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    De estagiária a 1ª presidente de agro da Bayer: a história de Malu Nachreiner

    Nachreiner começou a sua carreira como estagiária na Monsanto em 2004, empresa que foi adquirida pela Bayer em 2018. Agora, ela preside a Crop Science Division

    Tamires Vitorio, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo — de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), é o terceiro país em produção agrícola, atrás somente dos Estados Unidos e da China.

    A população brasileira também é majoritariamente feminina, com 51,8% de mulheres no país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

    Mas foi só recentemente que a sucursal brasileira da Bayer, uma das maiores fabricantes de alimentos do mundo, escolheu uma mulher para liderar a sua divisão de agronegócios.

    Malu Nachreiner começou a sua carreira como estagiária na Monsanto em 2004, empresa que foi adquirida pela Bayer em 2018. Ao longo dos anos, ela foi subindo posições até, enfim, assumir a presidência da área conhecida como Crop Science Division. 

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, Nachreiner fala sobre as dificuldades de ser mulher em um setor predominantemente masculino, como foi assumir um cargo de alto escalão em plena pandemia da Covid-19 e ainda comenta a relação da atividade agrícola e a sustentabilidade e a importância do Brasil para a companhia.

    “Eu tenho vários desafios e oportunidades neste cargo. Primeiro, para mim é um prazer enorme estar à frente dessa operação do Brasil, que é a segunda no mundo em termos de relevância na Bayer. Existe, é claro, o desafio de liderar uma organização com um grande número de pessoas”, afirma. A Bayer, no Brasil, tem mais de 6 mil funcionários — 4 mil somente na área de Nachreiner. “E, para mim, existe o desafio pessoal de ter assumido a área em uma situação de pandemia”, diz.

    Para Nachreiner, existe uma “evolução muito grande” na representatividade de mulheres em cargos de liderança no setor agrícola e nas lavouras. “Hoje mais ou menos 1/4 das propriedades rurais tem uma mulher em posição alta. Isso é uma evolução muito significativa, mas ainda temos muito para crescer”, afirma. 

    Há quase de 18 anos na área, ela conta que se acostumou a ser a única mulher em determinadas reuniões e eventos, mas, o que conta é o apoio da companhia como um todo. “Todos os meus colegas e líderes sempre criaram um ambiente para que eu pudesse me desenvolver e estar nessa posição. Quando falamos de inclusão e diversidade, existe um papel muito grande da oportunidade. Quando damos espaço de verdade para as minorias, você consegue trabalhar com isso ao longo do tempo”, diz. 

    Em seu novo cargo, ela se sente responsável por ser “um exemplo” para as outras mulheres da companhia. Isso fez, também, com que ela se tornasse chefe de seus chefes — uma inversão de papéis.

    “É um prazer enorme porque eu tive a felicidade de trabalhar com pessoas incríveis. Eu tenho uma relação de confiança com essas pessoas, mas acho que é sempre um cuidado. Muda a relação, muda a forma de interagir, mas é um processo natural”, avalia. “Muitas vezes me trazem esse questionamento, mas, para mim, a base da relação quando a gente constrói um time de trabalho, é a confiança”, diz. 

    A grande vantagem de ser criada em uma família de muitas mulheres foi não ter a mensagem de que eu não conseguiria algo apenas por ser mulher. Eu tenho um irmão e sempre fomos tratados da mesma forma, sempre houve uma igualdade muito grande. E acreditar que não existiriam barreiras em função de ser homem ou mulher, sem dúvida, foi algo que veio comigo.

    Para ela, um de seus grandes papéis (apesar da distância pela pandemia) é fazer com que seu time “consiga chegar onde precisamos chegar”. “O papel dos líderes é ser um removedor de barreiras. Ele tem de facilitar entradas, reduzir burocracias, procurar caminhos mais ágeis, mais eficientes”, afirma. “No mercado como um todo, é preciso se reinventar. Precisamos ter velocidade”, diz. 

