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    Covid e juro baixo podem levar geração Y a querer casa própria, diz CEO do ZAP

    Desejo por segurança e financiamento com custo reduzido podem fazer jovens trocarem o aluguel pela compra, diz Lucas Vargas em entrevista

    Luísa Melo, do CNN Business, em São Paulo

    A combinação de pandemia mais juros nas mínimas históricas deve despertar no consumidor jovem um maior desejo pela compra de imóveis, aposta Lucas Vargas, presidente do Grupo ZAP.

    Na avaliação dele, as incertezas trazidas pela crise do novo coronavírus e as oportunidades de financiamento a um custo reduzido podem fazer com que a geração Y, que agrupa os nascidos entre 1980 a 1995 e que valoriza o serviço em detrimento da posse, comece a pensar na casa própria.

    “Neste novo momento, é uma aposta nossa: vai ter uma força maior que vai aflorar nos consumidores jovens em busca da segurança”, disse em entrevista ao CNN Brasil Business. “Então, com taxas de juros mais baixas, havendo a possibilidade de escolha, a gente entende que vai ter uma migração maior destes consumidores da locação para a compra”, afirma.

    Se for concretizada, a teoria de Vargas pode abrir um novo – e amplo – horizonte de negócios. Pesquisa da agência digital Today divulgada no segundo semestre do ano passado apontou que 80% dos consumidores que tinham entre 25 e 39 anos preferiam alugar imóveis em vez de comprá-los. E os millennials já são mais de 47 milhões, ou 22% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    O CEO do Grupo ZAP emenda que ainda é cedo para que a tendência seja vista nos indicadores, já que o ciclo de compra de um imóvel, desde a decisão até a efetivação do contrato, é de cerca de dois anos.

    A taxa básica de juros, a Selic, passou por sucessivos cortes e agora está em 2,25% ao ano. Já os juros médios do crédito imobiliário hoje são de 7,2% ao ano, segundo dados do Banco Central.

    Outro fator que colabora para um possível aumento dos financiamentos no setor, destaca Vargas, é a melhora da poupança, que faz com que os bancos tenham mais dinheiro disponível para essa linha de crédito.

    Em maio, a caderneta renovou recorde de captação de recursos, com entrada líquida de rede R$ 37,2 bilhões. No mesmo mês os financiamentos para a compra de imóveis aumentaram 8,2%, na comparação com um ano antes, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Em abril, a alta tinha sido de 22,6%.

    Leia também:
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    Covid-19 derruba novos contratos

    A perda de renda e o medo de gastar dos consumidores, provocados pela Covid-19, acertaram em cheio o setor imobiliário. De abril a maio, segundo os dados mais recentes do Grupo ZAP, a quantidade de imóveis vendidos caiu pela metade em relação ao período anterior à crise.

    “É uma queda bastante significativa, especialmente em um mercado grande como o nosso, de transações com um montante grande”, afirmou Vargas. 

    O impacto variou conforme a região, o padrão dos imóveis e se são novos ou usados, de acordo com o executivo. No mercado primário, quando a venda é feita diretamente pela construtora, os apartamentos e casas voltados à média e à alta renda foram os que mais sofreram.

    “A gente também tem que tomar cuidado, porque os dados de transações referentes a esses meses de abril e maio muitas vezes são de negociações que começaram antes da crise e estão fechando por agora”, ponderou.

    Os números de junho ainda não foram compilados, mas, segundo o executivo, a perspectiva é de estabilidade.

    Buscas

    Segundo Vargas, as buscas por imóveis nos canais do Grupo ZAP caíram cerca de 30% na segunda quinzena de março, quando tiveram início as medidas de distanciamento social, mas vêm se recuperando desde então. A expectativa é de que em julho elas retornem ao patamar pré-crise.

    Dados de levantamento feito pela empresa com os usuários de suas plataformas entre a última semana de maio e a primeira semana de junho, mostram que 29% afirmavam ter “diminuído muito” a procura por imóveis. O estudo foi obtido em primeira mão pelo CNN Brasil Business.

