Stress econômico previsível
Taxa de juros real pagas pelo Tesouro Nacional beira 7% ao ano
A economia brasileira sofre sinais de stress financeiro. Nossa taxa de câmbio está ao redor de 15% mais desvalorizado que o valor de equilíbrio indicado pelas contas externas.
A taxa de juros real pagas pelo Tesouro Nacional está beirando 7% ao ano, o que coloca a trajetória do nosso endividamento em dinâmica insustentável (a conta de padaria para estabilidade fiscal é “r-g-d=0”, juros reais menos crescimento real menos superávit primário).
Nossa bolsa de valores está ranqueada entre as mais baratas do mundo. Nosso Banco Central (BC) continua seu ciclo de alta de juros, agora projetados para entregar uma Selic ao redor de pelo menos 13%, o que ainda assim não deve colocar a inflação perto da sua meta nos próximos anos.
É muito difícil imaginar uma taxa de crescimento robusta com esse stress financeiro – na realidade, é muito mais fácil imaginar que esse stress se deslocará para uma crise.
Como chegamos nessa situação? Tudo sempre acaba sendo um mix de, citando Machiavelli, virtude e fortuna.
Mas no caso atual, diferente de outros momentos semelhantes, me parece que era tudo previsível.
Era bastante previsível que uma combinação de forte impulso fiscal criado pela PEC da Transição com um mercado de trabalho apertado e uma economia crescendo além do seu potencial ia fortemente constranger a capacidade do Banco Central cortar a taxa de juros.
Era bastante previsível que ficar batendo boca com o BC, estressando o mercado de câmbio, criaria outro vetor inflacionário que, dada a condição da economia, forçaria um novo ciclo de alta de juros.
Era bastante provável – se não bastante previsível – que a vitória de Donald Trump iria criar um ambiente global hostil aos mercados emergentes, com restrições de fluxos de capital e alta global do dólar, elevando os riscos para economias sofrendo com fragilidades fiscais.
Assim, um governo com senso estratégico como visão global teria feito os necessários ajustes antes da eleição de Trump.
Um governo com senso estratégico também teria avaliado se não seria melhor nomear ao Banco Central alguém que gozasse de plena e indiscutível credibilidade junto ao mercado financeiro para não gerar mais um vetor de incerteza.
Mas agora estamos aqui, previsivelmente.