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    Demissão de Teich complica ainda mais perspectiva de retomada da economia

    A queda do segundo ministro em meio à pandemia traz mais incertezas sobre qual vai ser a reação da economia diante de uma abertura

    André Jankavski, Luis Lima, Luisa Melo e Matheus Prado , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O pedido de demissão do ministro da Saúde, Nelson Teich, após 29 dias no governo, deve mexer ainda mais com a percepção de economistas e investidores quanto ao futuro do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Após defender mais uma vez a cloroquina e exigir que liberasse o medicamento para tratamento, Teich pediu demissão.

    A queda do segundo ministro em meio à pandemia traz mais incertezas sobre qual será a reação da economia diante de uma abertura que, até agora, se mostra desorganizada. Afinal, nem os chefes da Saúde do governo aceitavam a posição do presidente.

    Para Sergio Vale, economista chefe da consultoria MB Associados, a saída de Teich significa que o governo irá endurecer as medidas de abertura da economia e que isso trará mais incertezas para a população. “O recado de voltar à normalidade pode piorar a curva de contaminação”, diz Vale. “E é um sinal crescente também de que o governo não vai mais tolerar desalinhamentos.”

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    Vale ainda completa que se o governo continuar nessa linha, vai enfrentar dificuldades políticas incontornáveis que podem lhe custar o cargo. “Será a pior recessão da história com uma crise histórica na saúde”, diz Vale. “Tem que ser um excelente governo para sobreviver a isso.”

    Segundo Homero Guizzo, analista de macro da Guide, a saída de Teich é “emblemática” e lembra governos anteriores, quando o ministro da Fazenda era trocado com frequência. “Temo que a recepção não será boa, porque poderá dar a impressão que o governo não se importa muito com o trabalho do Ministério da Saúde, seja quem estiver à frente dele”, diz. 

    “Terror e pânico”

    Após o anúncio da demissão de Teich, a bolsa que rondava a estabilidade passou a cair. Por volta das 12h30, o Ibovespa, que é o principal índice da bolsa, caía 1,5%. O dólar, que estava caindo, passou a subir a R$ 5,84. Minutos depois, porém, passou a andar de lado, ronando o R$ 5,80. Um experiente investidor do mercado financeiro, mesmo com a baixa volatilidade dos mercados nesse momento, definiu a situação atual como “terror e pânico”.

    Para a economista Zeina Latif, ficou evidente que existe um problema de gestão na área da saúde e que, sem essa arrumação de casa, será impossível que o Brasil relaxe o isolamento de maneira segura. “A saída do ministro é só a ponta do iceberg, pois sem clareza na gestão fica difícil até discutir os impactos econômicos”, diz ela.

    Na avaliação de Eduardo Velho, estrategista da iNVX Global Partners, a saída de Teich reforça a expectativa de que o término do isolamento não deve acontecer no fim do primeiro semestre. “De fato, nos níveis atuais de contágio e de mortes pela Covid-19 deve demandar um prolongamento do bloqueio da atividade econômica, e portanto, com reflexos de queda mais acentuada do PIB, do faturamento das empresas, do nível do emprego e da arrecadação fiscal”, diz. Para ele, os impactos econômicos potenciais incluem o aumento do prêmio de risco e o potencial de rompimento da barreira de R$ 6 para o dólar. 

    André Perfeito, economista-chefe da Necton, avalia que a saída de Teich abre uma nova frente na crise política atual. “E uma crise que chega no momento mais agudo da pandemia, sem um presidente para cuidar disso. É muito sério o que aconteceu”, diz. Segundo o economista, fica evidente que há uma capacidade de articulação de Bolsonaro muito mais limitada do que pensada inicialmente. Os efeitos do câmbio devem sentir as consequências nos próximos dias. “Mantemos nossa projeção do dólar em R$ 6,30 no médio prazo”, diz ele.

    Na mesma linha, Leonardo Hojaij, diretor do AndBank, também acredita que o dólar pode ultrapassar os R$ 6 muito em breve. “É um mercado sensível a risco político.” Para ele, o impacto da saída de Teich é mais político que econômico. “Mostra um confronto de ideias entre Bolsonaro e o restante do mundo, em relação a temas como o distanciamento social e abertura econômica”, defende Hojaij. De toda forma, reconhece que não ajuda a economia, de forma geral, nem os mercados de curto prazo, com reações imediatas já observadas na Bolsa e no dólar. 

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