    Foi a terceira coleta de informações realizada pela companhia e 3,4 mil pessoas foram ouvidas pela internet. Na primeira, feita no início da crise, o percentual era de 60% e, na segunda, feita entre o fim de abril e o começo de maio, de 40/%.

    Vargas disse ter notado alterações na maneira de os consumidores pesquisarem imóveis durante a quarentena. Impedidos de passear pelos bairros à procura de placas de “vende-se” e “aluga-se”, eles passaram a gastar mais tempo nas buscas online.

    O perfil dos alvos também mudou. Nas grandes capitais, por exemplo, cresceu a busca por imóveis para aluguel mais espaçosos e em regiões muito movimentadas. Também aumentou a procura por aqueles com característica de “segunda residência”.

    O levantamento mais recente mostrou que, para 7 em cada 10 entrevistados, morar em um lugar com ambientes mais bem divididos passou a ser importante ou muito importante depois do isolamento social. Outros 60% citaram vista livre, varanda e vinhança com mais comércio e serviços como elementos importantes ou muito importantes. 

    Dados da Imovelweb, concorrente da ZAP, indicam o mesmo movimento. Eles mostram que a procura por imóveis com varanda cresceu 128% em maio, contra igual mês do ano passado. A busca por casas com quintal também aumentou 96% na mesma comparação.

    “As pessoas começaram a procurar alternativas para resolver problemas que elas não tinham antes. A gente viu que os sentimentos do público foram variando ao longo do tempo. Enquanto nas primeiras semanas a gente tinha dúvida e medo, agora vemos reações como depressão, tristeza, ansiedade”, disse Vargas.

    Ele ressaltou, porém, que o desejo dos consumidores nem sempre se traduz em transações com o mesmo perfil.

    Efeito home office

    Apesar de algumas empresas já terem manifestado intenção de estender o home office por algum tempo (e até para sempre), Vargas disse que não houve ainda índices significativos de cancelamentos de contratos e devoluções no segmento de lajes corporativas, os grandes escritórios de alto padrão. 

    “Empresas têm declarado que podem fazer ajustes, ter uma flexibilidade. Mas não ter um escritório, como foi cogitado por alguns analistas no início da pandemia, me parece um cenário bastante extremista”, afirmou, emendando que caso aconteça, o movimento não deve ser imediato.

    O executivo disse, porém, que ocorreram renegociações de aluguéis na faixa de 30% a 40% desde o início da crise. Por enquanto, os novos valores tem tido carência de poucos meses, mas ele disse acreditar que os descontos irão se prolongar à medida que os efeitos da pandemia na economia ficarem mais evidentes.

    Impacto no grupo

    Cerca de 90% dos imóveis negociados pelo Grupo ZAP são residenciais. Dentro desse universo, a receita que vem do mercado primário, ou seja, das construtoras, caiu cerca de 10% desde o início da crise, na segunda quinzena de março. A expectativa, segundo Vargas, era de uma retração de 50%.  

    “Muitas incorporadoras suspenderam projetos dada a incerteza, mas trabalham com estoques ou lançamentos recentes que não podem ficar parados. E, por isso, mantiveram esse canal conosco.”

    Já a receita vinda das imobiliárias e corretores, no mercado secundário, recuou aproximadamente 20% no período.”É um mercado mais pulverizado, vários clientes são pequenos e, de fato, sofrem mais”, afirmou.

    O Grupo ZAP nasceu da fusão dos portais ZAP e Viva Real. A plataforma reúne 8,3 milhões de anúncios e recebe 50 milhões de visitantes por mês. 

    No início de março, dias antes de a pandemia começar a se espalhar pelo país, a empresa foi comprada pela OLX por R$ 2,9 bilhões. O negócio está sob análise dos órgãos reguladores e deve ser concluído no segundo semestre.

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