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    Desemprego recorde e sobra de vaga para poucos: os desafios de Onyx no Trabalho

    Onyx Lorenzoni foi nomeado para assumir a pasta recriada depois de dois anos sob o Ministério da Economia

    Juliana Elias, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O ministério é novo, mas os desafios, nem tanto. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deslocou o ministro Onyx Lorenzoni da Secretaria-Geral da Presidência para o recriado Ministério do Trabalho e Previdência. 

    Caberá a Onyx, deputado federal licenciado e parte do núcleo duro de Bolsonaro, lidar com um cenário adverso: desde as taxas de desemprego em níveis recordes — reforçadas com a pandemia —, passando pela crescente informalidade da mão de obra, o avanço da automação e baixa capacitação do trabalhador. 

    Ministro veterinário e político

    O Trabalho é o quarto ministério que Lorenzoni, presente no governo desde o primeiro dia, assume na gestão bolsonarista: no início, em janeiro de 2019, assumiu a Casa Civil, seguiu em 2020 para a Cidadania e desde fevereiro de 2021 era o ministro responsável pela Secretaria-Geral. 

    O gaúcho Lorenzoni é formado em medicina veterinária, profissão em que atuou no início da carreira nos anos de 1970 em Porto Alegre, em uma clínica da família. É na política, porém, para onde enveredou e onde se encontra sua experiência. 

    Não é a primeira vez que o Ministério do Trabalho é comandado por um político. Em tempos mais recentes, já passaram pelo comando da pasta nomes Carlos Lupi, presidente do PDT (governo Lula), Ronaldo Nogueira, ex-deputado federal pelo PTB (ministro de Michel Temer) e o sindicalista e ex-prefeito Luiz Marinho (também no governo Lula).

    Desemprego “real” a 20%

    Um dos maiores desafios no colo do novo ministério está na fragilidade que a pandemia deixou sobre o mercado de trabalho, ainda longe dos níveis pré-Covid. 

    Mesmo que a abertura de vagas do emprego formal, aquelas com registro em carteira, esteja surpreendendo mês a mês, o desemprego do país continuou subindo e está atualmente nos maiores níveis já registrado na história recente, com 14,7% dos trabalhadores sem emprego. 

    E os números só não só piores porque, com a prolongada agonia da pandemia, autônomos e informais, desistiram de tentar trabalhar. São aqueles que os economistas chamam de desalentados, e, como eles desistem de procurar, deixam de competir pelos empregos existentes e ajudam também nas estatísticas. 

    “São pessoas que sabiam que se tentassem trabalhar ou procurar um emprego não conseguiriam”, explica o economista Jorge Jatobá, sócio-diretor da consultoria Ceplan e ex-secretário de Política de Emprego do Ministério do Trabalho.   

    Há ainda um número muito alto de pessoas nessa situação, e, à medida que a flexibilização da economia aumenta, elas vão começar a voltar para o mercado e a taxa de desemprego pode até aumentar

    Jorge Jatobá, sócio-diretor da Ceplan e ex-secretário do Ministério do Trabalho

     

    Cálculo da LCA Consultores estima que, não fosse por esse batalhão de desistentes, a taxa de desemprego hoje seria de 20%, em vez dos 14,7% registrados — simplesmente não haveria vagas para todos. 

    “São pessoas que trabalham por conta própria e que estão em um limbo, nem trabalhando e nem com oportunidade de trabalhar”, diz o analista da LCA para mercado de trabalho, Cosmo Donato. 

    “É uma participação que está demorando muito para recuperar e esta é uma das principais preocupações.”

    Antes da pandemia, 61% dos adultos do país estavam no mercado de trabalho, seja trabalhando, seja procurando emprego. Com a crise esse número despencou e, ainda hoje, está em 56% — quer dizer, há pelo menos 5% que simplesmente desistiram e ainda não voltaram.

    Capacitação: o velho problema

    Resolver essa falta de trabalho para todos passa por duas ações inevitáveis: ter uma economia mais forte e uma força de trabalho mais qualificada.

    Mesmo antes da pandemia o país já crescia menos e a taxa de desemprego estava ruim. A taxa de desemprego de equilíbrio hoje seria de até 9,5% ou 9%. Para ser mais baixa do que isso, só com mais investimentos e maior atração de capital.

    Cosmo Donato, economista da LCA Consultores

     

    Jatobá, da Ceplan, reforça o velho problema da baixa qualificação. “Há emprego faltando, mas sobrando para os mais qualificadas; há empresas com vaga aberta e que não acham gente preparada para preencher”, explica. 

    “A solução para isso é mais qualificação, não só em ensino superior, mas na qualificação profissional, no ensino técnico e também no incentivo ao empreendedorismo. O profissional por conta própria vai continuar existindo, mas ele pode ser um empreendedor e um empregador muito mais preparado.”

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