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    Brasil e EUA definem juros em “super quarta” nesta semana: veja o que esperar

    Especialistas apontam que sinalizações dos bancos centrais serão mais importantes que as altas em si

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    Mais uma vez neste ano, as decisões de juros no Brasil e Estados Unidos ocorrerão no mesmo dia, quarta-feira (15), em uma data apelidada por investidores como “super quarta”, já que as duas definições devem mexer com o mercado.

    Entretanto, as atenções para as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve estão concentradas menos nas altas de juros em si, e mais nos comunicados que serão divulgadas após os encontros.

    O motivo é que o mercado já tem uma decisão quase consensual sobre os dois movimentos. Tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os juros devem subir 0,5 ponto percentual, uma aposta que foi reforçada com indicadores econômicos divulgados entre maio e junho.

    Por isso, especialistas consultados pelo CNN Brasil Business afirmam que o foco estará nas sinalizações dos dois bancos centrais sobre os próximos passos do ciclo de alta. Em relação ao brasileiro, sobre seu possível fim, e no caso norte-americano, sobre sua velocidade.

    No Brasil, o fim de um ciclo?

    O Copom começou a subir a taxa básica de juros, a taxa Selic, em março de 2021, colocando a economia brasileira como uma das primeiras dentre as maiores a iniciar um ciclo de alta de juros para combater uma inflação, em geral, com causas semelhantes pelo mundo.

    Mais de um ano depois, e com um recorde de 10 altas seguidas, a Selic saltou de 2% para 12,75% ao ano, e o mercado acredita que o Banco Central não deve parar por aí.

    A visão da maioria dos agentes financeiros é que o Copom optará por elevar a Selic em mais 0,5 ponto percentual, passando os juros para 13,25% ao ano. O grande mistério é se a autarquia sinalizará que vai parar por aí ou deixará a porta aberta para outra alta em agosto.

    Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, avalia que o dado de inflação de maio veio um pouco melhor que o esperado pelo mercado, mas que, na análise por componentes, ainda está “muito ruim”.

    “[Por isso] o mercado quer entender o que o Banco Central vai falar se vai parar, pelos sinais de melhora na inflação, ou se vai dar 0,5 p.p. e deixar o que vai fazer em aberto pela situação dos núcleos”.

    Ela aponta que, com um grau de disseminação da inflação acima de 70%, não seria prudente que o Copom fechasse a porta para uma possível alta em agosto dependendo do cenário inflacionário.

    Mesmo achando que essa não deveria ser a ação ideal, ela não descarta que o Banco Central já indique no comunicado ao fim da reunião que optou por encerrar o ciclo atual de alta.

    Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama, tem uma visão divergente. Ele acredita que o Banco Central deve indicar o fim do ciclo após a alta de 0,5 p.p. ou deixar em aberto a possibilidade de uma outra elevação futura, de 0,25 p.p.

    Ele vê a taxa de juros atual como “muito contracionista”, e defende que “talvez seja melhor ficar em uma taxa de 13,25% por mais tempo do que subir mais e precisar voltar mais cedo. Se fizer 13,25% e vai até o meio do ano que vem assim, caindo só no segundo semestre, faria mais sentido que ir além”.

    O economista ressalta que os efeitos das altas de juros possuem uma defasagem até impactarem na inflação, que costuma ser de nove meses a um ano.

    Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, o Banco Central deve sinalizar que encerrou o ciclo de alta, mesmo com apostas de uma elevação de 0,25 p.p. em agosto ganhando força.

    “Acho que 13,25% cumpre muitos dos objetivos. A taxa de juros vai estar positiva, a taxa real deve aumentar. Mas é tanta coisa recente que até a boa notícia do IPCA mais fraco gerou um sentimento ruim”, pondera.

    Entretanto, ele considera que a autarquia precisará fazer um bom trabalho de comunicação com o mercado. O motivo é que o IPCA de maio aparentou um pico na inflação, mas surgiram novas incertezas que podem piorar o quadro atual.

    “O governo tem feito um monte de medidas para controlar preços que têm custos fiscais, e isso deve entrar na comunicação do BC, em relação ao que pretendem fazer e como veem a questão lá para frente”, diz.

    O plano do governo federal de isentar impostos sobre combustíveis e compensar financeiramente estados que isentem tributos deve impactar as contas públicas em R$ 40 bilhões, e gerou temores no mercado sobre um possível descontrole fiscal e desrespeito ao teto de gastos, o que por consequência fez o dólar voltar a valorizar.

    “O problema é que o mercado lê que o governo resolveu jogar a inflação para frente, em 2023”, afirma Perfeito.

    Espírito Santo, da Órama, pondera que outro projeto sobre o tema, que estabelece um teto de 17% na cobrança de ICMS para combustíveis, deve reduzir a inflação em torno de 1,5 p.p., ajudando a dar um conforto ao Banco Central para encerrar o ciclo.

    Para 2023, porém, “as expectativas estão desancorando, então, o BC pode querer esperar, verificar se o que tem feito já está dando resultado ou vai um pouco mais para cima”.

