Bike sem crise? Tembici anuncia rodada de investimento com aporte de R$ 270 mi
Enquanto o mercado de startups lida com a crise causada pela Covid-19, empresa de micromobilidade expandirá sua atuação no Brasil com mais frotas e tecnologia
A crise provocada pelo novo coronavírus tem mudado os rumos e planos de diversas empresas no mundo todo. Sua chegada repentina e propagação avassaladora – sem precedentes ou prazo para terminar – fez com que muitas companhias pisassem no freio, estudassem o caixa para, assim, conseguir estruturar o ‘novo normal’ sob efeito da Covid-19.
Na contramão de toda a crise no mercado, a startup de micromobilidade Tembici anunciou, nesta quarta-feira (03), uma nova rodada de investimento com captação de US$ 47 milhões – algo como R$ 270 milhões.
Liderada por Valor Capital Group e Redpoint eventures, a rodada “b” de aporte também contou com a participação inédita do International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, assim como a Joá Investimentos, que já é investidora da startup e conta com o apresentador Luciano Huck como dono.
O montante milionário angariado em meio à pandemia veio como um aceno às oportunidades do setor de mobilidade no Brasil, que ainda enfrenta diversos desafios e entraves quando comparados a mercados já desenvolvidos no segmento, como Toronto, Bogotá e Paris. Mais que isso: enquanto companhias como a Grow (fusão entre a mexicana Grin om a brasileira Yellow) e a Lime, que encerrou suas operações no Brasil, a Tembici expandirá sua frota nas seis cidades brasileiras em que está presente; em Buenos Aires, na Argentina; e em Santiago, no Chile.
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Além disso, a companhia aportará em bikes elétricas – uma tendência do mercado internacional –, assim como em novas tecnologias para aumentar a base de dados para pesquisa em temas de mobilidade pública. “Atualmente, temos uma demanda maior que a oferta. A ciclovia da Avenida Faria Lima, por exemplo, aumentou três vezes nos últimos anos”, diz Tomás Martins, CEO e co-fundador da Tembici.
“Agora, com o pós-pandemia, a tendência é que o mercado de transportes alternativos, como o de bike, cresça. Tanto pela questão financeira, por ser mais barato, quanto pela questão de saúde”, afirma.
Fundada em 2010 por Tomás Martins e Mauricio Villar, a Tembici ficou conhecida pelas bikes laranjas, em um projeto patrocinado pelo banco Itaú. Com um faturamento superior à R$ 100 milhões – e um crescimento de 50% em 2019 – a empresa agora pretende alçar novos ares com a bike elétrica em suas praças.
O novo aporte também ajudará a implementar o movimento endossado pela Organização Mundial da Saúde, que passou a recomendar a bicicleta como principal modal de transporte no mundo pós-pandemia.
Na Inglaterra, o governo britânico, por exemplo, anunciou investimento de £ 2 bilhões em iniciativas para incentivar o uso da bike e da caminhada. Já em Paris, além de aportes para criação de novas ciclovias, mecânicas de bicicletas foram consideradas serviços essenciais e os habitantes receberão vouchers do governo de € 50 para consertarem suas bicicletas – que ficaram sem uso durante o isolamento social provocado pelo novo coronavírus.
“A bicicleta se tornou, durante a pandemia, mais do que um meio de transporte. Vencemos a etapa de locomoção e passamos a ser um instrumento de trabalho, usado por muitos entregadores de delivery”, explica Martins. “Agora, precisamos evoluir na questão de infraestrutura, que é muito dura, assim como em termos de políticas públicas bem-sucedidas, como a redução de velocidade, convivência dos modais no mesmo viário.”
Além do entrave em questões de infraestrutura – que dependem de construção de malhas cicloviárias – o executivo aponta os impostos como uma questão preocupante para a expansão do setor. “Temos no Brasil uma proteção de mercado. Isso porque, cobrar um imposto de 35% para a importação para a bicicleta é um absurdo”, explica. “Isso vai contra o interesse da sociedade e de um sistema de mobilidade mais democrático.”
Pedalando na direção contrária à crise
Como um solavanco no mercado que vinha crescente, a crise provocada pelo novo coronavírus tem movimentado o mercado de startups. Para muitas, negativamente.
Nos dois primeiros meses do ano, as startups no Brasil já haviam recebido US$ 317 milhões em 39 aportes distintos. Isso representava um crescimento de quase 50% em relação ao mesmo período de 2019. Em março, porém, a chegada da pandemia no país fez uma nova realidade surgir: o montante do primeiro trimestre foi 3% menor do que o do ano passado. A tendência é que a conta piore bastante daqui para frente.
Empresas do setor de micromobilidade também sentiram os efeitos. A Grow, por exemplo, anunciou, no dia 2 de junho, a demissão de metade do corpo de funcionários no Brasil. Em nota, a companhia afirmou que foi duramente afetada pela crise – principalmente pelo isolamento social decretado no país. A empresa, no entanto, já enfrentava dificuldades antes da pandemia.
É o caso da Lime, que deixou sua operação em 12 mercados ao redor do mundo, incluindo o Brasil, em janeiro de 2020. A crise exposta pelas duas companhias demonstra a dificuldade que o mercado que a micromobilidade enfrenta, não apenas no Brasil, mas no globo todo.
Na China, onde a ‘onda’ de patinetes e bicicletas explodiu, com o nascimento de diversas empresas de mobilidade, a crise bateu à porta em 2018 e teve como marca a cena de inúmeras bicicletas empilhadas e abandonadas com as empresas falidas.
No caso da Tembici, a participação de patrocinadores, como o próprio Banco Itaú, faz com que o negócio da empresa seja mais sustentável em meio à crise e que fique mais fácil atravessar desde os entraves impostos pelo mercado até a própria pandemia.
Em 2019, por exemplo, as bicicletas da empresa realizaram 22 milhões de viagens, mais de 80 mil por dia – um crescimento de 106% no número de viagens, quando comparado com 2018. Agora, a empresa se prepara para o ‘novo normal’, com expectativa de aumento no uso das bikes com o fim da pandemia. “É interesse da sociedade termos modais mais democráticos de locomoção.”
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