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    Como a eleição americana pode afetar os investidores brasileiros?

    Vitória de Biden diminuiria tensão entre EUA e China e afetar exportadores brasileiros. Já a vitória de Trump traria incertezas quanto a futura crise econômica

    O ex-vice-presidente Joe Biden e o presidente Donald Trump: eventual vitória do democrata pode mudar completamente o cenário econômico global 
    O ex-vice-presidente Joe Biden e o presidente Donald Trump: eventual vitória do democrata pode mudar completamente o cenário econômico global  Foto: CNN

    André Jankavski,

    do CNN Brasil Business, em São Paulo

    As eleições americanas estão no radar de investidores em todo o mundo. E se há pessoas com dinheiro na bolsa brasileira pouco preocupadas com o tema, está na hora delas mudarem o pensamento. Marcadas para o próximo dia 3 de novembro – ou seja, estamos a menos de 100 dias para o pleito –, uma derrota do atual presidente americano Donald Trump pode mudar completamente o cenário econômico global.

    E, pelo menos por enquanto, a reeleição de Trump está mais ameaçada do que nunca. Recentes pesquisas realizadas e divulgadas por meios de comunicação americanos apontam que o rival democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, está até de 14 pontos percentuais à frente.

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    E comprar uma briga com os democratas pode não ser uma boa ideia. O primeiro motivo é que, por Biden ser mais pragmático e não pender para o lado populista como Trump, a guerra comercial com a China pode ser arrefecida.

    Apesar de boa parte do planeta pedir por essa redução de tensão, pelo menos em um primeiro momento, o fim dessa nova ‘guerra fria’ seria negativo para aquele setor que mais tem dado motivos para o Brasil sorrir: o agronegócio.

    As empresas exportadoras em geral poderiam sofrer um baque. Afinal, uma reaproximação entre EUA e China pode fazer com que os chineses passem, novamente, a comprar commodities como soja e carne dos americanos.

    Ou seja, empresas listadas na bolsa como JBS, Marfrig, SLC Agrícola, BRF e Minerva poderiam sofrer algum tipo de represália. Para piorar a situação, Bolsonaro não vem fazendo força para diminuir o clima de tensão com os chineses – apesar de todo o esforço da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, em evitar problemas com o maior parceiro comercial do país.

    A JBS, a BRF e a Marfrig já sofreram com o incômodo dos chineses. Alegando que a pandemia da Covid-19 continua sem controle no Brasil, a China suspendeu temporariamente importações de seis frigoríficos nacionais – entre eles, um da JBS, um da Marfrig e dois da BRF.

    É claro que a pandemia contribui para esse cenário, mas isso pode significar uma soma de fatores. Se a Covid-19 continuar em alta no Brasil e Biden vencer, a China pode muito bem se debandar para o lado americano.

    “Os Estados Unidos são os nossos grandes competidores e, se tirarmos esse tom de guerra comercial, eles voltam a ser competidores ainda mais agressivos”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

    Questão ambiental

    Outro fator que pode pesar para o Brasil, caso Biden saia vitorioso, é a questão ambiental. A imagem do país no exterior ainda está muito abalada por fatores como queimadas da Amazônia.

    Não é por acaso que investidores, CEOs e ex-ministros passaram a cobrar uma resposta mais firme do governo quanto à política ambiental: sem ela, os negócios vão ser afetados.

    Especialmente para empresas com negócios em outros países. Como é um movimento global, e na maioria das vezes negligenciado pelos atuais líderes dos EUA e do Brasil, o tom do governo precisará mudar.

    Talvez, até mesmo com uma vitória de Trump, ambos países precisarão redirecionar a questão internamente dentro dos governos. Diversas lideranças do mundo inteiro estão clamando por um crescimento mais sustentável.  

    “É uma ideia que está no mundo inteiro, não só aqui”, disse, em entrevista recente ao CNN Business, Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e ex-ministro do Meio Ambiente. “No debate pós-pandemia, seja na Europa, Estados Unidos, China, o grande tema é esse: não voltar apenas à economia tradicional do passado, o ‘business as usual’, mas aproveitar a oportunidade para inovar com uma economia sustentável.”

    E se Trump ganhar?

    Mesmo com a situação atual de Donald Trump estar bem complicada, nenhum analista crava uma vitória de Biden tão facilmente. Em 2016, Trump saiu como azarão ainda nas prévias do partido republicano para o assento mais importante da Casa Branca em poucos meses.

    Logo, uma vitória de Trump continuaria aumentando o clima de tensão entre EUA e China e, no curto prazo, isso poderia até beneficiar o país. Afinal, a China precisa dos alimentos do Brasil e a proximidade entre Trump e Bolsonaro pode evitar problemas com os americanos.

    Porém, a economia dos Estados Unidos está caminhando para um dos piores anos de sua história. No segundo trimestre, a queda do PIB dos EUA foi de 23,9%. Logo, dependendo de como Trump lidar com a crise econômica, a situação do país pode ficar bem complicada.

    E apesar da conexão entre o presidente americano e Bolsonaro, Trump deu mais motivos para desconfiança da sua relação com o Brasil do que o contrário. Trump, por exemplo, colocou o Brasil como exemplo negativo no combate à Covid-19. Além disso, indicou um nome própria à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), frustrando uma candidatura brasileira que estava sendo discutida.

    Por outro lado, em janeiro deste ano, os EUA apoiaram a candidatura do Brasil na OCDE no lugar da Argentina – depois de terem deixado de lado essa indicação em outubro.

    Mas uma vitória de Trump, na visão do analista de renda variável da Warren, Igor Cavaca, pode manter uma política de juros mais baixa em um prazo mais longo. O dólar, por sua vez, também tem a tendência de se manter em patamares elevados. “Com isso, empresas exportadoras poderiam ganhar, pois esse cenário incentiva a exportação”, diz Cavaga.

    Além das commodities agrícolas, as siderúrgicas CSN, Gerdau e Usiminas também são fortes exportadoras, especialmente para os Estados Unidos.

    Entenda o pleito

    Biden está cerca de 14 pontos à frente de Trump. Como as eleições americanas são indiretas, com cada estado tendo um número de delegados (que são considerados os votos), o número pode não importar muito – Hillary Clinton, por exemplo, saiu derrotada em 2016 mesmo terminando o pleito numericamente à frente de Trump.

    Porém, agora, a situação não é a mesma. Biden está bem à frente nas pesquisas nos chamados “swing states”, que ora pendem para o lado republicano e ora para os democratas. Por enquanto, Flórida, Arizona, Michigan, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wiscosin estão bem mais ao lado do ex-vice-presidente de Barack Obama.

    Logo, a vitória de Biden é bem esperada e isso pode afetar diretamente o Brasil. Primeiro de tudo, obviamente, é que o presidente Jair Bolsonaro já se posicionou a favor de Trump, descumprindo uma espécie de protocolo diplomático – líderes de outros países não falam de eleições de outros.

    Quando o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, passou a se posicionar ainda mais fortemente, o Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Estados Unidos fez um pedido pouco dócil: “fiquem fora das eleições americanas”.

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