez com que o valor de diversos produtos aumentasse. 

    Juro real negativo

    Com a queda dos juros básicos para 2% ao ano, o Brasil passou a ter oficialmente uma taxa de juro real negativa. Isso significa que, descontada a inflação projetada em 12 meses da taxa nominal, o juro real está negativo em 0,71%.

    O investidor que deixar seu dinheiro em títulos do governo brasileiro remunerados pela Selic perderá poder de compra. É uma conjuntura altamente estimulativa da economia porque valeria muito mais a pena correr risco num negócio produtivo. Também é um forte estímulo ao consumo, porque quem compra algo a prestação, descontada a inflação, tem parcelas mais baratas do financiamento no futuro.

    Brasil em recessão

    A economia brasileira retraiu 9,7% no segundo trimestre de 2020 em relação ao trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período de 2019, o tombo foi de 11,4%. Com o resultado, o país entrou oficialmente em recessão técnica, que acontece após recuo da atividade econômica por dois trimestres consecutivos.

    A retomada gradual das atividades, iniciada em muitos estados em meados de junho, não foi o suficiente para reverter as perdas dos meses anteriores. Não à toa, esse foi o pior resultado para a economia desde o início da série histórica, em 1996.

    Debandada na Economia

    A equipe econômica teve baixas significativas em 2020. A primeira foi a saída de Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional. 

    Depois, vieram dois golpes ao mesmo tempo: as saídas de Salim Mattar e Paulo Uebel, secretários especiais de Desestatização e Privatização e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, respectivamente. 

    Uebel pediu exoneração por discordar da estratégia do governo federal de deixar a reforma administrativa para 2021. Salim, por sua vez, pediu para deixar o cargo por discordar da postura do governo em relação às privatizações.

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