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    Contração de atividade nos EUA pode levar a juros menores, dizem analistas

    Movimento pode favorecer o Brasil, mas depende de novos dados sobre a economia norte-americana

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    A primeira contração da atividade empresarial nos Estados Unidos em dois anos pode levar o Federal Reserve a ser mais moderado no ciclo atual de alta de juros, segundo especialistas.

    Divulgado nesta sexta-feira (22), o Índice de Gerentes de Compras (PMI) composto, que combina dados de serviços e indústria, registrou 47,5 pontos em julho, abaixo das projeções de investidores, na casa dos 52 pontos.

    Em junho, o PMI composto foi de 52,3. Um valor abaixo de 50 indica contração da atividade. O desempenho negativo no mês foi causado pela contração do PMI de serviços, que registrou 47 pontos. Já o industrial teve 52,3, ainda indicando aceleração.

    O resultado trouxe a primeira contração no PMI composto desde maio de 2020, quando a economia foi afetada pela pandemia. Surpreendido, o mercado passou a revisar projeções para a economia dos Estados Unidos, incluindo para a taxa de juros.

    Juros menores?

    O resultado negativo em julho está ligado a uma baixa confiança dos consumidores na economia, tendo que lidar com juros em alta, inflação recorde e expectativa de uma recessão, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton.

    Após o resultado do PMI, a visão do mercado passou a ser que “com a atividade mais fraca, talvez os juros não precisem subir tanto, então o mercado reagiu esperando agora juros mais baixos”.

    Logo após a divulgação do dado, o mercado revisou suas projeções para as próximas elevações de juros pelo Federal Reserve.

    O CME Group aponta que, em relação há sete dias, as apostas em uma alta de 0,75 ponto percentual na reunião da próxima semana subiram para 78,7% ante 72,1%, com queda na quantidade de investidores que esperam uma elevação de 1 p.p.

    A visão de um ciclo de juros mais moderado também ganhou espaço para a reunião de setembro – com uma alta de 0,5 p.p. se tornando a aposta majoritária -, assim como para os encontros em novembro e em 2023. Ou seja, o mercado espera uma taxa terminal de juros menor.

    Segundo Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o PMI de julho “sugere uma maior probabilidade de recessão nos Estados Unidos, e isso reduz a pressão para um ciclo de juro mais austero”.

    A lógica é que uma economia mais forte tem uma pressão inflacionária de demanda maior, exigindo mais elevações de juros para combater a alta nos preços.

    Se a economia está mais fraca, a inflação tende a ser menor devido à queda na demanda, permitindo que o Fed suba menos os juros, também para evitar desacelerar excessivamente a economia.

    A visão se espalhou pelo mercado, mas Sanchez destaca que o PMI é apenas um indicador, e ele mede o sentimento das empresas sobre a economia, não sendo “o grande antecessor da crise”.

    “Esse é apenas um dado que leva a essa direção, sendo necessários muitos outros nos próximos meses para que isso se confirme”, afirma.

    O PMI composto nos Estados Unidos não costuma ter uma correlação tão grande com o Produto Interno Bruto (PIB) quanto a sua versão europeia, mas mesmo assim o resultado é um “sinal importante”, de acordo com Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital.

    “Se tiver mesmo uma desaceleração mais rápida e intensa, então o ritmo de aperto monetário pode ficar mais moderado”, avalia.

    Entretanto, a inflação de serviços nos Estados Unidos, mais inercial e que demora para recuar, ainda está “muito alta”, o que deve obrigar o Fed a subir juros por alguma tempo para contê-la.

    A economista ainda espera que o Fed siga o indicado e suba os juros em 0,75 p.p. na próxima semana. Para os próximos encontros, será importante observar os dados que serão divulgados, e que podem confirmar, ou não, a indicação do PMI composto.

    “Se tiver ainda mais evidências de desaceleração nos próximos 45 dias, deixando claro que a atividade mudou de ritmo, aí temos que pensar sim em uma moderação do ajuste de juros”, diz.

    Efeitos no Brasil

    Uma economia mais fraca nos Estados Unidos, e um ciclo de juros mais moderado, tende a afetar principalmente o câmbio brasileiro.

    Para Perfeito, os juros menores na maior economia do mundo implicam em juros menores no Brasil, já que o Banco Central não precisaria elevar muito mais as taxas para aumentar a distância entre os juros dos países.

    Nesse processo, a tendência é que o dólar caia pelo mercado norte-americano ficar menos atrativo, mesmo com altas pontuais devido a uma aversão a riscos por parte dos investidores pelo cenário de recessão global.

    Já Nogueira aponta que o real também tem desvalorizado devido à combinação de piora na economia da China e aumento da percepção de risco no Brasil por questões fiscais.

    “Se a desaceleração americana ocorrer mais cedo, segue um cenário desafiador, já que a atividade brasileira vai sentir e vai ficar um pouco mais fraca”, avalia.

    A economista considera que um aumento de aversão a riscos devido à recessão ainda tender a prejudicar o Brasil, o que pode tornar o movimento de queda na inflação mais incerto com um câmbio depreciado.

    Ao mesmo tempo, uma recessão nos Estados Unidos deve levar a uma atividade econômica mais fraca no Brasil, segundo Sanchez.

    “Por outro lado, caso essa desaceleração na atividade do Estados Unidos culmine em uma queda da inflação, somos beneficiados também, e há a possibilidade de uma reversão da taxa de juros mais rápido que o esperado”, ressalta.