Biden mantém comando do BC dos EUA: entenda o que isso significa para a economia
Alta da inflação influenciou a decisão do presidente de continuidade em política monetária, segundo analistas
Ao escolher manter Jerome Powell em seu cargo, Joe Biden provou que aprendeu uma lição valiosa com o ex-presidente Barack Obama sobre a importância da continuidade ante o partidarismo durante tempos econômicos desafiadores.
O atual presidente do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, foi indicado para o cargo pelo ex-presidente Donald Trump em 2017.
Assim como Obama manteve Ben Bernanke no cargo após a Grande Recessão de 2008, apesar de ter sido indicado pelo republicano George W. Bush, Biden reconheceu que faz sentido manter Powell para que ele possa continuar no comando da recuperação pós-Covid.
Lael Brainard, uma atual governadora do Federal Reserve e ex-funcionária do Tesouro no governo Obama, foi considerada uma opção forte para substituir Powell como presidente do Fed.
Biden a indicou, em vez disso, para ser a vice-presidente da instituição, potencialmente configurando-a para assumir a presidência em 2026 após o segundo mandato de Powell, se for aprovado pelo Senado, expirar.
Afinal, Brainard é vista, especialmente por democratas progressistas que se opõem a Powell, como alguém que se concentrará mais em questões como desigualdade de renda e mudança climática, e não apenas nas obrigações oficiais do Fed de atingir o pleno emprego e a estabilidade de preços.
As preocupações com a negociação de ações, que levaram três funcionários do Fed a renunciarem, também foram consideradas um fator que aumentaria as chances de Brainard de suceder Powell.
Mas o aumento dramático da inflação nos últimos meses pode ter mudado o cálculo.
“Se a inflação é um passivo político para Biden, isso favorece a continuidade no Fed”, disse Ed Campbell, gerente de portfólio e diretor administrativo da PGIM Quantitative Solutions.
Campbell argumentou que o mercado veria Brainard como sendo ainda mais dovish, ou seja, inclinada a manter as taxas de juros mais baixas por mais tempo do que Powell.
Wall Street quer um “falcão” que combata a inflação
Uma política dovish pode não ser o que o mercado está procurando agora que o Fed está em um processo de redução do programa de compras de títulos que ajudou a manter as taxas de longo prazo baixas.
Muitos investidores também esperam que o Fed comece a aumentar as taxas de juro de curto prazo, que estão em zero desde o início da pandemia, no próximo ano para combater a inflação.
Biden deixou claro que a alta de preços é uma preocupação econômica premente para seu governo.
“Tudo, de um galão de gasolina a um pão, custa mais e isso é preocupante”, disse Biden no início deste mês. “Muita gente continua insegura sobre a economia e todos sabemos o porquê. As pessoas veem preços mais altos”.
Com isso em mente, escolher Brainard em vez de Powell poderia ter chateado os democratas mais moderados, assim como os republicanos de que Biden precisará para garantir que sua escolha seja confirmada no Senado.
“As chances de Brainard estavam subindo quando muitos pensaram que era presumivelmente melhor não apertar as taxas de juros muito rapidamente”, disse Daniela Mardarovici, co-diretora de renda fixa multissetorial da Macquarie Asset Management nos Estados Unidos. “Os comentários de Biden sobre a inflação [mudaram] esse equilíbrio”.
Há outra razão pela qual Powell é uma escolha mais bem-vinda agora do que Brainard. Ninguém menos que Janet Yellen, a atual secretária do Tesouro que perdeu o cargo de presidente do Fed quando o ex-presidente Trump decidiu nomear Powell em vez de dar a ela um segundo mandato, elogiou seu substituto.
Yellen elogiou Powell em uma entrevista para a CNN em outubro, dizendo que “a regulamentação das instituições financeiras foi fortemente fortalecida” sob a supervisão do atual presidente do Fed.
Mardarovici disse que “não é insignificante” que a amplamente respeitada Yellen tenha apoiado Powell. Isso também pode ter ajudado a influenciar o pensamento de Biden.
*(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original, em inglês)