Com fala do presidente do BC, mercado risca das projeções alta de 1,5 na Selic
Comitê de Política Monetária do BC se encontra na próxima semana para decidir o novo nível da taxa básica de juros do país, hoje em 5,25%
O Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) não deve ir além do aumento de 1 ponto percentual na Selic na reunião da semana que vem, como já havia previsto em comunicado divulgado no último encontro.
Essa é a visão do mercado após a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante um evento fechado nesta terça-feira (14).
Campos Neto afirmou que a Selic, a taxa básica de juros da economia, vai ser levada “aonde for necessário” para conter inflação. No entanto, ressaltou que a autoridade monetária não vai “alterar o plano de voo a cada número novo de alta frequência.”
“O que o Campos Neto fez foi tirar do horizonte altas mais fortes que 1,25 ponto. Já tinha gente achando que iria subir 1,5 ponto”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton.
“E de fato influenciou. Os juros mais curtos se ajustaram a este cenário de alta em 1 ponto”, diz.
“Foi uma mudança importante na visão do mercado”, disse o economista Pablo Spyer, sócio da XP.
“A curva de juros futuros, há uns dias, estava indicando probabilidade de 100% de aumento de 1,5 na próxima reunião. Agora, depois que ele fez essa fala, a probabilidade está em cerca de 60% para um aumento de 1 ponto e 40% para alta de 1,25 ponto. Todos recuaram.”
Ritmo não tão rápido
A Selic está atualmente em 5,25% ao ano. Com o novo aumento de 1 ponto deve ir a 6,25%. Com 1,5 a mais, chegaria a 6,75% já na semana que vem.
Com o avanço forte da inflação, que já está próxima de 10% em 12 meses, os economistas já esperam que a taxa Selic deva continuar subindo até chegar aos 8% ou 9%, entre o final deste ano e o começo do próximo.
“É uma questão de ritmo, apontando para um ciclo mais longo”, disse o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani. “A nossa expectativa atual é de que a Selic chegará a 9% até o início do ano que vem. Mas a forma como ela chegará lá, se com aumentos de 1 ou 1,5 ponto, é o Banco Central que decide.”
Padovani também lembra que, apesar da inflação acelerada, há, de outro lado, um crescimento econômico que deve perder muita força até o ano que vem – economistas falam em um crescimento abaixo de 2% em 2022 e muitos já acham que deve ficar perto ou menor do que 1%.
“É uma preocupação do BC. Ele não quer ir muito rápido porque, se a atividade desacelerar muito em 2022, há o risco de segurar demais a economia”, disse Padovani. “E um aumento de 1 ponto já é bastante coisa.”
Outro corretor com quem a reportagem falou disse que Campos Neto foi bastante claro sobre “manter o plano de voo”, sinalizando que o ritmo de elevação da Selic ficará em 1 ponto.
“[Campos Neto] ressaltou os fatores como pressão de custos, inércia e realinhamento da inflação de serviços de forma mais enfática do que em eventos anteriores. Isso também sinaliza a manutenção desse ritmo”, disse o analista, que preferiu não de identificar.