    Nachreiner ainda diz que o agro é “um grande propulsor da economia brasileira” e que “hoje se fala muito mais em oportunidades do que em desafios”. “Hoje temos uma demanda cada vez maior e o produtor brasileiro está cada vez mais capacitado”, afirma. 

    Criação matriarcal

    Criada em uma família cujo centro era sua avó e sua mãe, Nachreiner afirma que foi criada em um ambiente extremamente matriarcal — o que, para ela, impactou diretamente em sua carreira.

    “Foi um ambiente que me moldou desde pequena. Eu acho que eu não tinha muita consciência disso antes, mas isso veio com o tempo”, diz. “A grande vantagem de ser criada em uma família de muitas mulheres foi não ter a mensagem de que eu não conseguiria algo apenas por ser mulher. Eu tenho um irmão e sempre fomos tratados da mesma forma, sempre houve uma igualdade muito grande. E acreditar que não existiriam barreiras em função de ser homem ou mulher, sem dúvida, foi algo que veio comigo”, afirma.

    Para ela, ver a mãe trabalhando desde sempre, fez com que encarasse as mulheres fora de casa como “um novo normal”. Quando cresceu e viu a dificuldade das mulheres no mercado de trabalho, ela conta que se assustou. “Isso não fazia parte da minha história. Infelizmente eu entendo que não é assim para todos”, diz. 

    A executiva também conta que não foi vítima do sexismo no mercado de trabalho. “De fato eu tive o privilégio de trabalhar com pessoas que me ajudaram muito, mas entendo que sou a exceção. O que aconteceu muito na minha carreira foi que, muitos anos atrás, em alguns momentos, por eu ser a única mulher, eu percebia que eles não sabiam lidar comigo”, conta. “Era um ambiente muito masculino e eu via uma preocupação com as piadas e comentários que hoje já não cabem mais.”

    Depois das reuniões, ela diz que aconteciam happy hours — e as pessoas não sabiam se a convidavam, mudando de ideia depois. “Eles aprenderam a conviver comigo e eu com eles. Depois eu era convidada e me divertia muito. Se fosse igual, não teria graça”, afirma. 

    Sustentabilidade

    Para fazer agricultura e sustentabilidade andarem juntas, Nachreiner entende que é necessário capacitar o produtor com ferramentas tecnológicas. “Isso o ajuda a produzir mais, e de maneira mais sustentável. Acreditamos que o agricultor brasileiro pode ser conhecido pela maneira como ele produz. A sustentabilidade e a produção agrícola, cada dia mais, são temas que vão andar lado a lado”, afirma. E para que a agriculta se torne mais sustentável, também é preciso, na avaliação de Nachreiner, integrar politicas públicas e iniciativas privadas.

    Em 2016, a atividade agropecuária era responsável por 69% das emissões de gases no efeito estufa, segundo o Observatório do Clima. Em 2019, o setor foi responsável pela emissão de 598,7 milhões de toneladas de CO2e.

    O Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) aponta que a atividade rural — seja direta ou indiretamente, por meio do desmatamento, que é quase todo destinado à agropecuária — respondeu por 72% das emissões do Brasil em 2019. 

    A chave para a mudança

    Para tornar o setor da agricultura ainda mais eficaz, Nachreiner acredita que é preciso fazer uma combinação de três elementos. “Não tem como fazer uma produção de alimentos sustentável sem a gente trabalhar com tecnologia e inovação, e sem a gente ter ferramentas digitais que permitam a tomada de decisões baseadas em dados”, diz.

    Bayer
    “Não tem como fazer uma produção de alimentos sustentável sem a gente trabalhar com tecnologia e inovação”, diz Malu Nachreiner
    Foto: Bayer/Divulgação

    Facilitar a forma como os agricultores tomam decisões no dia-a-dia, para ela, é a chave para fazer com que tudo isso funcione mais rápido. 

     

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