Crise inesperada por coronavírus prova importância do ‘manual do bom investidor’
Obedecer às regras difundidas por educadores financeiros, como poupar para emergências, pode amortecer a queda em cenários extremos
Todo mundo já ouviu, alguma vez na vida, que guardar dinheiro para emergências e imprevistos é fundamental para manter o sono tranquilo. Depois do impacto econômico causado pelo surto de coronavírus no mundo, ficou ainda mais evidente a importância de regras como essa, que fazem parte do manual do bom investidor para manter as contas equilibradas.
Não que os mandamentos da educação financeira sejam infalíveis num cenário como o atual. De acordo com o planejador financeiro certificado pela associação Planejar, Eduardo Forestieri, uma situação de crise tão atípica e extrema quanto essa é capaz de balançar mesmo os mais preparados. O problema é não ter nenhum tipo de plano caso um imprevisto como esse aconteça.
Forestieri explica que um bom planejamento financeiro vai levar em consideração toda a trajetória de vida do investidor. Existe o momento de poupar, períodos em que os gastos aumentam e também a preocupação com o legado, que pode ser deixado aos herdeiros, no fim da vida, ou passado adiante no meio do caminho.
Mas apesar de difundidas, essas regras nem sempre são seguidas à risca ou encaradas como prioridade na vida cotidiana. Para Forestieri, tão importante quanto ter um bom plano de finanças pessoais é executá-lo e ter disciplina para mantê-lo por toda a vida. O consultor relembra os principais pontos defendidos por educadores financeiros e dá algumas orientações, tanto para quem seguiu à risca o manual do bom investidor quanto para quem foi pego de calças curtas na chegada da crise.
Autoconhecimento
Uma das partes mais fundamentais do planejamento financeiro a longo prazo, a reserva de emergência deve ser calculada e mantida de acordo com as características de cada investidor. É preciso entender quanto você ganha, em números líquidos, quanto você gasta e também se perguntar quanto do seu orçamento é comprometido com gastos essenciais.
Outro fator importante é projetar, por exemplo, em quanto tempo é possível se recolocar no mercado, caso você perca sua principal fonte de renda. Esse é o tipo de aspecto que varia muito de um profissional para o outro.
“Se eu interromper minha entrada de renda hoje, quanto tempo eu preciso sobreviver com a minha reserva?”, pergunta o consultor.
Comece agora
Depois que esses fatores estiverem mais definidos, é hora de começar a pensar nas opções. O mais indicado, para um investimento que tem como finalidade a segurança financeira, são os títulos de renda fixa, sejam públicos ou privados. O importante é ter a confiança que o emissor é capaz de retornar e, principalmente, rápido. “Privilegie a liquidez e não retorno, neste caso”, diz Forestieri.
Se você ainda não consegue guardar um valor considerável todo mês, poupe o que puder. Os valores, ainda que pequenos, se juntados ao longo do tempo podem garantir uma reserva para o curto prazo, o que garante noites de sono mais tranquilas em períodos de crise financeira ou em imprevistos pessoais.
No cotidiano, é comum deixar para formar a reserva para depois, porque “simplesmente vamos vivendo”, explica o consultor. Mas para quem ainda não tem reserva, é hora de fazer. Nem que isso signifique abrir mão de um sonho ou projeto, temporariamente. Talvez isso signifique vender um carro, um objeto de valor, mas pode ser fundamental para o fluxo de caixa.
Devagar e sempre
Quando o assunto é o longo prazo, o conselho é o mesmo de sempre: diversificação. Ou seja, o ideal é apostar em mais de um tipo de retorno. “Podemos buscar algo que retorne acima da inflação, colocar algumas ações na carteira e, no fim, um compensa o outro. A diversificação consegue balancear risco e o retorno”, explica.
Quem tem poder de compra hoje, mesmo em meio a crise, pode aproveitar boas oportunidades, acredita Forestieri. Mas ele alerta para as armadilhas de investimentos nesse período. “Comprar qualquer coisa, que não seja dólar, vai ser muito mais barato agora, a questão é saber quanto tempo esse investidor consegue segurar a compra na mão sem quebrar o caixa.”
Para quem não está pensando apenas nas próprias finanças, como pessoas casadas ou com filhos, é indispensável pensar o planejamento financeiro no coletivo. O orçamento da família precisa ser pensado como um todo, de acordo com o consultor. E, talvez, o momento propicie a mudança de comportamento e a abordagem de temas como esse no lar. “Se você não fizer seu planejamento em família, não funciona. Por que não falar de planejamento financeiro dentro de casa?”
O objetivo final desse projeto financeiro também precisa ser pensada no presente. Não só a aposentadoria, defende Forestieri. “Quando sairmos dessa crise, será o momento de pensar: o que vamos deixar para os outros? Vamos consumir tudo que temos em vida ou deixar algo para alguém?”
E o consultor não se refere apenas à herança. “Também precisamos pensar na solidariedade, que deixamos de lado no pensamento do dia-a-dia. Pensar em deixar algo no meio do caminho, a quem precisa. É preciso pensar no legado”, conclui.