Banco Central avisa que não quer correr com os juros
Copom aumentou a taxa Selic em 0,75 ponto nesta quarta-feira, para 3,5% ao ano
Já faz um tempo que a decisão sobre os juros no Brasil está mais ligada ao movimento do que da taxa em si. Por isso, a novidade da reunião do Copom não é a alta para 3,5% ao ano. A notícia está na sinalização do que vem por aí, em que ritmo e qual intensidade.
Vem juros mais altos, mas Roberto Campos Netto e sua equipe revelam no comunicado oficial que não estão com tanta pressa como alguns economistas esperavam. Como já disse um ex-BC do início do milênio, política monetária é 70% arte e 30% matemática. Faz sentido pensar que esta relação convive hoje com uma dose maior de risco.
“Neste momento, o cenário básico do Copom indica ser apropriada uma normalização parcial da taxa de juros, com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica. O comitê enfatiza, entretanto, que não há compromisso com essa posição e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”, diz o documento oficial do Comitê.
Nos recados oficiais do BC, cada palavra importa. E no parágrafo acima, há várias que chamam atenção e corroboram a serenidade do Copom. A sequência “Neste momento”, “normalização parcial”, “não há compromisso”, “passos futuros poderão ser ajustados” conta que o próximo movimento na taxa não tem intensidade garantida.
Os diretores do BC justificam que a atividade econômica está em “evolução mais positiva do que o esperado”. Eles insistem que a pressão sobre os preços internos provocada pela alta das commodities é temporária, e adicionam um rabicho de frase prometendo manterem-se atentos!
A meta de inflação deste ano já era. Mexer nos juros agora praticamente não vai gerar mais efeitos no comportamento dos preços até final do ano. Até por isso, BC assume que IPCA pode fechar 2021 em 5,1%. Nos cálculos do Copom, se a Selic subir para 5,5% nos próximos meses e chegar a 6,25% em 2021, a meta de inflação do ano que vem (3,5%) será cumprida sem folga, ficando em 3,4%.
Não há consenso entre os economistas sobre esta parcialidade dos integrantes do Copom. Tem uma turma bem preocupada com o comportamento dos preços e a dose de risco assumida pelo BC com ação mais “parcial”. Outra turma se preocupa com ritmo de retomada prejudicado pela segunda onda da pandemia e espera uma queda maior do dólar – fonte de pressão inflacionária.
O que todos concordam é que a briga para furar a blindagem das contas públicas, travada nos plenários do Congresso Nacional, segue sendo a maior ameaça ao acerto do BC. Roberto Campos Neto está entre o que ele não controla, como o preço de commodities e o que ele também não controla, o viés político nas decisões importantes.
Uma curiosidade para terminar. O comunicado do BC atendeu aos predicados da lei que acabou de instituir a autonomia da autoridade monetária. Apareceu o inédito compromisso com os efeitos esperados pela decisão da taxa de juros.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de estabilização de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.