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    CEO da Azul aposta em boom de voos domésticos e vê os melhores dias à frente

    Em meio à redução de voos por causa da pandemia, John Rodgerson acredita que a procura deve subir logo mais e a Azul quer deixar o passado turbulento para trás

    André Jankavski, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    O título da reportagem pode parecer estranho, ainda mais em um momento em que a Covid-19 continua atingindo o Brasil em patamares altíssimos. Mas John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas, diz estar otimista. Ele enxerga no Brasil um movimento que já está ocorrendo nos EUA.

    “Eu conversei com colegas nos EUA e os voos domésticos nunca foram tão bons. Uma empresa teve o melhor dia de reservas da história”, diz ele, que confia em uma retomada similar no Brasil. “Os aeroportos abrirão de novo e as pessoas vão querer viajar.”

    Em dezembro, a Azul chegou a alcançar 90% da sua capacidade com as viagens de fim de ano. Mas, como ainda não havia vacinação, isso foi preponderante para a doença se alastrar ainda mais, segundo especialistas. E é um dos motivos que faz o presente ainda parecer tão distante do futuro.

    Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), atualmente as companhias estão operando apenas 36,8% dos voos. Mesmo a Azul, que mantém uma média maior do que as concorrentes, não passa dos 50%. Atualmente, a empresa faz 480 voos diários –Rodgerson esperava estar operando 600.

    Os resultados preliminares da Azul ainda demonstram uma situação difícil. Em março, por exemplo, o dado que mede passageiros por quilômetro transportado (RPK) caiu 7,3% em comparação com o mesmo período de 2020.

    Mas há como ver o copo meio cheio: a Azul alcançou os 40,7% de participação de mercado em março, deixando Gol (32,3%) e Latam (26,4%) para trás, segundo dados da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac).

    Nos Estados Unidos, apesar do cenário descrito por Rodgerson, a situação está longe de ser das melhores. A procura por voos ainda é 40% menor do que a registrada em 2019. Porém, há sinais positivos.

    A Southwest Airlines, focada no mercado doméstico e que foi a aérea que mais transportou passageiros em 2019, conseguiu ter lucro no primeiro trimestre deste ano, e o CEO da empresa, Garry Kelly, afirmou em conferência com analistas que está “aliviado, otimista, entusiasmado e agradecido” aos seus funcionários e por essa recuperação.

    Por isso, o foco da Azul está no futuro. O executivo acredita que terá uma demanda reprimida quando os casos da Covid-19 diminuírem.

    Pense em quantas luas de mel não aconteceram e quantos netos nasceram sem conhecer os avós.

    John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas

     

    Outro fator que deve ajudar a retomada dos voos domésticos é a alta do dólar. Afinal, não teremos tantas pessoas podendo viajar para fora com o dólar acima dos R$ 5,50 –no início de 2020, a moeda americana valia R$ 4. Com isso, Rodgerson acredita que o turismo doméstico vai decolar de vez.

    Eu acho uma vergonha que o brasileiro não conheça o seu país, que não tenha levado os seus filhos para conhecer Foz do Iguaçu, a Amazônia e as praias do Nordeste.

    John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas

     

    Para André Castellini, sócio da Bain & Company e especialista no setor aéreo, ainda há muitas incertezas quanto à recuperação de fato desse mercado. Segundo ele, provavelmente o mercado doméstico volte aos níveis de 2019 somente em 2023, com exceção dos meses de alta temporada. No caso dos voos internacionais, só deverá voltar em 2025.

    “Com certeza haverá um período de ‘consumo de vingança’ e pode até acontecer um bom momento por alguns meses. Mas, depois, entra a realidade do desemprego, dólar acima dos R$ 5, entre outros fatores”, afirma ele.

    Dinheiro em caixa

    A Azul tem capacidade de operar 1.000 voos por dia. Se estamos próximos dos melhores dias para o setor de aviação, isso será o suficiente? Para Rodgerson, há muita oferta de aviões em todo o mundo, o que ajudaria bastante caso o setor precise aumentar a oferta de voos por aqui.

    Ao mesmo tempo, as companhias aéreas estão longe de estar em um momento tranquilo. A Latam, por exemplo, está em recuperação judicial. A Gol, por sua vez, teve mais uma queda de caixa e fechou março com R$ 1,9 bilhão nos cofres, 10% a menos do que no mês anterior. Rodgerson fala que a situação da Azul está até que positiva, com R$ 4 bilhões de caixa –um ano antes esse valor mal chegava a R$ 2 bilhões.

    De qualquer maneira, os percalços de 2020 vão demorar para ser superados. A receita líquida da companhia despencou 49,4%, a R$ 5,8 bilhões, enquanto o  prejuízo foi de R$ 10,2 bilhões em 12 meses. Em 2019, a empresa havia conseguido lucrar R$ 823,7 milhões.

    Avião Azul Linhas Aéreas
    Avião da Azul: empresa se tornou a líder de um mercado que sofre para decolar novamente
    Foto: Luis Neves/Azul

     

    Parceria com a Latam

    Algo que a Azul fez para amenizar os custos foi um esquema de compartilhamento de voos com a rival Latam, iniciado em agosto de 2020 e que perdura até hoje. Na prática, o cliente compra a passagem em uma companhia para determinado trecho, mas pode acabar viajando pela outra, caso não haja procura suficiente para voos distintos.

    Isso levantou uma questão: será que uma junção das duas aéreas seria uma possibilidade? “Todas as opções estão na mesa, mas não há nada em discussão no momento”, diz Rodgerson.

    John Rodgerson CEO Azul
    John Rodgerson, CEO da Azul: muitos brasileiros vão querer voltar a viajar
    Foto: Azul/Divulgação

    Enquanto isso, a companhia luta para conseguir convencer os investidores de que suas ações podem decolar novamente. Apesar de, em 2020, os papéis da empresa acumularem uma alta de 4,5%, ainda estão 30% abaixo do valor pré-pandemia.

    O Banco BTG Pactual mantém a recomendação de compras para os papéis, enxergando que há espaço para subirem dos atuais R$ 39,41 para R$ 47, o que representaria uma alta de quase 20%. “Mas o avanço da vacinação é o principal catalisador para a alta do preço da ação”, escreveram os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Recchia.

    Então, para superar o curto prazo, Rodgerson defende que o governo olhe com mais carinho para o setor. Ele diz que não é possível competir com empresas internacionais que estão recebendo uma injeção de dinheiro de governos –somente nos EUA, foram concedidos pelo governo US$ 50 bilhões em auxílio financeiro para evitar demissões e US$ 25 bilhões em empréstimos.

    E outro fator que atrapalha a companhia é a alta do dólar. Afinal, os custos de aluguel de aviões, assim como o combustível, são pagos em dólar. “O juro precisa subir um pouco”, diz ele.  A empresa também recontratou 800 dos 2.500 demitidos no início da pandemia.

    Tantos problemas não tiram o otimismo de Rodgerson. Ele dá um conselho aos brasileiros.

    Comprem passagem agora, pois os preços estão muito baixos. Em quatro meses, esses preços não serão mais realidade.

    John Rodgerson, CEO da Azul Linhas Aéreas

     

    A conferir se essa projeção positiva se tornará realidade.

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