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    Thais Herédia
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    Thais Herédia

    Passou pelos principais canais de jornalismo do país. Foi assessora de imprensa do Banco Central e do Grupo Carrefour. Eleita em 2023 a Jornalista Mais Admirada na categoria Economia do Jornalistas & Cia.

    Análise: Harmonia entre políticas fiscal e monetária acabou antes de começar

    Com crescimento forte e inflação em alta, BC terá que subir mais os juros

    O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, de 0,9%, confirma que atividade brasileira roda acima da capacidade de oferta, acentuando risco inflacionário.

    O resultado, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (3), também corroborou a força do consumo das famílias no ritmo da economia, efeito do emprego em alta, mas, especialmente, dos ganhos de renda acima da inflação via gastos públicos.

    Para responder a esse quadro de aquecimento com baixo desemprego, alta da renda acima da produtividade e despesa pública elevada, o Banco Central ficará pressionado a aumentar a dose dos juros para evitar disparada dos preços.

    E assim, mantém-se no Brasil o descasamento entre a direção da politicas fiscal e monetária. Enquanto uma, a fiscal, segue o rumo expansionista, mesmo que entre numa intensidade menor a partir de 2025, a outra, monetária, terá que ser mais contracionista com a taxa de juros.

    Aquela harmonia desejável na condução da economia do país, terminou antes de começar.

    Em fevereiro de 2023, há apenas dois meses no cargo de ministro da Fazenda, Fernando Haddad fez uma defesa enfática dessa harmonia entre o governo e o Banco Central.

    “É como se fosse um organismo com 2 braços, que têm de trabalhar juntos em proveito do mesmo objetivo”, disse o ministro.

    O “mesmo objetivo” deveria ser crescimento sustentável com inflação controlada e estabilidade econômica, o que não parece ser a situação atual.

    Em algum momento no início do ano, chegou-se a cogitar uma chance desse desencontro entre BC e Fazenda ser superado, mas não passou de uma esperança.

    O pacote fiscal apresentado por Haddad na semana passada provocou uma nova onda na crise de confiança dos agentes econômicos sobre a capacidade do governo em controlar a dívida pública.

    O dólar ultrapassou a barreira dos R$ 6 e resiste nas alturas enquanto a incerteza não dissipa.

    A equipe econômica faz um esforço para explicar as medidas que mudam a trajetória das despesas públicas, mas pelo que se sabe até aqui, a economia de R$ 70 bilhões em dois anos prometida pelo governo não aparece nas contas de economistas do mercado e de especialistas em contas públicas.

    Na próxima semana, o Copom faz a última reunião do ano, a última também com Roberto Campos Neto na cadeira de presidente.

    Na ponta do lápis, a conjuntura pede elevação de 0,75 ponto percentual, dos atuais 11,25% para 12% ao ano. Um movimento considerado muito forte e que não acontece desde maio de 2022, quando o Copom subiu os juros em 1 pp, para 12,75%.

    Entre março de 2021 e junho de 2022, o Comitê promoveu uma das sequências mais fortes de elevação da Selic em muitos anos.

    Foram três altas de 0,75 pp, entre março e junho de 2021, dois movimentos de 1 pp entre agosto e setembro, quatro elevações de 1,50 pp entre outubro e fevereiro de 2022, e mais duas altas de 1 pp entre março de maio daquele ano.

    Lá nos últimos dois anos do governo Bolsonaro, como agora no terceiro mandato de Lula, a ideia de ganho político com a expansão fiscal pesou mais nas escolhas dos governantes.

    E tudo indica que vai sobrar para o “braço” do BC, mais uma vez, carregar sozinho o fardo de direcionar a economia para longe do descontrole inflacionário.

    A atrofia no “braço” de Fernando Haddad não pode durar muito tempo sob risco do país jogar fora os ganhos de capacidade de crescimento e investimento que alcançou depois das reformas promovidas depois da recessão provocada por Dilma Rousseff no biênio de 2015/16.

    Nunca é demais lembrar que lá, como agora, a convicção de que “gasto é vida”, foi o “braço” que empurrou o país para a crise.