Reserva de emergência: 8 investimentos líquidos que rendem acima da poupança
Crise do coronavírus escancarou a importância de formar um colchão para imprevistos. Aplicações com esse fim precisam ser seguras
Ter uma reserva de emergência é um dos conselhos mais repetidos pelos planejadores financeiros. Em tempos de coronavírus, em que muita gente perdeu renda, a importância desse clichê ficou óbvia: quem tem algum dinheiro guardado passa com mais tranquilidade pela turbulência, e não precisa se endividar para pagar as contas.
Os especialistas recomendam que esse colchão seja suficiente para cobrir, no mínimo, de três a seis meses de custos, que é o tempo médio da recolocação profissional. E ele precisa expressamente estar em algum investimento que tenha segurança e liquidez, ou seja, que possa ser resgatado a qualquer momento.
Na cabeça de muitos brasileiros, essas duas características podem soar como sinônimo de caderneta de poupança – e ela é, sim, uma das opções. Mas há outras que remuneram melhor.
Com a taxa básica de juros, a Selic, nos atuais 3,75% ao ano, a poupança rende 2,63% ao ano. E o mercado de renda fixa tem hoje CDBs, letras de câmbio e fundos com liquidez diária que possibilitam ganhos acima desse patamar (até 4% ao ano) – mesmo após o pagamento do imposto de renda, isento no caso da caderneta.
É o que mostra levantamento do buscador de investimentos Yubb, feito a pedido do CNN Brasil Business. Confira, a seguir, as opções:
A lista levou em conta títulos de renda fixa com liquidez diária oferecidos em plataformas digitais no dia 1º de abril. Para cálculo do desconto do IR, o Yubb considerou que o investidor manteve o investimento até o vencimento.
Apesar de renderem mais do que a poupança, nenhum desses produtos vai fazer seu patrimônio se multiplicar, porque não são (nem podem ser) arriscados. E a máxima dos investimentos é: se o ganho for garantido, também será baixo.
“O objetivo da reserva de emergência não é você ganhar dinheiro, mas ter um valor certo e à mão, com disponibilidade imediata para usar quando tiver um imprevisto”, diz o planejador financeiro Caio Torralvo, da Planejar.
Ele lembra que o colchão não serve apenas para remediar “catástrofes” como a pandemia do coronavírus, mas para qualquer situação inesperada, como a quebra da geladeira ou do carro, ou até uma doença ou demissão. É necessário, mas deixar de gastar sem ver as economias crescerem significativamente dói, e é por isso que tanta gente não consegue formar reserva e é pega desprevenida nas crises, afirma Torralvo.
“Ser precavido implica renunciar ao consumo e à rentabilidade e isso é difícil de bancar. Principalmente num cenário em que os investimentos mais arrojados estavam tão atrativos, (por que a renda fixa acompanha a taxa básica, que está na mínima histórica).”
Vantagens e desvantagens
Cada uma das opções para formar reserva de emergência tem vantagens e desvantagens, por isso é preciso pesquisar e analisar bem antes de investir em alguma.
A poupança é simples, de fácil acesso e é isenta de imposto de renda – não por acaso é a aplicação favorita dos brasileiros –, mas só rende quando os aportes completam um mês, no aniversário. Isso quer dizer que se os valores forem sacados antes desse prazo, não serão corrigidos.
Sobre todos os demais incide o IR e a cobrança da alíquota é regressiva, ou seja, quanto mais tempo o dinheiro fica investido, menor a mordida do Leão. Além disso, se os recursos forem retirados em menos de 30 dias, é cobrado ainda o imposto sobre operações financeiras (IOF), também de maneira regressiva, sobre os rendimentos.
Ao contrário da poupança, os CDBs têm a vantagem de render todos os dias, mas para encontrar boas taxas é preciso negociar com o gerente do banco ou procurar plataformas alternativas. Esses títulos, quando emitidos pelos grandes bancos de varejo, raramente pagam acima de 100% do CDI (taxa praticada nos empréstimos entre instituições financeiras e que é próxima à Selic). Mesmo assim, continuam sendo indicados para o colchão financeiro.
Aos que têm dificuldade de calcular a rentabilidade líquida, ou seja, após os descontos, Myrian Lund, planejadora financeira e professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), simplifica: “O CDB tem que pagar acima de 90% do CDI. Abaixo disso, não vale a pena, melhor ir para a poupança”. Importante destacar que, para reserva de emergência, só servem os CDBs de liquidez diária – há outros que pagam taxam maiores, mas só se o investidor mantiver a aplicação até o vencimento.
Já as LCs são os títulos de dívida das financeiras e funcionam de forma muito parecida aos CDBs. “A gente chama de CDB das financeiras. E como essas instituições oferecem maior risco e têm mais dificuldade de penetração no mercado, acabam oferecendo rentabilidade maior como chamariz para os investidores”, explica Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb.
Apesar de mais arriscado do que os CDBs, o investimento nas LCs é seguro porque, até a quantia de R$ 250 mil por CPF, é coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Mas Myrian Lund faz um alerta: se a financeira quebrar, da data da falência até a da efetiva cobertura pelo FGC, o investimento não rende nada.
Em situações recentes, essa devolução foi feita em poucas semanas, mas pode levar seis meses, segundo a professora.“Recomendo a LC para diversificar a reserva. Coloca pouquinho ali e fica com a taxa média melhor”, diz.
Já os fundos Tesouro Selic de taxa zero são fundos de renda fixa que investem estritamente nesse título do governo – o único que permite resgate diário sem perdas e, portanto, também o único recomendado para reserva de emergência. São mais vantajosos do que aplicar no título em si, por meio do Tesouro Direto, porque neste último caso é preciso pagar uma taxa obrigatória de 0,25% à bolsa pela custódia do papel (o que baixa os rendimentos para algo em torno de 93% do CDI, segundo Myrian).
Outra possibilidade, segundo os especialistas, é investir em fundos DI. “Mas desde que a taxa de administração seja no máximo de 0,5%, e os bancos só oferecem esse percentual quando você é um cliente que já tem um alto valor aplicado”, pondera Myrian.
Velha poupança ainda rende mais
As comparações citadas só valem para a nova poupança, não para a velha. A distinção existe porque as regras da caderneta mudaram. Até 3 de maio de 2012, os depósitos sempre rendiam 0,5% por mês (ou 6,17% ao ano) mais a Taxa Referencial (TR), que está zerada.
Depois dessa data, esse cálculo passou a valer apenas quando a Selic está acima de 8,5% ao ano. Quando ela fica igual ou abaixo de 8,5% (como agora), o rendimento é menor: de 70% da taxa básica. Por isso os atuais 2,63% ao ano. Os depósitos feitos antes da alteração, porém, continuam sendo corrigidos pela regra antiga.
Portanto, se você ainda tem dinheiro na “velha poupança”, a recomendação é deixá-lo por lá.
“Nunca pensei que ia defender a poupança. Mas com os juros baixos a caderneta velha tem tido uma rentabilidade superior e neste momento é interessante”, diz Pascowitch, do Yubb.