Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Com lockdowns na China, movimentação portuária cai no Brasil

    Primeiros quatro meses deste ano registraram queda de 3% em relação ao mesmo período no ano anterior

    Beatriz PuenteLucas Janoneda CNN , Rio de Janeiro

    A movimentação portuária de fretes cargueiros no Brasil caiu 3% entre janeiro e abril deste ano, em comparação com o mesmo período em 2021. O resultado foi fortemente impactado pelas medidas de lockdown adotadas na China desde o início de março.

    Os dados fazem parte do levantamento mais recente da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), do governo federal.

    Segundo os dados oficiais, a importação de produtos via frete marítimo registrou queda de 7,92%, enquanto a exportação caiu quase 3% no país. Também no Brasil, a cabotagem, que representa a navegação na costa, registrou queda. Em relação a 2021, esse serviço de transporte apresentou retração de 2,5%.

    Apesar da queda da movimentação dos portos brasileiros, o volume de carga geral transportada subiu 26% no mesmo período. Foram mais de 23 milhões de toneladas carregadas deste modo entre janeiro e abril deste ano. A carga geral é uma modalidade marítima que difere de containers.

    O transporte desse segmento normalmente é feito por sacas, caixas, fardos, tambores e engradados, e não sentiu o efeito do lockdown na China. Pelo contrário, a modalidade foi beneficiada pela paralisação nos portos chineses e pelo aumento do preço dos containers, que tiveram alta de custo em função do lockdown.

    Um dos problemas atuais enfrentados no Brasil, causado pelo surto do vírus na China, é a escalada no custo do frete de navios cargueiros no país, sejam aqueles que pretendem atracar em portos brasileiros, quanto os que têm os portos asiáticos como destino final.

    À CNN, o diretor presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP), Jesualdo Silva, confirmou que a paralisação de navios cargueiros na China gerou uma escassez de oferta global e, consequentemente, uma alta no preço dos fretes.

    “Essa elevação no preço aconteceu. Navios que vinham da Ásia para cá e vice-versa não sabiam se iriam poder descarregar e seguir o percurso. Não saia e nem entrava container, praticamente, na China. E sem dúvidas que uma escassez gera um aumento [no custo]. Muitos produtos são fabricados no país asiático e esse fluxo não estava acontecendo, por causa da Covid-19″, salientou Jesualdo Silva.

    No entanto, mesmo com as restrições impostas pelo lockdown para conter o avanço da Covid-19 na China, os portos do país asiático tiveram alta de 1,7% nos volumes de contêineres movimentados no período de janeiro a abril deste ano, segundo o Centro Nacional de Navegação Transatlântica (Centronave).

    Até o dia 24 de maio, a movimentação de carga nos principais portos chineses aumentou 4,2% em relação ao mesmo período do mês anterior. O Centronave destaca, no entanto, que essa alta foi menor do que o esperado.

    Em Xangai, o sistema de lockdown foi encerrado no primeiro dia de junho, após dois meses. O porto seguiu operando com capacidade reduzida e algumas operações foram redirecionadas ou postergadas.

    Mesmo com a previsão de retorno das movimentações de contêineres para as próximas semanas, o Centronave ainda acredita que é prematuro prever quando ocorrerá a normalização de 100% da cadeia logística na China e, portanto, das cadeias globais de produção e suprimento nos próximos meses.

    “Embora a economia chinesa tenha sofrido com o lockdown, não houve fechamento total em algumas áreas produtivas do país. O resultado positivo podia ser maior, mas precisamos levar em consideração que parte das fábricas do país ficam fora da área urbana, onde as medidas foram mais rígidas. Os portos principais da China fecharam sim, mas outros alternativos continuaram funcionando”, explicou Coordenador do MBA em Gestão Financeira da FGV, Ricardo Teixeira.

    Nota do Centro Nacional de Navegação Transatlântica

    O Centro Nacional de Navegação Transatlântica – informa, no que diz respeito aos lockdowns que tem ocorrido na China desde março desse ano, que o maior impacto logístico observado até o momento teve origem nos bloqueios ao funcionamento e à fluidez da logística terrestre interna do país, notadamente no modal rodoviário.

    Apesar dessas restrições, contudo, houve um aumento de 1,7% nos volumes de contêineres movimentados nos portos chineses no período de janeiro a abril de 2022 em relação ao ano anterior, alcançando 91 milhões de TEUs (unidade equivalente a 20 pés), dos quais 23,6 milhões somente em abril. Já em maio (até o dia 24), a movimentação de carga nos principais portos chineses aumentou 4,2% em relação ao mesmo período do mês anterior.

    Desde março deste ano, como conhecido, as autoridades chinesas adotaram uma série de rigorosas medidas para controlar a nova onda de contágio de Covid-19, incluindo lockdowns em diversas cidades, entre as quais as portuárias. Mesmo assim, o porto de Xangai seguiu operando embora com capacidade reduzida, e algumas operações foram redirecionados para outros portos como Ningbo-Zhousan, ou postergadas.

    Em Xangai as autoridades locais anunciaram recentemente um relaxamento das medidas de segurança. Centros comerciais reabriram com 50% de sua capacidade, algumas linhas de metrô começaram a operar e residentes de áreas classificadas como de baixo risco puderam sair de suas residências.

    As condições de trabalho no “modelo de ciclo fechado”, em que os trabalhadores dormem no local de trabalho para evitar o risco de contaminação externa, permaneceram as mesmas. Com a reabertura do porto, o desafio local para os próximos dias e semanas será a normalização das movimentações de contêineres, pois até mesmo um reinício moderado dos volumes movimentados poderá levar a congestionamentos pontuais.

    Embora os terminais de contêineres de Xangai, que permaneceu isolada por mais de dois meses, tenham permanecido operacionais, o bloqueio do transporte terrestre levou a um acúmulo de mercadorias em fábricas e centros de distribuição da cidade da ordem de 260.000 TEUs.

    O funcionamento pleno do porto dependerá da superação dos desafios que o modal rodoviário ainda enfrenta, pois as restrições dos lockdowns e a falta de motoristas e veículos continuam dificultando a entrega de mercadorias de e para o porto. Mesmo com a reabertura, as autoridades chinesas seguem recomendando o uso do porto de Ningbo-Zhousan.

    Tianjin é, agora, a mais recente grande cidade portuária chinesa a entrar em lockdown. Nela está localizado o porto de Tianjin – o 9º de maior movimentação do mundo e o 6º da China, operando 18,3 milhões de TEUs por ano.

    É conhecido como a porta de entrada para Pequim e é também um ponto crítico da conexão marítimo-ferroviária com a Europa. Espera-se que as operações sendo gradativamente normalizadas em outros portos diminuam os possíveis impactos dos bloqueios em Tianjin.

    Ainda é prematuro prever quando ocorrerá a normalização de 100% da cadeia logística na China e, portanto, das cadeias globais de produção e suprimento nos próximos meses.

    Tópicos