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    Sem abraçar o mundo: CEO do Nubank conta como conciliar maternidade e carreira

    O CNN Business pediu que mulheres em diversos momentos de suas carreiras relatassem como chegaram onde chegaram e dessem dicas

    Foto: Nubank / Divulgação

    Tamires Vitorio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Não é porque março (conhecido como o mês da mulher) acabou que as grandes histórias sobre a presença feminina em empresas devem deixar de ser contadas. Elas estão por aí —o tempo todo—, muitas vezes escondidas atrás de mesas de escritórios ou, agora, por conta da pandemia, atrás de seus computadores com seus filhos ou pets, ou os dois, esperando que alguém as ouça.  

    Foi pensando nisso que o CNN Brasil Business pediu para mulheres em diversos momentos de suas carreiras relatassem como chegaram onde chegaram e quais dicas dariam para outras pessoas que querem chegar ao mesmo lugar.

    Na semana passada, publicamos a história de Michele Robert, CEO da Gerdau Summit. Nesta semana, ouvimos Cristina Junqueira, cofundadora e atual CEO do Nubank no Brasil. Nas próximas semanas, as entrevistadas serão Danielle Torres, sócia-diretora de Práticas Profissionais na KPMG, e Zica Assis, fundadora do Beleza Natural.

    Segundo Cristina Junqueira, do Nubank, o primeiro passo para começar um negócio é saber se ele irá mudar a vida das pessoas. Para ela, conciliar maternidade e carreira é entender que não é possível abraçar o mundo. Leia abaixo seu depoimento.

    O poder de dar o primeiro passo

    “Eu sou formada em Engenharia de Produção. Antes do Nubank, comecei minha carreira em consultoria estratégica e também passei por um banco tradicional. Nessa trajetória, notadamente se via que o ambiente era majoritariamente masculino. Nunca tive chefes mulheres —para se ter uma ideia, na empresa de consultoria em que comecei, éramos eu e uma colega, estagiárias, as únicas mulheres.

    Já no grande banco, tive a minha primeira experiência numa posição de liderança. Ainda jovem, num ambiente igualmente masculino, e vivi situações que mostraram com clareza o que não queria para mim. Cheguei a receber um feedback de que tinha que me assemelhar ao máximo dos meus pares ou superiores homens, inclusive na forma de me vestir, com o uso de camisas e ternos femininos. Foi um absurdo, pois a entrega e resultados claramente não eram o mais importante.

    Esses absurdos que eu via internamente claro que também se refletiam na maneira como os clientes eram tratados. E a história do Nubank e a disposição em encarar esse projeto com meus sócios também têm a ver com o que eu vivi nesse contexto de banco tradicional. Eram práticas e métodos que eu já não acreditava, e o Nubank foi uma  oportunidade para, de fato, fazer diferente: eliminando burocracias, tarifas abusivas, e usando tecnologia para facilitar a vida e a gestão financeira das pessoas.

    Para que isso fosse possível, eu e meus sócios, David Vélez e Edward Wible, tínhamos clareza de que a diversidade seria um valor essencial para o tipo de empresa que desafia todos os dias as coisas como elas são. Por isso, desde o dia 1, batalhamos para criar uma cultura que valoriza diferentes experiências, vivências e perspectivas. Queremos dar liberdade para as pessoas serem quem elas são.”

    Maternidade X carreira

    “Eu costumo dizer que a mulher grávida é o mamífero mais eficiente do planeta. E eu pude comprovar isso, especialmente no começo da história do Nubank, que é praticamente irmão gêmeo da minha primeira filha. Além de ter de lidar com todos os exames e situações típicas que toda mulher grávida passa, tive de gerenciar as atividades do trabalho, o que incluiu passagens como a viagem aos EUA grávida de sete meses para fazer o pitch aos nossos investidores.

    Para além do período da gravidez, vejo a previsibilidade e organização como fatores importantes para conciliar a vida com os filhos. Isso implica a criação de uma rotina: a hora de acordar, deixar os filhos na escola e o trabalho.

    Eu me considero uma pessoa eficiente: evito ao máximo distrações, como redes sociais, ao longo do dia. São coisas que gosto de fazer, mas reservo um tempo para isso à noite, quando as meninas já foram dormir, por exemplo, ou aos finais de semana. Quando é necessário fazer reuniões, prefiro organizar a agenda de modo que uma seja seguida da outra, para não haver quebra num tempo em que preciso focar em algo específico.

    A tecnologia também me ajuda muito nesse aspecto. Sou uma entusiasta de audiobooks. Ponho o fone de ouvido e, escovando os dentes ou dirigindo, ouço um audiobook para aproveitar o tempo da melhor forma possível.

    A base de tudo isso é ter clareza de quais são as suas prioridades. Muita gente me pergunta: como você consegue conciliar tudo? Eu não consigo conciliar tudo, por isso sempre falo que tenho duas prioridades: a minha família e o Nubank. O segredo para conseguir conciliar maternidade e carreira é exatamente saber quais batalhas você vai ficar, com a paz de espírito de que ninguém consegue abraçar o mundo.”

    As dicas de Cristina

    “A primeira e mais importante dica que eu daria para quem deseja empreender é: descubra se o problema que você está tentando resolver de fato impacta a vida das pessoas. Depois, fatie esse problema em pedaços menores e foque em qual deles você consegue resolver primeiro.

    Foi o que fizemos no Nubank. Sempre tivemos a visão de mudar o sistema financeiro no Brasil, acabar com a complexidade e garantir que as pessoas tivessem de volta o controle sobre o dinheiro delas. Mas a gente tinha que começar por algum lugar. Por isso, decidimos começar com apenas um produto, o  cartão de crédito, para fazer aquilo muito bem. 

    Terceiro, o Walt Disney dizia que ‘a melhor maneira de começar é parar de falar e começar a fazer’. Eu concordo. Às vezes, a gente fala e pensa muito. O mais importante é dar o primeiro passo.”