Avião comercial usado da Embraer ganha ‘banho de loja’ e vira jato semiprivado
Segmento de aeronaves com interiores semiprivados vem ganhando força nos EUA durante a pandemia
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Avião que reergueu a Embraer no fim da década de 1990, o jato regional ERJ 145 ainda é um importante ativo na aviação comercial dos Estados Unidos. Em serviço há mais de 20 anos, a aeronave brasileira agora desponta como a preferida das empresas aéreas do segmento “semiprivado”. Já ouviu falar desse mercado?
Embora pareça uma ideia nova, os jatos semiprivados existem há algum tempo. São aviões comerciais adaptados com cabines executivas ou com modificações que aumentam o nível de conforto e privacidade dos passageiros. As empresas nesse segmento ainda oferecem a comodidade do embarque e desembarque em terminais executivos ou opções de voos fretados. Com a pandemia, a busca por esse tipo de serviço disparou nos Estados Unidos.
Acompanhando essa tendência, a Embraer apresentou, nesta semana, uma configuração de cabine semiprivada para jatos ERJ 145 usados. O processo transforma modelos comerciais (com até 50 assentos) numa espécie de avião semi-executivo, com opções de interior com 16 a 28 assentos. Outras modificações são o piso plano e a remoção dos compartimentos de bagagem superiores.
De acordo com a fabricante, a frota de aviões com interiores semiprivados dobrou em dois anos, passando de 21 aeronaves em 2019 para mais de 40 em 2021. “Metade desses aviões são modelos da Embraer. As principais oportunidades estão nos EUA e na Europa, embora outras regiões possam apresentar um potencial crescente em breve”, disse Marsha Woelber, diretora global de Suporte ao Cliente de Aviação Executiva e Pós-Venda da Embraer Serviços & Suporte.
A principal companhia norte-americana no segmento semiprivado é a JSX, que possui uma frota com mais de 20 jatos ERJ. Os interiores dos aviões operados pela empresa contém modificações simples, como o bloqueio dos assentos centrais e alterações de acabamento. Outros nomes desse nicho nos EUA são a Surf Air e a estreante Aero, patrocinada por Garrett Camp, co-fundador da Uber. Essas empresas vendem bilhetes por canais tradicionais, como uma companhia aérea normal, e os preços vão de US$ 100 a mais de US$ 1.000, dependendo da rota.
A conversão da aeronave requer um certificado de tipo suplementar (STC), que ainda será desenvolvido pela Embraer. O STC é uma validação que atesta a modificação no interior do avião e o libera para atividades comerciais. De acordo com a empresa, todos os ERJ 145 podem passar pela adaptação.
Sobre a possibilidade de modificar outros modelos da família ERJ, a diretora da Embraer afirmou que o “STC que está em desenvolvimento é apenas para o ERJ 145. Mas, caso haja interesse de mercado, poderemos desenvolver também um STC para o ERJ 135. O processo de conversão completo pode ser realizado nos Centros de Serviços próprios da Embraer.”
O avião da retomada da Embraer
A série ERJ (de Embraer Regional Jets) foi a primeira família de jatos comerciais da Embraer, introduzida no mercado em 1997, começando com o ERJ 145 para até 50 ocupantes. Mais adiante, a fabricante lançou as versões ERJ 135 (37 assentos) e o ERJ 140 (44 assentos). Até então, a fabricante brasileira tinha produzido somente aviões de passageiros impulsionados por motores turboélices, casos do Bandeirante e do Brasília.
O projeto do ERJ era cogitado pela Embraer desde o fim dos anos 1980, mas seu desenvolvimento avançou de fato somente depois da privatização da empresa, em 1994. O primeiro voo da aeronave ocorreu em 11 de agosto de 1995. Pouco tempo depois, o jato brasileiro já acumulava centenas de pedidos, a maioria de empresas regionais dos EUA –Passaredo e a extinta Rio Sul foram os únicos operadores comerciais da série ERJ no Brasil.
O principal mercado do ERJ sempre foi o setor de aviação regional dos EUA, o maior do mundo nessa área. As aeronaves são operadas, principalmente, por empresas terceirizadas que voam em nome de outras grandes companhias americanas. Até a chegada dos modelos brasileiros, o principal representante dessa categoria eram os jatos CRJ, da canadense Bombardier.
Entre 1997 e 2011, a Embraer entregou 890 jatos comerciais da família ERJ (108 ERJ 135, 74 ERJ 140 e 708 ERJ 145). Considerando todas as variantes, o número sobe para 1.231 aeronaves produzidas até 2020. A base do ERJ também serviu para a criação do primeiro jato executivo da fabricante brasileira, o Legacy 600, lançado em 2002. A aeronave (assim como o Legacy 650) usa a mesma plataforma do modelo comercial ERJ 135.
A conta ainda inclui unidades adquiridas por forças armadas. A Embraer produziu diferentes versões do ERJ para uso militar, incluindo modelos ISR (sigla em inglês para Inteligência, Vigilância e Reconhecimento). A Força Aérea Brasileira (FAB), por exemplo, opera o exótico E-99 (baseado no ERJ 145), um “avião-radar” para operações de alerta e vigilância aérea. Esse avião também foi exportado para Índia, Grécia e México.
Novas oportunidades para o ERJ
Dos mais de 450 jatos ERJ em operação, a maior parte (mais de 300) continua em serviço nos Estados Unidos conectando aeroportos de pequenas cidades a grandes hubs. A empresa com a maior frota é a CommutAir, regional que voa com a marca United Express, com mais de 60 jatos ERJ 145. Outros destaques são Piedmont Airlines e Envoy Air, com mais de 100 jatos voando pela American Eagle.
Com muitos anos de serviço pela frente –os aviões mais novos têm 10 anos– os ERJ seguem insubstituíveis em rotas de baixa densidade nos EUA e também encontram refúgio em frotas de pequenas companhias aéreas na África, Oriente Médio e Ásia.
O segmento de jatos comerciais pequenos, porém, perdeu força nos últimos anos. O aumento no preço dos combustíveis reduziu a rentabilidade de jatos com menos de 100 assentos em rotas curtas e médias. Por outro lado, era viável a utilização de jatos maiores.
Esse movimento no mercado levou a Embraer ao projeto dos E-Jets, introduzido em 2004 e que hoje soma mais de 1.500 unidades entregues, repetindo a história de sucesso do versátil ERJ.