    Já o plano de isenção de impostos até o fim de 2022 é visto por ele como “trocar a dor de cabeça. Você empurra o problema para o próximo ano, não com preço subindo, mas por expectativa que o lado fiscal será prejudicado, e a inflação é muito influenciada por isso”.

    Com isso, a medida cria um “dilema” para a autarquia, que precisará ser enfrentado. Ele espera que o tema seja abordado pelo Copom, como já foi enfatizado em outras reuniões, mas provavelmente não de forma explícita, reforçando apenas os riscos com uma desancoragem fiscal.

    Já Fontes acredita que o risco fiscal não deve aparecer muito no comunicado. “Por um lado tem toda a questão de alteração de ICMS, reajustes, mas os dados fiscais recentes têm mostrado melhora, então, o Banco Central pode se abster, não entrar nessa polêmica”.

    Os próximos passos do Fed

    Nos Estados Unidos, o quadro é outro. O Federal Reserve iniciou o ciclo atual de elevação de juros apenas em março deste ano. Desde então, os juros subiram do intervalo de 0% a 0,25% para 0,75% e 1% ao ano, enquanto a inflação se mantém no maior nível em quatro décadas.

    O Fed sinalizou explicitamente que pretende subir os juros em 0,5 p.p. tanto em junho quanto julho. O foco, portanto, deve ser em possíveis atualizações nessas projeções, englobando agora a reunião de setembro.

    André Perfeito observa que o dado de inflação divulgado na última sexta-feira (10), do Índice de Preços ao Consumidor (CPI), apontou que a inflação no país está muito persistente, e sem sinal de queda, diferente do caso brasileiro.

    “O Fed está tento que correr atrás para controlar a inflação, e deve tentar sinalizar isso pelo comunicado. O tom deve ser mais duro, porque não tem como ignorar mais o cenário. O BCE também não subiu juros, então eles vão precisar ser mais duros”.

    Segundo ele, o mercado já passou a esperar uma taxa em torno de 3,25% em 2022, podendo chegar até acima de 4% em 2023, um valor maior que a taxa neutra e, portanto, contracionista.

    Mesmo assim, ele não espera que o Fed reverta a posição de descartar altas de 0,75 p.p. “O perfil da diretoria atual não parece ser de ajustes mais fortes. Mas subindo de 0,5 p.p. em 0,5 p.p., é muita coisa, e tem também o corte no balanço, que tem um efeito forte”.

    O problema, avalia, é que a autarquia parece estar de “mãos atadas” para lidar com muitas das causas da inflação atual, como lockdowns na China e alta do petróleo com a guerra na Ucrânia.

    “A política monetária serve para controlar a inflação atual? Não sei. São várias questões que extrapolam a política monetária tradicional, aqui e lá. Mas o mercado vai continuar exigindo taxas maiores, porque não querem um prêmio negativo”, opina.

    Fontes, da Nord, acredita que o Fed não deve ser tão agressivo quanto o mercado está esperando, e buscará manter os juros no patamar neutro, entre 2% a 3%, como indicado anteriormente.

    “Se quer subir para 4% ou 5%, precisaria acelerar o passo, porque de 0,5 p.p. em 0,5 p.p. demoraria muito. Acho que deve continuar nessa toada de 0,5 p.p. a cada reunião, mas em vez de falar de duas, já avise que vai seguir nisso para mais uma [em setembro]”, diz.

    Nesse sentido, ela afirma que a possibilidade do Fed pausar o ciclo de alta em setembro, como avaliado pelo mercado anteriormente quando a inflação em abril desacelerou, não deve ocorrer, em especial após o dado de inflação de sexta-feira, que indiciou que o pico ainda não foi atingido.

    Ela acredita que existe hoje na autarquia um medo de que uma mudança de discurso para um tom mais duro provoque quedas muito fortes no mercado, por isso a decisão deve ser de manter a estratégia mais cautelosa, indicando apenas os movimentos para as próximas duas reuniões.

    Na visão de Espírito Santo, o Fed errou ao considerar que a inflação seria transitória, e acabou ficando refém dela, em um nível muito maior que o esperado, demandando uma mudança de discurso.

    Ele também descarta uma pausa no ciclo em setembro, e acredita que, no lugar dela, possa ocorrer uma elevação de 0,25 p.p., e espera que os juros terminem o ano na casa dos 3%.

    O economista acredita que o dado do CPI de maio será considerado pela autarquia mesmo não sendo o Índice das Despesas de Consumo Pessoal (PCE), que é o indicador referência para o Fed.

    “É um número que acende a luz, um alerta, e os mercados já estão refletindo isso”, diz.

    Para ele, o momento atual demanda cuidado, e o Fed deve ser cauteloso para evitar um “grande maremoto” nos mercados financeiros.

    “É um grande medo. As bolsas já estão caindo há um bom tempo e podem cair mais, e há o risco de uma crise financeira, daí a necessidade de cautela. Precisa ter cuidado com as palavras, no comunicado, para não trazer mais turbulência e despertar uma crise”, afirma.